Lydia.
Eu desci do ônibus completamente dolorida. Dormi a viagem quase toda e, como consequência de toda essa preguiça, eu mal conseguia sentir os meus braços. Comecei a andar devagar enquanto pensava em como eu iria achar esse tal garoto. Eu nunca tinha pensado muito sobre isso, mas agora que sou eu que tenho que encontrar um completo desconhecido e levar ele até a academia, eu estou começando a achar que os anjos deveriam ter um sistema de GPS.
A minha vida seria muito mais fácil, até porque eu não tenho a menor ideia de por onde começar a procurar o menino. Eu não sei nada sobre ele, não sei nem o seu nome completo. A única coisa que eu sei sobre ele é que ele mora em algum lugar de East L. A. Eu acho que a minha melhor opção é começar procurando lá.
Só para deixar o meu dia ainda melhor, começou a chover, e eu achando que em Los Angeles fazia sol durantes os 365 dias do ano. Não que eu tenha algo contra a chuva, por favor, eu moro em Oregon, o estado parece mais um chuveiro. Entretanto, quando você só tem uma roupa limpa, nenhum lugar para dormir, e uma dor de cabeça que está começando a ficar forte, a última coisa que você quer que aconteça é chover.
Eu sentei em um ponto de ônibus que pelo menos era coberto. Não era bem assim que eu queria estar passando o meu dia. Eu poderia estar na escola, tomando café da manhã, ou então matando aula com a Emma e o Danny. Xinguei mentalmente, e talvez um pouquinho em voz alta, a minha diretora por ter me mandado nessa busca e também esse garoto idiota que não sabia o que ele era. Sério, que tipo de pessoa não percebe que é um anjo?
Não é como se nós fossemos idênticos aos seres humanos normais. Somos mais rápidos, mais fortes, temos sonhos estranhos e somos caçados por criaturas horrorosas. Como esse menino conseguiu ficar vivo até o dia de hoje? Se ele não percebeu que existem coisas perseguindo ele, ou ele é muito sortudo ou é completamente maluco.
Sabe quem mais estava sendo julgada como maluca? Eu! Por que? Pelo simples fato de que eu comecei a falar sozinha no meio do nada. E agora as pessoas que passam por mim ficam encarando como se eu fosse uma atração de circo. Ótimo! Eu virei a louca do ponto de ônibus que está usando calça jeans escura, bota preta que vai até acima dos joelhos, e regata da mesma cor da bota no meio de uma das cidades mais quentes dos Estados Unidos, e além de estar usando bota no forno que é a cidade de Los Angeles, ainda fala sozinha enquanto espera a chuva passar. Esse dia está ficando cada vez melhor.
- Você quer ajuda querida? - Uma senhora de idade considerável se aproximou de mim sem eu perceber (pontos pra ela, isso raramente acontecia comigo). Ela me olhou com olhos que, ao mesmo tempo, passavam uma sensação de pena e um pouco de raiva, como se ela estivesse muito determinada em falar comigo. Achei estranho.
- Não eu estou bem. Só esperando a chuva passar. - Eu respondi, tentando ao máximo parecer educada. Não sei se você já percebeu mas eu não sou muito simpática, pelo menos não com pessoas que eu não conheça.
- Bom, - A senhora voltou a falar. Meu Deus como essa mulher era insistente! - Eu acho que você está com sorte, parece que a chuva está diminuindo.
E não é que era verdade. A chuva agora não passava de uma leve garoa, mas o calor insuportável continuava o mesmo, pelo menos eu não teria que andar por Los Angeles debaixo de chuva, isso já seria demais até pra mim. Levantei do banquinho do ponto de ônibus (muito desconfortável por sinal, estou pensando seriamente em mandar um e-mail para a prefeitura reclamando do estado dos pontos de ônibus, sim você leu certo, eu sou esse tipo de garota fresca, pode julgar que eu não ligo não).
- Eu já vou indo. - falei para a senhora estranha que ainda não tinha ido embora, comentei só por educação mesmo, porém percebi que ela me podia ser útil para uma coisa. - A senhora sabe onde fica East L.A.?
Ela me olhou rápido como se não esperasse essa minha pergunta, mas depois abriu um sorriso e me respondeu. Sério, que mulher esquisita.
- Sei sim, você só tem que andar uns dois quarteirões até uma das avenidas e lá pegar um ônibus. - Ela continuou sorrindo, eu estou falando: ESQUISITA.
- Obrigada. - Fui embora assim que a última sílaba do meu breve agradecimento saiu da minha boca, e não fiz nenhuma questão de olhar para trás. Lá estava eu novamente, andando pelas ruas de uma cidade que eu não conhecia, com roupas totalmente inapropriadas (era como andar com uma placa neon escrita "menina que não é da Califórnia" apontando para a minha cabeça).
Quando um vento estranhamente gelado passou, bateu aquela sensação de solidão, e pela primeira vez desde que deixei a escola, a saudade chegou bem perto de me matar. Literalmente, digo isso porque eu estava tão distraída pensando em Emma, Danny e os meus outros amigos que não percebi que estava atravessando a rua e quase fui atropelada. Levei a mão ao peito e segurei o meu colar, só para me certificar de que ele ainda estava ali, foi um ato meio ridículo, mas fazer o que. De repente, eu me vi rezando e pedindo para todos os anjos que eu consegui lembrar o nome para encontrar esse menino logo e poder voltar para casa o mais rápido possível.
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Duelo de anjos
FantasyToda menina comum vai ao shopping, faz compras, e morre de tédio à tarde em casa, mas não é assim que as coisas funcionam para Lydia. Sua casa é sua escola, mas não é um colégio tradicional, ao invés de aula de matemática, ela tem aula de combate c...