Epílogo

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Epílogo - Verdadeiro

Não havia como descrever aquela manhã. Não havia palavras em meu vocabulário que pudesse expressar com fidelidade o sentimento ímpar que me tomou ao estar com Peeta. Não que soubéssemos exatamente o que fazer, foi totalmente instintivo. Nem Peeta nem eu seguimos um raciocínio lógico, apenas nos deixamos levar por algo que queríamos desesperadamente. Mas talvez essa ingenuidade de ambos no assunto, só tenha tornado tudo ainda mais intenso. Não havia espaço para mais nada que não fosse ele, aquele momento.

Acabei pegando no sono um tempo após me deitar de costas na cama, ofegante devido a novidade de tudo o que acabara de ocorrer. E um tempo depois - não saberia dizer exatamente quanto - abri os olhos para uma claridade digna de uma tarde ensolarada.

Pisquei para me habituar a luz forte e virei a cabeça ligeiramente para o lado, encontrando os olhos azuis de Peeta abertos, me analisando como se quisesse gravar cada detalhe meu na memória. Eu corei. Estava nua afinal e era difícil me acostumar com isso. Mesmo depois de tudo, eu me sentia envergonhada com o olhar intenso dele.

- Boa tarde. - murmurou ele, a voz rouca trazendo-me lembranças de algumas horas - minutos? - antes.

- Boa tarde. - sussurrei de volta.

Ele sorriu ao ouvir minha voz e estendeu sua mão, tocando meu rosto.

- Hmmm... - ele suspirou. - Você fica linda quando acorda.

- É a segunda vez no dia que eu acordo ao seu lado. - lembrei-lhe, uma vez que ele não fizera o comentário antes.

- E é a segunda vez no dia em que observo isso. Só não tinha dito em voz alta antes. - ele deu de ombros, ainda sorrindo.

- Você é inacreditável, Peeta. - falei, desviando meu olhar do seu.

- E é a segunda vez no dia que você me diz isso. - provocou e eu não consegui reprimir um suspiro com a lembrança das circunstancias anteriores, nas quais eu disse essa frase. - Você fica linda quando cora, também. - acrescentou.

- Está me deixando envergonhada. - admiti.

- Esse é o objetivo. - ele piscou.

Eu arfei, descrente pela sua frase e ele gargalhou. Fechei a cara.

- Eu vou tomar um banho. - anunciei, sentando-me na cama e enrolando o lençol em meu corpo.

- Ei, espera! - ele pediu, segurando meus ombros e virando-me para que eu pudesse olhá-lo. - Foi só uma brincadeira, não precisa ficar irritada. - explicou-se. - Mas ainda assim é verdade: você é linda, Katniss. - a intensidade com que ele pronunciou a frase fez-me pensar no que havíamos feito e eu corei ainda mais. - Hoje foi... Uou! Eu não sei o que dizer, eu... Eu te amo, Katniss.

- Você me ama. - repeti, com espanto.

- Desde os cinco anos. - deu de ombros. - Pensei que soubesse.

- Não depois do que Snow fez. Pensei que isso tivesse mudado. - confessei.

- Há lembranças que eles não puderam tocar. - esclareceu com um sorriso, soltando uma das mãos do meu ombro e acariciando meu rosto. - E principalmente, há sentimentos que eles não puderam aniquilar. - Peeta se inclinou um pouco em minha direção e fechou os olhos inspirando profundamente. - Sabe, alguns dizem que o ódio é o sentimento inverso do amor. Talvez pela magnitude em que ambos se propagam no coração, não sei dizer ao certo. Mas de uma coisa eu tenho certeza: você não consegue odiar alguém que não tenha amado. O ódio é intenso demais, não há como sentir isso por qualquer pessoa. E foi a mistura do meu amor por você com a culpa que lhe atribuíram em relação a todas as mortes que fez-me sentir isso. Por que quando você ama alguém, e essa pessoa te decepciona... Bom, isso dá espaço ao ódio. E foi o que aconteceu. - seus olhos de abriram para os meus, a tonalidade perfeita de azul, a mais bonita. Vi-me desconcertada por seu olhar, suas palavras. Ele suspirou. - Mas isso não permaneceu, porque, na verdade, a culpa não era sua. Você era tão vítima do sistema quanto eu e estava fazendo o que podia para nos livrar do governo opressivo. E isso fez o ódio recuar e o amor voltou com força total.

- Peeta... - sussurrei seu nome, porque nada mais me vinha à mente. Eu só conseguia pensar nele. Peeta, Peeta, Peeta... Seu nome se repetia em minha cabeça e eu tive vontade de calá-lo com beijo. Não porque não o quisesse ouvir, mas porque não queria deixar que distância alguma crescesse entre nós. Não agora.

- Katniss, os acontecimentos me amadureceram. E o meu amor amadureceu junto comigo. - ele pausou por um momento para sondar meus olhos. - O amor que eu senti por você quando criança e, mais tarde, na adolescência, era um ínfimo grão de areia perto do que o que sinto agora. Por que eu aprendi a te enxergar, Katniss. Eu aprendi a amá-la da forma certa. Percebi que você é ainda mais incrível do que eu imaginara.

Eu não pude mais me conter, apenas avancei, tocando seus lábios nos meus com paixão. Ele levou a mão ao meu rosto segurando-me ali. Aproximei-me mais dele e a ansiedade por estar perto fez o lençol escorregar em meu corpo, deixando-me exposta novamente e o toque de pele com pele fê-lo arrepiar, tal com a mim.

- Espera. - pediu, a voz rouca e os olhos escuros de desejo.

- Hmm?

- Eu preciso saber. - ele hesitou, parecendo nervoso. - Eu preciso confirmar... - Peeta respirou profundamente antes de continuar. - Você me ama: Verdadeiro ou falso? - indagou.

E em resposta a isso, meu cérebro fez uma retrospectiva dos eventos que me levaram a ele e do que nos afastaram. Lembrei do nosso primeiro contato, ainda crianças, quando ele me jogara o pão; lembrei dos Jogos Vorazes e do Massacre Quaternário, onde fizemos de tudo para proteger um ao outro. Dos seus beijos e desta manhã, onde entregamo-nos sem reservas. Por fim, analisei o momento. O agora. Os sentimentos que me dominavam ao fitar seus olhos azuis hipnotizantes. E enfim pude chegar a uma conclusão real.

- Verdadeiro. - respondi sendo atingida pela verdade dessas palavras e permitindo-me, finalmente, admitir isso sem reservas.

Sim, eu verdadeiramente amava Peeta Mellark. Meu garoto com o pão.

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