Capítulo 3 - Imperfeitos

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Capítulo 3 – Imperfeitos

"Parecia outra vida: eu, meio deitada, meio sentada na cama com o pé machucado enquanto observava-o; seus cílios louros iluminados pela luz da tarde que ultrapassava a janela, seus olhos azuis focados, a expressão concentrada enquanto as mãos trabalhavam sem cessar no desenho que ele fazia no livro de plantas da minha família. Peeta estava sentado ao meu lado na cama, um sorriso sereno pairando nos lábios.

Eu desfrutava da calmaria, parecia que fazia um século inteiro que eu não me sentia assim, em paz. Eu queria sorrir, abraçá-lo e enterrar meu rosto em seu peito, sentir toda calma que ele me transmitia; porém me contentei em fitá-lo.

Também havia aquela sensação de déjá vu, como se eu já tivesse vivido isso antes; mas não me importei no início, estava feliz como estava; não havia nada além de nós dois no mundo, nada além desse momento de paz.

E então ele parou. Parou de desenhar e o senti ficar rígido de repente: o maxilar trancado, as pupilas dilatadas, e assim, de repente, a paz se fora. E em seu lugar vinha o medo, a tensão e a certeza de que eu não conseguiria ajudá-lo nesse momento de crise.

— Peeta! – sussurrei baixinho. – Peeta, você... você vai ficar bem. Estou com você. – eu simplesmente não sabia o que dizer ou fazer para trazê-lo de volta, e ele permanecia calado,sem reação alguma.

— Katniss... – disse Peeta depois de longos minutos tentando fazê-lo reagir. Eu suspirei aliviada.

—Oh, Peeta!

— Katniss... Katniss... Katniss... – mas ele não me olhava em quanto repetia o meu nome, ele mantinha os olhos em algum ponto atrás de mim e eu me virei insegura e temerosa. E então gelei. Meu coração acelerou e eu não conseguia mais respirar. Um cheiro doce e enjoativo de rosas e sangue assaltou meu olfato me deixando enjoada. Uma risada agourenta ecoou pelo meu quarto, aterrorizante; principalmente quando combinada aos sussurros inquietantes de Peeta.

— Srta. Everdeen. – disse a voz que eu pensei que nunca mais ouviria.

— Você... Você está morto. – foi só o que consegui dizer com a voz engasgada.

Snow riu novamente, debochando.

— Ah, Everdeen. Não faz diferença, eu consegui acabar com você... Fiz bem em não ter te matado antes. Você sofre agora!

Eu ofeguei e me encolhi e Peeta continuava sussurrando meu nome, enquanto encarava Snow com a expressão fria.

— Você está morto. Isso não é real, você está morto. - repeti, fechando os olhos tentando fazer com que ele sumisse da minha frente e Peeta voltasse ao normal.

— Ele nunca vai melhorar, Srta. Everdeen. – ele riu deliciando-se quando meus olhos arregalaram com sua declaração. – Eu o fiz por isso, sabia que acabaria com você vê-lo assim. Ele agora não passa de um louco; o veneno o transformou e ele nunca será o mesmo, nunca terá o verdadeiro Peeta Mellark de volta.

Eu queria chorar, queria gritar e queria que Snow sumisse e queria que Peeta voltasse ao normal.

— Vai embora! Vai embora! – gritei. – Você está morto, está morto... – eu repetia isso como se fosse um mantra. – Está morto."

Abri os olhos e ouvi um murmúrio de agradecimento e senti uma mão na minha testa.

— Oh, graças à Deus, Katniss!

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