Capítulo 4

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Chang abriu a porta do dormitório lentamente, temendo flagrar alguma situação que o deixasse traumatizado. Ele entrou no quarto e foi caminhando até a pequena cama, se segurando para não rir com a cena:

Jack respirava alto, dormindo enquanto era esmagado pelo corpo de Brian, que estava parcialmente em cima dele. O baterista também roncava, seu rosto enfiado no pescoço do guitarrista, seu braço direito segurando-o possessivamente pela cintura, como se abraçasse um ursinho de pelúcia.


O japonês observou a cena por alguns minutos, reparando em cada detalhe. Então ele virou, pegou um cobertor e cobriu-os, fechando a porta do quarto atrás de si, resolvendo ir pra casa.

Quem sabe o dia seguinte os faria parar de serem burros um com o outro.

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Janeiro de 1988.


Kyle observava enquanto Jack e Brian conversavam um com outro, trocando idéias sobre as músicas que eles tinham recém-gravado enquanto esperavam pela mixagem.

Apesar do que muitos deviam pensar, Kyle não era nem um pouco cego. Ele vira desde o começo a atração forte que havia entre os dois. Mas o tecladista achara que nunca daria em nada, pois Jack não dera sinal algum de que ele agiria em relação à essa atração. E Brian...bem, Brian aceitou seus avanços sem protesto algum, prova que eles estavam nesse 'rolo' há quase dois anos.

Mas alguma coisa mudara. Para ser exato, desde que eles descobriram que tinham sido contratados por uma gravadora.

Ele só não sabia dizer o que exatamente havia mudado.

– Kyle? Arraste-se pra cá imediatamente, precisamos da sua ajuda! - gritou Brian do outro lado da sala, já puxando uma cadeira para seu lado.

Chang observava a interação entre os três com Chris ao seu lado. O vocalista lia avidamente as letras das músicas que ele logo gravaria, agora que a parte instrumental estava noventa por cento finalizada. Sem tirar os olhos do papel, ele murmurou:

– Chang, por um acaso o Jack e o Brian já tiveram um caso antes do Brian e o Kyle ficarem juntos?

A pergunta pegou o japonês de surpresa. Ele tirou os olhos do seu instrumento para encarar o vocalista, arqueando a sobrancelha.

– Não...por quê?

Chris finalmente retirou os olhos dos papéis que segurava para encarar o baixista. Ele olhou de esguelha para o trio no outro canto da sala antes de voltar novamente a encarar Chang.

– Tem certeza?

Chang apenas riu baixo, voltando a olhar seu instrumento, anotando algumas coisas na partitura. Chris se aproximou mais.

– Eu estou falando sério Chang.

O japonês colocou seu instrumento no colo, encarando o vocalista novamente.

– Não, eles nunca tiveram nada. Porque são dois idiotas.

Chris ergueu as duas sobrancelhas com a resposta e Chang apenas deu de ombros, olhando de esguelha para o trio. O vocalista olhou de lado e logo sua expressão foi de surpresa.

– Ah, entendo.

O baixista riu baixo, voltando a praticar no seu instrumento.

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Jack acordou de repente com o barulho do telefone tocando sem parar. Ele afastou os cabelos bagunçados do rosto e procurou pelo aparelho, quase derrubando-o do criado mudo ao lado da sua cama.

Nas Sombras de um SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora