II.

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No começo de sua adolescência, para os pais de John Clayton III, fora difícil aceitar que seu filho, o futuro Lorde Greystoke, queria se tornar um estudioso de animais, muito menos saber sobre gorilas. No entanto, a fama de sua inteligência e andança com o Professor Porter fez com que os aristocratas ingleses olhassem seu único filho com outros olhos. Logo, o tempo que ficava na biblioteca vidrado nos livros não era mais um pretexto para seu pai reclamar a falta de atenção que era lhe dada. Jonh sabia que seus pais estavam apenas preocupados com o futuro ― sendo o único filho legítimo de seu pai, estava em suas mãos toda a herança de uma das famílias mais ricas da Inglaterra.

Toda aquela responsabilidade, bailes, mães oferecendo suas filhas e escândalos que rodeavam a Alta Sociedade lhe fizera não hesitar quando o Professor Porter sujerira uma viajem até a selva africana. Percebera que ao começarem a viagem, seu amigo e mentor se isolara em sua cabine alegando mal estar, entretanto, John sabia que aquilo não se tratava de dor física, mas emocional. Michael nunca falava da sua família, mas o futuro Lorde Greystoke ouvira os boatos: sua mulher e filho foram mortos em um ataque de piratas durante uma das suas viagens a África, assim como toda a tripulação. Porter não costumava falar dele, porém quando citados na conversa era visível a dor em seus olhos.

Se não tivesse sido tão egoísta, não tinha deixado sua mulher grávida atrás de uma descoberta científica. Não importava o quanto Diana tivesse apoiado seu posicionamento.

Michael Porter nunca conheceu o seu filho. Ou filha ― quem saberia?

Durou meses até que eles chegassem ao destino final. John não escondeu a euforia ao ver as árvores e as aves no céu ― muito menos quando viu um vulcão bem ao longe. Professor Porter o segurou seu ombro com força e lhe deu um sorriso o motivando. Foram deixados na praia junto com Clayton, seu protetor e chará, com a promessa do capitão que voltariam em seis meses para buscá-los.

― Não vejo a hora de conhecer os gorilas. ― Comentou Professor Porter levantando sua cabeça para fitar o homem mais jovem.

― Acredita que eles vivem em grupo como sugeri? ― Perguntou John fitando as costas de Clayton que cortava os troncos que estavam a sua frente com a espada.

― Quem sabe? ― Ele deu os ombros mesmo achando que seu aprendiz estivesse certo não queria empolga-lo.

Jonh suspirou e apoiou o baú com suas tralhas nas costas, se martirizando por ter negado ajuda dos tripulantes horas atrozes quando seus pertences foram levados ao lugar do seu acampamento. Assim que começou a arrumar a cabana se livrou de seu casaco e dobrou as mangas da camisa. O calor do continente africano era maravilhoso ao contrário do clima inglês. Com um sorriso no rosto, ele deitou-se na trouxa de roupas relaxado. Ali ele não teria sua mãe lhe enchendo o saco para casar-lhe com uma das garotas sem graça da temporada; ou o seu pai querendo lhe arrastar para o escritório falando das responsabilidades que teria mesmo quando ele sabia tudo de trás para frente.

Por alguns meses estaria se livre dos dramas da alta sociedade e seria apenas um estudioso no meio da selva africana e quando voltar se casaria, teria os herdeiros que seus pais insistiam, e esperaria se tornar o Lorde Greystoke, mas até lá ele seria apenas um viajante.

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Naquela manhã, depois do desjejum, o Professor Porter já estava disposto a caminhar e procurar pelos gorilas. Estava tão distraído tentando gravar em sua memória cada detalhe da floresta que logo começara a ser deixado para trás por Clayton e o Professor. Uma coisa era estudar a natureza dentro de uma sala de aula e imagina-los como jardins, outra coisa era estar vivenciando aquilo. Não havia palavras para descrever o quão maravilhado John estava. Olhou para cima com os olhos brilhando ao fitar as aves de penagem vermelha e azul escura nunca vista antes por ele. O contraste com a luz do sol e o verde das árvores o fez desejar ser um bom pintor, pois aquilo daria um quadro perfeito para seu quarto. Deu um pulo quando, de repente, pisou em falso em algo que achara ser um sipó, até ouvi o grunhido de dor da criatura. O rato não tinha mais que cinco polegadas e a pele cinza. Arregalou os olhos ao perceber suas orelhas enormes e os pêlos arrepiados. O animal mostrou os dentes, pronto para dar o bote, mas ele ficou parado tentando ter certeza se deveria atacar.

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