SLEEPING WITH SIRENS

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Música: Sleeping With Sirens (Better Of Dead)

Família Perfeita

Ouço os gritos do meu quarto. Tenho vontade de sumir, e nem mesmo minha amiga, minha gilete, é o suficiente.

Nos últimos meses, é a única coisa que escuto. Gritos, gritos e mais gritos.

“Eu te vi com aquela vadia!” minha mãe grita.
“Eu não estava com você! ” meu pai rebate. “ se não está satisfeita, vai embora e leva aquela puta daqui!” meu pai está bravo. Eu sei disso, minha mãe sabe disso, ele também sabe disso.

Minha vontade de sumir é gigante. Eles podem descutir por tudo, mas o assunto sempre vai voltar para mim. “ Ela não devia ter nascido”, “É apenas dinheiro a mais que estamos gastando”
“Se estamos brigando, é por causa dela. Você sabe que se você tomasse anticoncepcionais, não teríamos ela, não iríamos casar e estaríamos felizes, cada um com sua vida.” meu pai sempre fala.
Não deixo transparecer, sempre vou para o quarto quando tudo começa. Mas dói. Dói muito. Ele sabe que dói e usa isso ao seu favor.

“Não ligue filha, ele está apenas irritado…” minha mãe diz para mim depois da briga. Mas ela só fala isso para tentar me acalmar e sejamos sinceros: não dá certo.

“Eu só quero morrer mãe. Meu pai acha que vou estar melhor morta. E estou começando a acreditar nisso.” Falo para minha mãe um dia desses, e ela apenas solta uma risada.

“Não seja boba Ally!” Ela disse rindo. “Não brinque com essas coisas, e além do mais, todos sabemos seu pai vai continuar te odiando, você viva, ou abaixo de sete palmos.” Ela acha engraçado. Pensa que estou brincando e não tenho motivos para isso. Nunca falei tão sério em toda a minha vida. Acompanho a risada dela. Mas meu cérebro não para de pensar em minhas palavras.

[…]

Essa noite, uma terça feira chuvosa. Foi a gota d'água. Eu estava jantando junto com a minha mãe e meu pai chegou, com gotas de chuva em suas roupas e com bafo de bebida.

“Onde você estava?” Minha mãe pergunta. Ele não precisa responder para eu saber que estava em algum bar com alguma mulher.

“Trabalhando, mulher! Alguém precisa trabalhar nessa casa! ” Ele diz, batendo na mesa. Sei que é mentira. Minha mãe também sabe, e deixa isso transparecer em seu rosto.

“E seu trabalho agora tem bebida alcoólica?! Sei muito bem onde você estava! ” Ela o acusa, e o deixa com mais raiva.

“Se você sabe, então porque pergunta?” A resposta dele é automática e sei o que vai acontecer de cor. Meu pai vai arranjar algum jeito de virar o jogo, algum jeito da discussão se virar para mim, então, minha mãe vai mandar eu subir, eles vão brigar mais um pouco, ele vai falar que a ama e então os dois vão para a cama transar.
É sempre assim. Tudo _tão_ previsível.

“Tudo é culpa dessa infeliz! Ela está fazendo você pensar!” Meu pai acusa com sua voz arrastada. Se o assunto não fosse eu, e não tivesse uma seriedade tão grande, eu estaria rindo.

“Suba, Ally” Minha mãe diz, mas é tarde demais. Meu pai já tinha batido em meu rosto, deixando a marca de seus dedos em minha pele e uma dor insuportável.

“É! Suba, vadiazinha!” Coloco a mão em meu rosto e subo correndo as escadas, não olhando para baixo e esperando que eu não caia.

Assim que chego no meu quarto, procuro minha gilete. Onde está aquela merda?
E finalmente acho ela dentro de um dos meus livros. Vou sentir falta deles. É a única coisa que vou sentir falta daqui. Meus livros.

Vou para o banheiro, não me dando uma chance de pensar. Se eu pensar vou adiar isso mais ainda, e não posso fazer isso. Já adiei muito.

Olho mais uma vez meu quarto, me despedindo do meu refúgio, e começo meu trabalho.
Está doendo, mas meu rosto está doendo mais, e além disso, é uma dor gostosa, sei muito bem que está me aliviando.

O sangue que escorre do meupulso sai em grande quantidade e eu sei que atingi uma veia importante. A cada gota de sangue que pinga no chão branco do banheiro, é um pouco da liberdade, do peso que sinto sendo retirado das minhas costas. Minha visão começa a ficar embaçada, e eu sorrio. _Finalmente livre._

Camille/ Mille

MilleStyles090

Temática MusicalOnde histórias criam vida. Descubra agora