I.

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Jane fitava Kala e Terk conversar atrás de um arbusto. Escondida, a menina de apenas 13 anos estava pronta para dá o bote em sua amiga gorila. Com um sorriso malicioso, ela pulou nas costas de Terk assim que soltou um grito animalesco. A gorila se virou a tempo de jogar a amiga para o chão com as patas traseiras e logo Jane fingia tentar enforcá-la. De longe, Kala sorria da brincadeira das duas, ignorando as outras mães gorilas que olhavam com desprezo a garota.

Não importava o quanto Jane tentava parecer como um primata, todos do grupo se perguntavam porque ela continuava com eles. Kerchak fingia não ouvir suas reclamações e repetia que estava esperando encontrar outros como ela, mas todos sabiam que não haviam animais da espécie de Jane.

Ela estava sozinha.

― Acho que nunca encontramos ninguém da sua espécie porque nem eles não querem isso. ― Fofocou uma das gorilas para suas amigas fazendo as outras rirem.

Jane soltou a sua amiga ao escutar aquele murmurado. Abaixou a cabeça, triste.

― Ei, o que foi? ― Perguntou Terk estranhando a mudança repentina de humor da garota.

A menina ignorou, agarrou sua lança e subiu em uma das árvores e saiu deslizando pelos galhos.

Não importava quanto tempo tenha se passado, ela nunca se acostumaria com aqueles comentários preconceituosos. Ao chegar perto do lago, já com os olhos marejados, começou a cobri a si mesma de lama para ficar da mesma cor que os gorilas.

― Jane? ― A voz de Kala, sua mãe, a fez vira-se rapidamente para trás. ― O que está fazendo?

― Eu sou da mesma espécie que vocês! ― Respondeu apontando para o próprio corpo. ― Sou igual a você, mamãe!

Kala sorriu e lhe deu um olhar sábio que todas as mães carregavam.

― Claro, você é igualzinha a mim. ― A gorila segurou seu ombro e com o indicador retirou a lama de seu rosto. ― Nós duas temos dois olhos, um nariz, uma boca, uma barriga.

Jane riu ao sentir cócegas em sua barriga nua.

― Duas mãos. ― Ela disse, entendendo o que sua mãe explicava, e segurou as palmas das mãos da gorila, entretanto, ela conseguia ver a pequena diferença entre eles.

Antes que ela comentasse esse fato, grunhidos vindo do lugar onde o grupo de gorilas ficavam foram ouvidos. Ao ver as aves das árvores voarem assustadas, elas souberam que estavam com problemas.

― Fique aqui. ― Falou Kala, contudo, como esperado, a menina não ouviu e saiu correndo em direção a confusão.

No meio do caminho esbarrou em algo grande e pesado, fazendo-a cair para trás assim que colidiu com o animal.

― Fuja, Jane! ― Ouviu a voz de Terk.

Levantou a cabeça e quase riu, se aquela situação não fosse alarmante: Terk estava em cima de um filhote de elefante montada como se ele fosse seu meio de transporte.

― Sabor está atacando os gorilas! ― Falou o elefante em desespero ― Você precisa...

Sem escutar o que o outro dizia, Jane correu segurando a lança com força. O medo que os animais tinham por Sabor chegara ao ridículo ― mesmo ela sendo velha até mesmo outros animas carnívoros pareciam respeitá-la a deixando dominar a selva como seu próprio e exclusivo reinado.

Porter poderia facilmente ignorá-la, mas ela havia atacado sua família. Proteger a família acima de tudo era o legado que aprendera com Kerchak e ela não seria uma mau aprendiz numa situação como aquela.

Ao chegar no local, a garota percebeu que as coisas estavam piores do que ela imaginava. A leopardo fêmea tinha a pelagem acinzentada e estava relativamente magra, entretanto, o olhar era gelado e cruel, fazendo-a engoli o seco.

Um grupo de filhotes estavam encostados em uma das árvores tremendo de medo. Sabor expôs os dentes e rugiu, andando devagar em direção a eles, entretanto, Kerchak pulou em suas costas antes que desse mais um passo.

