CANNON IN D MAJOR

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Música: Pachelbel – Canon In D Mejor.

O triste destino de Kayla

- Senhora? – ouço a voz de Mirdyz me despertando – Senhora precisa acordar. Temos muito o que fazer hoje, afinal é o grande dia.
Ao abrir os olhos me deparo com o belo sorriso de Mirdyz. Ela é minha ama e sempre cuidou de mim, se mudou comigo para o palácio do rei Haldrithel, meu futuro marido.
- Bom dia, Mirdyz. – suspiro profundamente, em seguida me levanto.
- A banheira já está pronta para seu banho de beleza, me lady.
- Sabe que quando estamos sozinhas não precisa me chamar assim.
- Sei, mas de agora por diante, temos que evitar. Afinal a senhora se tornará rainha de Tryguth. Vai que acontece de te chamar de Kayla num momento ou lugar errado.
- Você nunca fez isso antes, porque faria agora? – digo sem demonstrar qualquer alegria – Mas tudo bem, se você quer assim.
Acredito que Mirdyz tem quarenta anos, mas nunca quis perguntar sua idade, pois sempre me dizia que jamais se pergunta a idade de uma mulher. Seus pequenos e perspicazes olhos azuis sabem muito mais do que seus lábios finos dizem.
Ela sempre foi um amor para mim, perdi minha mãe aos três anos. A partir desse momento Mirdyz tornou-se minha mãe, sempre se preocupando, cuidando de mim em todos os momentos. Sem dúvida alguma que esses vários fios de cabelos brancos, misturados ao louro escuro, foram adquiridos ao se preocupar em demasia com meu bem-estar.
Sigo para o aposento onde se encontra a banheira. Água morna, repleta de pétalas de rosas e outras especiarias que deixam a pele com um agradável perfume de flores. Mirdyz me ajuda a tirar o roupão de dormir, enquanto encaro meu reflexo no espelho em frente à banheira.
Minha aparência está muito boa, bochechas rosadas, lábios carnudos e vermelhos, fazem um pelo contraste com minha pele alva. Assim como meus olhos verdes como esmeraldas contrastam com meu cabelo negro encaracolado, que cai como uma cascata sobre meu corpo até o quadril.
Realmente, meu irmão tem razão em dizer que sou a mais bela princesa dos sete reinos humanos, e que poderia ter qualquer homem que desejasse, mas nenhum até hoje encheu meus olhos e arrebatou meu coração.
Dou um longo suspiro antes de entrar na banheira. Conforme Mirdyz ia me banhando, meus pensamentos voam. Casamento? Meu casamento com o rei de Tryguth é hoje e não estou nem um pouco empolgada.
Porque meu pai me obrigou a fazer isso? Nosso reino é maior que este e não precisa de nada disso, porém meu pai, rei de Ridchell, disse que isso ajudaria os dois reinos a ficarem mais fortes contra possíveis invasores das Terras Geladas de Verballes. Eles sempre tentam nos invadir usando magia negra de seus feiticeiros e feiticeiras.
Contudo temos como protetores as fadas e ninfas das planícies de Haldyfyn, além é claro dos dois últimos dragões que abitam nossas terras. Porque, então, essa união? Não faz muito sentido para mim.
Eu queria escolher meu futuro marido através do amor, mas parece que esse é o único luxo que não possuo. Decididamente, ser princesa não é o que as pessoas podem imaginar. Luxo e riqueza não fazem ninguém feliz.
Nem ao menos conheço direito o rei Haldrithel. Ele é um belo jovem que aparenta nada mais do que uns vinte e cinco anos, ou seja, seis anos mais velho que eu. Possui olhos e cabelos negros como a pedra ônix, aparentemente tem um belo corpo, apesar de telo encontrado três vezes nessas duas semanas que passei a morar em seu castelo, e sempre vestindo armadura de batalha.
Acho que está acontecendo algum problema em seu reino, mas não consegui tirar qualquer informação de seu primeiro ministro, que é com quem às vezes consigo conversar, entre todos os nobres mais chegados do rei.
Ao terminar meu banho, peço para Mirdyz deixar-me vestir um vestido bem simples. Preciso muito dar uma volta pelo jardim, a ideia de casamento está me sufocando, e como a cerimônia será somente no fim da tarde, tenho tempo de sobra. Preciso demais respirar ar puro, de preferência, bem longe do castelo.
O reino de Tryguth parece ser tão bonito quanto o meu, e o castelo é tão luxuoso como o meu, apesar de ser um pouco menor. O jardim é a única coisa que supera meu reino. São tantas flores, de cores tão variadas, que me fazem sentir que talvez não seja tão ruim vir morar aqui.
Mas o que realmente preciso nesse momento é de um pouco de distância deste castelo e do meu casamento. Vou até o estabulo, peço para o cavalariço preparar a minha égua Ventania.
O rapaz faz o que peço com espantosa rapidez. Acredito que o rei deve ter dado ordens para seus empregados fazerem tudo o que peço rapidamente, e sem questionar. A única coisa que o rapaz diz é para ter cuidado e não ir para o norte, pois é próximo da fronteira com as Terras Geladas de Verballes.
Agradeço a gentilmente o aviso, e saio a galope em direção ao leste, bem distante das fronteiras do norte.
As planícies do leste são lindas, passei por um pequeno vilarejo até chegar numa floresta densa com árvores gigantescas. Já ouvi falar delas. Meu pai dizia que essas árvores são da época da criação do nosso mundo. Mas que agora só existem em quatro dos setes reinos humanos, além é claro nas terras das ninfas e fadas.
As horas se passam rapidamente, noto que já é quase meio dia, acho melhor voltar para o castelo e meu triste destino.
De repente, quando estou quase saindo da floresta, um grupo de dez homens fortemente armados interrompe meu caminho.
- Onde a princesa pensa que vai? – diz um barbudo e mau encarado, que acredito ser o líder por causa das vestes.
- Não sou princesa, sou ama no castelo de Tryguth – tento disfarçar minha altivez de princesa educada – O que quer?
Ele dá uma gargalhada gutural, e é acompanhado pelos seus companheiros.
- Não sei porque estão rindo, preciso voltar ao palácio, minha senhora deve estar precisando de mim.
- Não adianta tentar nos enganar princesa, estamos vigiando o palácio desde que chegou, só esperando o momento certo para pegarmos você sozinha. Agora Lafridych! – o mesmo homem grita.
Um outro sujeito com vestes de feiticeiro, balança as mãos no ar, enquanto dois outros homens se aproxima rapidamente. Antes mesmo de tentar fugir, sinto uma forte tontura, ao mesmo tempo que uma névoa escura me engole me puxando para o submundo do sono.

S. Santos

Santossn

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