Capítulo 7

4.4K 525 70
                                    

- E então? - questionei, mordendo o lábio inferior em ansiedade.

- Bem, ele é..., ele... - ela olhou para a amiga em um pedido de socorro silencioso.

- É, ele é um...homem - a outra falou e eu a mirei com um olhar de "eu estou sabendo dessa parte".

- Oh, vamos, desembuche - falei, exasperada – os meus nervos estão em frangalhos.

- Você precisa de alguma coisa antes que o avião decole?

- Talvez um cafezinho - elas estavam tentando me distrair. Mau sinal.

- Parem com isso - murmurei entre dentes - como ele é?

- Tudo bem - a morena finalmente cedeu - ele é... normal.

- Sim - a loira disse - ele tem dois braços, duas pernas e um cabelo... nada mal.

Não aguentando mais esse bate-papo de malucos, me virei disfarçadamente e quase tive um troço. Ponte que partiu. Após uma longa analisada no homem da poltrona 12, me virei provavelmente mais branca do que um pavão albino e as duas aeromoças me puxaram para trás da cortina, talvez com medo de que eu caísse dura ali e estragasse o passeio dos outros.

- Vocês estavam sendo legais - murmurei após aceitar uma xícara de chá - e que história é essa de um cabelo nada mal? Puta merda, o homem é um pica-pau gigante, terei que pedir para o futuro marido francês da minha irmã proteger suas árvores ou elas amanhecerão cheias de furos.

As garotas não fizeram nenhum esforço para esconder as risadinhas e eu apenas revirei os olhos. Afastei a cortina e quis chorar. O dito cujo tinha as madeixas na altura dos ombros, encaracoladas e pintadas de um vermelho tão vivo que faria você parar o carro pensando ser um semáforo. Ou talvez não. Quando afastei a cortina mais uma vez, o Chuckie Finster ali estava em pé e parecia menor do que eu, e eu não era nenhuma modelo de passarela. Na verdade, eu era quase uma anã, então o cara devia ser um smurf ruivo.

Eu sempre pensei que altura era fundamental para um homem, assim como o sorriso é um cartão de visitas. Falando em sorrisos, o cartão de visitas do tipo com certeza estava vencido, se o cigarro em sua boca indicasse alguma coisa, ou que estava ali antes da aeromoça ralhar com o sem noção. Eu simplesmente ODEIO fumantes.

Enfim, onde parei? Oh, claro, fisionomia. Abaixo dos cabelos em chamas havia um óculos enorme emoldurando um nariz que humilharia o pica-pau mencionado anteriormente pelo tamanho. Acho que me equivoquei em relação ao pássaro. Tatuagens cobriam ambos os braços, ele usava uma regata branca, uma bermuda florida e chinelos. Eu não sabia nem o que dizer.

- Eu estou ferrada - murmurei e virei o líquido doce em minha boca - como eu vou apresentar um hippie molecão metido a surfista para a minha família?

- Ainda dá tempo de você sair correndo do avião - a aeromoça morena sussurrou e eu vi ali a minha fagulha de esperança. Como se um raio caísse na minha cabeça, o avião começou a deslizar pela pista e a voz do piloto soou pelas caixas de som pedindo que apertássemos o cinto. Acho que eu preferia o raio.

Desanimada, voltei para a minha poltrona, não antes de olhar para o homem atrás de mim novamente e me afundar no banco. Cara, esse é o homem de cinquenta mil dólares? Para ele ia toda a minha grana de anos? Foi então que a verdade bateu em mim, eu fui passada para trás. Ou isso ou eles tinham um padrão bem baixo para selecionar seus homens. Merda, eu sabia que não deveria confiar nesses sites desconhecidos. Mas Lídia conheceu outras pessoas que usaram esse site. Será que sou eu a azarada? De jeito maneira meu dinheiro ia para esse hippie cheirando a fumaça.

Foi uma longa e exaustiva viagem até o aeroporto de Nice, uma linda cidade no sul da França, não que eu já tenha visitado antes mas...qual é, é a França, tudo parece ser magnifique. A não ser as pessoas, que possuem a fama de não possuir um hábito higiênico muito saudável. Dizem as más línguas que os franceses só tomam banho uma vez na semana e realmente espero que meu cunhado seja mais asseado. Bem, bem mais asseado.

Desci do avião rapidamente, orando interiormente para não encontrar o senhor Linguini no meu caminho. Esse homem não veria nem a cor do meu dinheiro. Bem, meu plano não funcionou muito bem, pois quando eu estava me afastando toda contente para pegar a minha mala, ouvi alguém chamando meu nome. Olhei para trás e lá estava ele, o pica-pau gigante.

- Ei, você é Anne May? - questionou, sua voz arrastada. Eu queria dizer que não, sair correndo e esquecer toda essa loucura de acompanhante, entretanto, minha consciência levou a melhor sobre mim e eu suspirei.

- Sim - falei, desanimada.

- Esqueceu sua bagagem de mão - ele me estendeu uma frasqueira com um pedaço de papel grudado na parte superior com meu nome escrito.

- O-obrigada - gaguejei e estendi a mão para pegar o objeto.

Fiquei surpresa quando ele acenou e se virou para ir embora. Ele não ia falar nada? Por exemplo, sobre como eu fui uma trouxa por acreditar nesses sites idiotas? E para piorar toda a situação, duas mulheres estavam paradas a uma certa distância, acenando com as mãos e braços e eu pensei que se pudessem dançar sem pagar um mico maior, elas fariam.

- Anne - minha mãe gritou e eu caminhei até ela - Olá, querida, que saudades.

- Oi mamãe - a abracei e fiz o mesmo com minha irmã.

- Você está tão linda - Bianca murmurou antes de morder o lábio inferior e vasculhar o ambiente atrás de mim.

- Obrigada, você também - falei, arrancando seu olhar de volta para mim.

- Veio sozinha novamente, querida - como eu disse antes isso não foi uma pergunta - Não se preocupe, vamos arrumar alguém legal para você - minha mãe começou e eu revirei os olhos. Como sempre, direto ao ponto.

- Mãe, eu...

- Oh, não diga que não quer isso, claro que quer - ela disse, animada - e sabe quem veio também? Evan! - ela praticamente gritou a última palavra com um entusiasmo impressionante - E está uma graça - acrescentou e esperou a minha reação.

- É, legal. Soube que ele está aqui com a nova namorada e que ela é linda - cuspi, mas ela não entendeu o recado e continuou, calmamente.

- Oh vamos, só não é decente separar as pessoas depois do altar - arregalei os olhos, um pouco horrorizada - e acho que ele ainda gosta de você, Anne. Vai perdê-lo? Prefere ficar sozinha por orgulho?

Eu não podia acreditar que minha mãe estava do lado do homem que havia me traído. Olhei para ela com uma cara de "eu sou uma piada para você?". Abri a boca para argumentar contra sua ideia maluca de me unir com aquele idiota, porém, a fechei quando senti uma mão na parte inferior das minhas costas e lábios tocaram os meus laconicamente.

- Desculpe-me a demora, foi difícil conseguir pegar nossas malas - uma voz rouca murmurou no meu ouvido, fazendo com que todos os pelinhos do meu corpo se elevassem.

ღ Um Namorado por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora