capítulo 8

37 6 9
                                    

- Sabe,as vezes eu me pergunto se você realmente pode me escutar. Me pergunto o que você sente. Se sente medo....-olhei pra ela, de olhos fechados como sempre,e não pela primeira me perguntei como seria quando ela abrisse os olhos.

- As vezes quando eu ia dormir na casa do Carlos,à gente ficava com um pouco de medo,por causa que uma hora teríamos que apagar a luz,e aí viria o escuro.-sorri ao me lembrar de noites como esta que estou citando.- Então nós fazíamos de tudo pra não deixar que ninguém apagasse à luz,e a mãe do Carlos percebeu isso. Então toda vez que nós íamos dormir e ficávamos com medo,ela cantava para nós.

Peguei meu violão. Isso podia até parecer estúpido da minha parte,como uma música iria ajudá-la a não ter medo? Eu não sabia,mas queria tentar,considerando que eu não podia afirmar se ela me escutava de verdade.

Então,comecei a tocar.

Cada nota,cada acorde saindo como se minha alma estivesse presa ali dentro,e então finalmente encontrasse a liberdade.

-" Não se admire se um dia,um beija-flor invadir,à porta da tua casa,te der um beijo e partir...fui eu que mandei o beijo,pra matar o meu desejo,te mando um milhão de beijos,ai que saudade de você."

Não tinha muita ligação, com o nosso medo pelo escuro,essa música. Mas ela nos acalmava.

E lá no fundo,no meu íntimo...

Me fazia imaginar como seria se eu tivesse tido uma mãe.

Mas imaginar isso me doía,então eu afastava logo isso.

Mas hoje,depois de tantas noites de lágrimas e perguntas que eu nunca iria ter as respostas,depois de ter visto minhas fantasias serem destroçadas pela realidade, hoje não doía mais .

Eu também não sentia raiva dela.

Só sentia um vazio que seria o lugar que ela ocuparia se tivesse feito parte da minha vida.

Então me pus à pensar.

Será que ela tinha sequer uma mãe? Irmãos? Será que ela não tinha ninguém?

E quantas vezes será que eu já tinha me perguntado isso?

Fiquei ali,por uns instantes observando ela.
Até que eu percebi uma coisa.:

Eu não fazia a mínima ideia do que chama-la quando ela acordasse,ou até mesmo agora.

Eu sei que isso é uma coisa meio estranha a se preocupar.

Ou talvez não.

- Ei,que nome você gostaria de ser chamada por enquanto?- perguntei ,lhe acariciando à mão.- Que tal Juniin?!

Não sei porque , mas eu achava esse nome bonito,assim como eu também a achava bela.

- É isso! Vou te chamar de Juniin.

Sorri comigo mesmo.

Olhei no meu relógio,já eram 20:34, não percebi como tinha se passado tanto tempo.

Já estava na hora de ir.

E não sei porque ,mas isso doeu mais do que eu precisava saber.

Dei um beijo na cabeça dela e prometi que voltaria amanhã....

E depois de amanhã,e depois,e depois....até que eu visse que ela não precisava mais de mim.

Saí de dentro do quarto dela só para encontrar a Nádia parada lá,me encarando.

As vezes ela assustava um pouco.

Ou então, talvez eu nunca tenha gostado de levar sustos de pessoas que eu convivo no dia à dia, porque simplesmente parece que as vezes elas brotam do chão,do nada.

Os Contos De ElizabethOnde histórias criam vida. Descubra agora