Capítulo 1

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Eu sempre me considerei uma pessoa de sorte. Não do tipo que ganharia uma bolada na mega ou algo em uma raspadinha de banca qualquer. Entretanto, moro na bela e grande Nova York, trabalho como assistente em uma das mais importantes empresas da cidade, a Cooper Records, tenho ótimos amigos e uma família incrível, meio maluca, mas incrível. Havia apenas um assunto que eu não conseguia resolver em minha vida: homens.

Desde menina eu sonhava com "o" cara. Sim, aquele que chegaria de mansinho, mas causando uma bagunça em minha vida , aquele que me deixaria com as pernas bambas e o coração martelando como se eu fosse uma adolescente apaixonada. Eu tinha um plano para minha vida, arquitetado minuciosamente, principalmente nesse assunto. Porém, como a vida é uma caixinha de surpresas, os homens que surgiam nunca me agradavam por completo, eu sempre encontrava um defeito insignificante, mas que me incomodava além da compreensão. Ou eram altos demais, ou velhos demais, ou esquisitos demais.

Minha mãe sempre me dizia: " Anne, pare de colocar defeitos em todos os homens que aparecem ou acabará como uma solteirona amargurada. Vende seus olhos e se permita ser feliz". O problema é que esse negócio de vendar os olhos era mais fácil na teoria do que na prática. Eu até consegui essa façanha uma vez durante um tempo, após uma árdua batalha entre mim e meus preconceitos. 

Conheci Evan em uma das festas de gala que uma parceira da Cooper Records promovia a cada ano. Ele era bonito, engraçado e inteligente; algumas coisas nele que me incomodavam, mas eu tentei fechar meus olhos e aceitei quando ele me pediu em namoro. E estava tudo correndo bem. Não quero dizer que ele causava as reações que eu sonhava quando era garota, mas eu me sentia confortável em sua presença e me parecia menos repugnante do que vários outros que conheci.

O tempo passou e eu realmente comecei a acreditar que poderíamos dar certo, que eu conseguiria sentir algo mais profundo por ele, corresponder os sentimentos que ele me declarava. Eu já imaginava black tie, vestido de noiva, eu finalmente desencalhando. Aleluia! Mas que ironia! Seis meses depois o encontrei enroscado nos braços e no resto do corpo da minha melhor amiga, no meu carro. Eu realmente fiquei mal com a separação, não que eu tivesse chorado copiosamente, gastado um pacote de lenços, mas havia um aperto no peito que era sufocante. Eu estava gostando do maldito cafajeste.

À partir de então, eu decidi seguir carreira solo e acreditar em minhas intuições sobre os homens. Eu amo o meu trabalho, apesar de ser uma rotina de organizar papéis, telefones e compromissos do meu chefe, e eu coloquei em minha cabeça que eu apenas me casaria com alguém que eu amasse mais do que eu amo o meu trabalho. Até hoje ninguém chegou nem perto. Talvez alguém esteja fazendo alguma espécie de vodu ou uma macumba contra mim para que eu apenas me desse mal no tópico relacionamentos; a ideia de alguém espetando agulhas em mim através de algum boneco nefasto não me alegrava. 

⚈⚈⚈⚈⚈

Era um ensolarado domingo de manhã, eu estava em meu apartamento, arrumando-o e reclamando de como eu odiava serviço de casa. Ô trabalhinho sem futuro! Era um apartamento pequeno, mas eu adorava; era aconchegante, sem coisas amontoadas e limpo. Após horas de murmúrios pelos cotovelos, que até mesmo minha cabeça estava doendo, terminei o que estava fazendo e joguei-me no sofá.

- Oh, vida cruel - fechei os olhos e logo a campainha soou. Grunhi e me levantei, batendo os punhos no sofá - espero que alguém tenha morrido - gritei. Abri a porta para encontrar uma Bianca sorridente com uma garrafa de vinho em mãos.

- Minha irmã - ela falou e jogou seus braços sobre meus ombros, abraçando-me fortemente.

- Bianca - devolvi e me afastei para que ela entrasse - você ganhou isso em algum lugar? - perguntei, apontando com o queixo para a garrafa e fechando a porta atrás de mim. Há meses que eu não a via e sua presença era uma distração bem vinda, eu estava morrendo de saudades da minha irmã.

- Não, eu comprei - seu sorriso se alargou ainda mais, surpreendendo-me como isso foi possível - temos que comemorar.

Bianca falava animadamente e caminhava pela cozinha, abrindo os armários e pegando duas taças. Logo estávamos perto da mesa, meu quadril encostado no vidro e olhando para o vinho girando na taça.

- Então, me dirá o motivo desta celebração ou terei que adivinhar? - questionei, erguendo meus olhos para ela.

- Adivinhe então - ela mordeu o lábio inferior em meio a um sorriso.

- Eu até tentaria mas minhas costas doem. Diga-me logo - Bianca largou a taça sobre a mesa, aumentou seu sorriso, mostrando-me todos os seus dentes brancos. Ela parecia uma versão menos assustadora do gato de Cheshire. Bianca ergueu o braço, mostrando-me as costas da mão.

- Eu vou me casar, Anne - sua voz entre dentes saiu gritante. Engasguei, tossindo descontroladamente e Bianca se mudou para perto de mim, perguntando se eu estava bem e batendo em minhas costas.

- Como é? - perguntei arregalando os olhos - Eu nem sabia que você estava namorando.

- Como assim? Estamos juntos há seis meses. 

- Seis meses? E já vão se casar? 

- Estamos apaixonados - ela disse, sonhadora.

- Minha encomenda da China demorou mais tempo para chegar - larguei a taça ao meu lado.

- Você pode ficar feliz por mim? - ela perguntou, seu sorriso caindo um pouco. Suspirei e vi que eu estava sendo uma péssima irmã.

- Eu estou - e a abracei fortemente.


ღ Um Namorado por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora