Drogheda
Já estavam no início do inverno e Edward permanecia bastante ocupado. Embora quando estava com seus pacientes seus pensamentos fossem focados apenas em ajudá-los, Edward não conseguia deixar de imaginar como Jane e suas irmãs estariam. Preocupava-se tanto com todas que muitas vezes perdia o sono ou tinha terríveis pesadelos. Sonhava principalmente com aquela que ainda fazia o coração dele bater forte. Então acordava e lia algum versículo daquela velha bíblia que ela esquecera em Worthen e ele levara consigo, e seu coração consolava-se.
E ainda que Edward estivesse feliz em ajudar, nem sempre tinha sucesso em seus casos, afinal, ele não era uma divindade, mas apenas um homem. A justificativa que encontrava para dar às famílias era que as defesas de alguns eram mais fortes e de outros mais fracos e por isso não conseguiam resistir à doença. Essas famílias pareciam entender apesar da dor e mesmo quando um ente querido não conseguia sobreviver, eles o agradeciam por todo esforço e dedicação.
Nos jornais, Edward acompanhava a progressão daquela doença e apesar de a Inglaterra, Escócia e outros lugares também terem sido afetados por ela, a Irlanda era de longe o país que mais sofria. Ao ir à cidade, Edward se deparava com pessoas insanas e desesperadas. Nunca se esqueceria do dia em que, ao passar por Dublin, encontrara dois repórteres ingleses, estáticos com a visão degradada do país.
- Veja que tragédia, John Walter - comentava um dos jornalistas.
- Eu precisava ver com meus próprios olhos - disse o outro com indignação. - Não é possível que os nossos se fechem para o que está acontecendo. Como somos egoístas - retrucava pasmado.
Nesse mesmo dia em que encontrara os jornalistas, voltando para casa à tarde, foi abordado por um homem bastante diferente dos camponeses que sempre o procuravam. Era elegante, aquele cavalheiro. Vestia-se como se fosse um lorde, usava um chapéu preto no alto da cabeça e apoia-se numa bengala preta e reluzente, com a parte superior do cabo prateada.
- Por acaso é o Sr. Radford? - a voz grave o inquiriu.
- Sim, senhor - confirmou Edward, analisando-o.
- É o dono destas terras, não é mesmo? E também é médico? - Edward anuiu positivo e olhou-o, intrigado. - Sim, sua fama de médico corre por toda a vila de Drogheda, dizem até que o senhor é um anjo!
Edward desviou os olhos, incomodado.
- O senhor pode não gostar, mas é o que dizem - sorriu o cavalheiro com delicadeza.
Mais afável, Edward ergueu os olhos para ele.
- Não faço nada de mais, senhor. Espero que saiba que não opero milagres e que nem todos os que passam pelas minhas mãos... se salvam. - Edward comprimiu os lábios e vagou por alguns instantes, sentindo um peso invisível pairar sobre ele. Era difícil perder alguém mesmo que ele sequer conhecesse a pessoa.
- Entendo. Ainda assim, esses camponeses depositam muita confiança no senhor. - O homem elegante tirou o chapéu e suplicou: - Peço humildemente que veja minha filha e tente ajudá-la. Estou disposto a pagar o quanto quiser para que faça de tudo para salvá-la.
- Eu não cobro para ver meus pacientes, apenas leve-me até sua filha - pediu Edward.
O homem elegante o encarou com um brilho de gratidão nos olhos e levou-o, com a carruagem que os aguardava, até sua grande propriedade. Por dentro, a casa era ricamente decorada com móveis finos, quadros com pinturas sofisticados e era notável que aquele homem possuía uma boa fortuna. Mas, como constatou Edward, as doenças não distinguiam entre velhos e jovens, pobres e ricos. Ela simplesmente infiltrava-se entre eles independente da posição social.
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Tudo o Que Mais Importa (Versão Wattpad)
Historical Fiction[ESTE LIVRO NÃO CONTÉM CENAS HOTS] Todos os direitos autorais reservados a Naiara Aimeé. Proibida a copia ou reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Registro na biblioteca nacional. *PLÁGIO É CRIME!* Podendo haver pena - detenç...