Musica: Green Day: "Boulevard"
Alameda dos sonhos despedaçados
Antes eu me considerava um garoto perdido, agora sou um garoto achado no abismo.
A cerca de, talvez dois meses, não tenho família, nem amigos, nem tenho casa.
Eu costumava odiar a escola, mas agora sinto falta dela, não pelos professores depressivos, nem pelos idiotas mentais que lá estudavam e sim pelo sopro da vida ao meu redor. Sinto falta de vozes, de gritarias. Agora só tenho o silêncio, que antes eu tanto amava, acabou tornando-se meu eterno companheiro e rival.
Há cerca de dois meses, um meteoro apelidado de Absinto, por cientistas fúteis, invadiu com força meu planeta e agora, aqui estou eu, junto de carros abandonados e de corpos jogados pelo asfalto manchado de sangue. Não sei para onde vou, só seguirei essa maldita estrada solitária. Não sei aonde ela me levará, mas é o único lar que eu tenho, minha sombra é a única que anda ao meu lado. Talvez nem ela, já que as luzes desses postes estão quebradas. Quebradas como meu coração, quebradas como um pedaço da terra que um dia abrigou milhares seres humanos e agora é o lar de baratas e sobreviventes do grande meteoro, que deixou sua marca em todo desastre presente nesse lugar, as árvores destruídas, os corpos servindo de alimento para insetos bizarros, um garoto solitário sendo massacrado pela fome e por sua tortura mental.
A cidade agora dorme e eu ando sozinho nessa estrada vazia, nesse lugar onde um dia tantas pessoas sorriram.
Verifico os carros ao meu redor, ainda tenho esperança de encontrar alguém vivo.
Verifico também meus sinais vitais para saber se eu mesmo ainda estou vivo. Ainda estou, não sei se devo comemorar ou lamentar por não ter partido como toda a população mundial.
Não sei que horas são, nem sei o dia. Mas quem se importa? O tempo não existe mais, ele nunca existiu. Talvez nem eu exista e isso seja apenas um pesadelo.
Na verdade, acho que um pesadelo seria pior que isso, então é real.
A gritaria aqui é ensurdecedora, olho para os lados para ver se não estou louco mas estou bem e o que me ensurdece realmente é a gritaria do lado de dentro da minha cabeça, porque do lado de fora o som do vento se tornou a trilha sonora.
Será que um dia a terra voltará a dar frutos? Será que o sol voltará a brilhar como antes? São perguntas que orbitam ao redor dos meus pensamentos.
Meu coração superficial é a única coisa que ainda está batendo, o silêncio aqui é tão grande que se eu me concentrar posso ouvir minha pulsação.
As vezes só desejo que alguém por aí ainda esteja vivo, que alguém me encontre.
Até lá, eu andarei só, nessa alameda dos sonhos despedaçados.
Isa Rodrigues
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Temática Musical
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