THE DREAMERS

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Musica: The Dreamers – David Bowie

        O Sonhador

   O sonhador, era como o chamavam. Rejeitado pelas estrelas. Vivia em uma caverna na base de uma montanha rochosa. Os nativos do vilarejo próximo falavam dele com fascínio, e um toque de tristeza. Contavam que ele tinha vindo carregado por uma estrela moribunda. Diziam que ele avia tentado ser parte do céu, mas as estrelas não gostavam de homens entre elas, e acabaram o rechaçando de volta à terra
   Os velhos anciões falavam que ele era inteligente. Contavam histórias de como ele havia trazido novas invenções, e nos ajudado com tudo. Mas aos poucos ele foi se isolando, lentamente se cobrindo de um manto de melancolia. “Preciso dormir” dizia ele, “Preciso estar pronto quando meus amigos acordarem”, e sumia por anos. Por isso os xamãs o apelidaram de sonhador, sempre tendo que voltar a dormir para sonhar. Foi através do sonhar, diziam, que ele alcançou as estrelas, e precisava voltar de tempos em tempos para o seu povo, que não conseguia vir para a realidade.
   Ele se isolava no local onde aconteceu o impacto da estrela morta, onde hoje há uma caverna.
   O primeiro sonho durou cem anos.
   Os aldeões deixavam oferendas na entrada da caverna, e passavam a história dele adiante nas noites em volta da fogueira.
Quando ele acordou pela do primeiro sonho, estava mais pálido e um pouco mais magro. Viu que a tribo avia crescido. Utilizaram bem os princípios que ele avia ensinado, e um velho, que um dia fora o mais jovem da tribo o cumprimentou, e ficou feliz por poder velo uma última vez antes de fazer a passagem. Ajudou a tribo novamente, dessa vez indo mais além nos seus ensinamentos, vendo que a tribo estava pronta para dar mais um passo. “Meus amigos ainda não despertaram. ” Disse, quando foi perguntado se iria ficar ali por mais tempo, “Não tenho como saber, só posso esperar dormindo, infelizmente não posso ajudar meus amigos a despertar... ”, disse a ser perguntado quando aquilo iria acontecer. Ficou menos tempo desta vez, e parecia muito triste ao voltar para a caverna.
O próximo sono durou duzentos anos. Ao despertar, estava bem mais pálido, tinha dores no corpo, tinha emagrecido bastante e estava com os olhos fundos e olheiras. A tribo avia crescido bastante, e se tornou uma pequena vila, usaram seus conhecimentos para fazer casas mais resistentes e melhorar suas armas de caça, e superaram as outras vilas em vários meios com os conhecimentos do Sonhador. As lendas dele ainda existiam, embora bem fracas. A caverna era tida como assombrada e as mães educavam os filhos a não ir lá, pelo mal que se escondia ali. Dos que o viram da última vez, nenhum mais vivia. A sua visita foi breve, foi até os engenheiros e cientistas da vila e conversou com eles, os ajudou nas suas dúvidas e deu mais um impulso para o desenvolvimento, curioso para saber onde aquilo iria chegar. Voltou para a caverna triste, sem nenhum traço do despertar dos outros sonhadores. Só lhe restava o sono. Voltou a dormir.
   Esse sonho durou por mil anos.
   Ao acordar, estava fraco e muito magro. Precisava de uma bengala para andar e a sua visão ficara bem ruim. Seus cabelos estavam brancos. Esse despertar foi o mais breve, pois ficou horrorizado com o que viu. A tribo não era mais uma tribo, nem uma vila, era uma metrópole. Estava lotada, e cresciam em direção aos céus, pois não avia espaço para ir para os lados. Agora travavam guerras com as metrópoles vizinhas, e usaram os conhecimentos do sonhador para criar armas e fazer guerra. Se desenvolveram muito, mais os seus cientistas que prosperavam estavam trocando suas invenções por riquezas, e era só isso que todos queriam. Os que tentavam criar pensando no bem de todos eram tidos como piadas. O sonhador tentou se comunicar, mas a todos ele era apenas um excêntrico, talvez um morador de rua, perdido e confuso, ninguém tinha tempo de se envolver.
Embora muito tivesse contribuído para o crescimento deles, tinha sido esquecido.
Não tinha mais o que ver ali fora, e seus amigos não despertaram, estava sem esperança, e não sabia o que fazer. Voltou a dormir.
   A cidade avia crescido, virara a maior cidade do seu tempo, capital de um poderoso império que se estendia até onde o sol toca o horizonte. Poderosos guerreiros e imperadores surgiram e viraram lendas. Mais logo começou a ruir, desde suas bordas até seu epicentro. Ruiu sobre o seu próprio peso. Suas casas sumiram, sobrando apenas algumas ruínas que serviam de moradia a pequenos animais. Os poderosos muros e construções viraram ruínas. Todas as lendas se perderam no tempo, e até mesmo o nome do império ninguém se lembra. Tudo voltou as cinzas.
   Dizem que no meio daquelas montanhas, existe uma caverna esquecida, cercada por um denso bosque.
     La dentro, o sonhador ainda dorme.
     Ainda esperando os outros despertarem...

O Taverneiro

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