Capítulo 6 - Paz Entre Chamas

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Capítulo 6 – Paz Entre Chamas

O inferno retornou durante a madrugada.

Acordei transpirando e ofegando, um grito agudo saindo pelos lábios antes que me desse conta de que nada daquilo realmente ocorrera. Suspirei. Eu podia jurar que o cheiro de rosas era real, enquanto era enterrada viva na terra escura da floresta.

- Katniss? – uma voz sussurrou e meu coração parou. A porta de meu quarto se abriu um pouco e Peeta colocou a cabeça para dentro, parecendo preocupado.

- Estou aqui. – sussurrei, sentando-me na cama. Era engraçado, mas sua presença trazia-me uma calma que eu jamais imaginaria sentir após um pesadelo.

Ele então entrou, analisando o quarto como se nunca o tivesse visto antes e, timidamente, sentou-se na beirada da minha cama, fitando-me com seus olhos azuis, os quais brilhavam no escuro.

- Esta tudo bem? Eu... ouvi seus gritos da minha casa.

- Pesadelos. – dei de ombros.

- Eu também os tenho. Mesmo embora alguns sejam relacionados à memórias falsas. – comentou, sem tirar os olhos dos meus por um segundo sequer.

- São uma rotina para mim já. – confessei. – Desde o fim dos primeiros jogos. Simplesmente não consigo me livrar deles.

- É, eu me lembro de algumas noites no trem, onde nós dormíamos juntos para espantar os pesadelos. – murmurou, pensativo. – Verdadeiro ou falso? – questionou, voltando seu olhar para o meu.

- Verdadeiro. – sussurrei de volta. – Você era o único que conseguia expulsar os meus pesadelos. – meus lábios se curvaram em um meio sorriso. – Sinto falta disso. – soltei sem pensar.

- Eu poderia ficar, se quiser? – sua voz era tão insegura que a frase pareceu uma pergunta.

- Não quero atrapalhar, Peeta. – mordi o lábio inferior.

- Não atrapalha. – ele hesitou. – Você também era a única que conseguia expulsar meus pesadelos, afinal. – ele deu de ombros como se não fosse grande coisa. – Não é como se ficar aqui fosse um ato abnegado. Está mais para egoísta, se quer saber.

Eu ri.

- Tudo bem, então. –concluí. – Você pode ficar.

Ele sorriu e eu me afastei um pouco para o lado, dando-lhe espaço para que pudesse se deitar. Ele o fez devagar, como se testando meus limites, tentando identificar se havia algum sinal de receio em meus olhos. Creio que não tenha encontrado nenhum, uma vez que deu de ombros e se acomodou ao meu lado na cama.

Fiquei meio insegura no início, afinal, fazia tempo desde que dormimos juntos no trem da turnê dos vitoriosos; mas Peeta sempre teve essa presença reconfortante, e fez-me ficar a vontade logo. Com um suspiro, movi-me na cama e me aproximei dele, descansando a cabeça em seu peito. Ele também suspirou, parecendo satisfeito e foi como se tudo tivesse valido a pena, só por essa paz, por esse momento. Não pude me impedir de sorrir, pouco antes da inconsciência me tomar, levando-me para um sono tranquilo, tal como eu não tinha há meses.

***

Despertei pela manhã com a luz do sol forte batendo em meu rosto. Pisquei e esfreguei meus olhos aguardando que se acostumassem com a claridade. As memórias da noite anterior inundaram minha mente e eu sorri, sentindo-me completamente descansada, como há muito não me sentia. Virei-me para o lado e encontrei a cama vazia. Provavelmente já era tarde demais para os hábitos de padeiro de Peeta. Isso me desanimou um pouquinho, quero dizer, eu esperava acordar e encontrar seus olhos azuis, trazendo-me a paz e o contentamento que só ele conseguia.

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