Os gritos animalescos foram ouvidos por toda a selva e um silêncio que sussurrava terror fora instalado quando os dois se encaravam. A leopardo fora mais rápida em atacar, enfiando suas garras na face do primata, o distraindo. Entretanto, sua queda lhe fez bater a cabeça com força, o deixando zonzo e impossibilitado de levantar.

Percebendo a aproximação sorrateira de Sabor querendo aproveitar o momento de fraqueza de sua oponente, Jane sentiu um temor absurdo corroer seu corpo. Atirou a lança nas costas do animal impulsivamente, sem nenhum plano de ataque em mente.

Era burrice, ela sabia: atacar sem saber o que fazer depois era se entregar de mão beijada ao inimigo, contudo, ver seu líder e pai ser abatido daquela maneira lhe despertou o sentimento de proteção.

Os gorilas eram sua família e não há nada mais importante que a família.

A felina deslizou para o lado, pouco antes de ser atingida pela lança e olhou para a menina perversamente.

― Ora, ora. ― Sabor falou ― Vejo que encontrei mais desses por aqui. ― Seus passos eram calculados, em direção a sua presa. ― Tive o prazer de saborear a carne de vocês, humanos, antes. Deliciosa.

Jane estava furiosa.

Não podia ser, não havia ninguém como ela na selva. O que eram os humanos?

A menina equilibrou-se com os pés com dificuldade. As costas eram curvadas e os dedos simulavam garras. Não importava sua aparência ― ela andava como um macaco e agia como um. Os olhos azuis se deteram onde a lança estava, a dois metros de Sabor.

Teria que ser rápida para conseguir agarrar a lançar antes dela, então, correu sem antes responder as suas provocações. Percebendo o movimento de Jane, a leopardo saltou em sua direção, a atingindo antes que toca-se na lança. Soltou um grito de dor ao sentir as garras de sua oponente arranhar suas costas, mas conseguiu virar-se antes que ela fizesse um estrago maior. Segurou as patas da frente e empurrou seu corpo para cima com força. Sua pernas tremiam pois ela não era forte o bastante para segurá-la longe por muito tempo. Os rugidos de Sabor aumentavam cada vez que ela se esticava para arranhar o rosto do Jane. Seu peso parecia aumentar ao passar dos segundos e ela se via incapacitada de continuar afastando Sabor e para piorar sentia as costas afundarem como se estivesse deitada em um buraco. As feridas de suas costas ardiam cada vez que eram pressionadas contra a terra.

Ela precisava de um plano de contra-ataque rapidamente, mas não conseguiu pensar em um. As unhas de Sabor já arranhavam seu rosto superficialmente e era questão de tempo até que ela a desfigurasse. Com toda sua força, jogou o corpo da leopardo para o lado, porém, não imaginava que a queda faria o buraco mal coberto seria aberto fazendo as duas caírem.

Jane teve certeza que antes de cair, ouviu o grito de Kala.

O silêncio pairou entre as árvores. Ninguém sabia o que fazer a não ser esperar que Sabor saísse do grande buraco que fizeram com o corpo de Jane nos dentes. Um minuto se passou até que conseguiram enxergar a pele amarela e preta da leopardo tentando sair da armadilha da natureza. Imagine a surpresa quando perceberam que o rosto de Sabor estava imóvel e seu corpo mexia de forma estranha, como se alguém a carregasse. Logo viram o sangue pela sua barriga e as mãos de Jane sujas de vermelho. Ela jogou o corpo morto de Sabor no chão, respirando com dificuldade. As árvores estavam cheias dos expectadores gorilas que observavam a briga desde a sua chegada. De longe Kala, Terk e Tantor estavam boquiabertos com a cena em sua frente.

Jane matou Sabor e estava viva.

Seu corpo estava coberto de sangue, como se ela estivesse se banhado em um mar vermelho. Em sua mão trêmula havia a lança, o objeto que salvara de uma morte certa; solto-a enquanto encarava cada primata que estava escondido nas árvores e a Kerchark que acordava. Cerrou os punhos e bateu em seu colo de forma frenética enquanto soltava um grito animalesco, típico de um gorila. Seu ato fizera os outros comemorarem pela morte de Sabor como um presente concebido pela estranha garota.

Á parti daquele dia ninguém ousara duvidar a estadia de Jane na floresta e nas diversas línguas dos animais a chamavam de Rainha da Selva. 

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