Capítulo 4 - Floresta Invernal

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Capítulo 4 – Floresta Invernal

Uma sensação agradável me tomou pela manhã, logo que meus olhos se abriram. Eu não sabia o motivo, sequer sabia se estava ficando louca, afinal eu acabara de ter um pesadelo horrível, como todas as noites. Mas talvez essa sensação fosse exatamente devido a isso. Fora só um pesadelo e a luz do amanhecer trazia consigo a esperança de dias melhores.

Eu não sabia por quanto tempo essa sensação duraria, ou mesmo essa linhagem de raciocínio, então decidi aproveitar. Há quanto tempo eu não ia à floresta? Desde que entrara no trem rumo ao Massacre Quaternário, na verdade. Decidi que já estava na hora de um reencontro com minha velha amiga e, quem sabe essa sensação perdurasse enquanto estivesse cercada pela brisa fresca das árvores.

Não tardei em sair de casa vestindo o casaco de caça de meu pai e botas, carregando meu arco na mão e a aljava de flechas nas costas. Uma breve caminhada até o local onde costumava passar pela cerca me fez notar o quão diferente estava o distrito. É claro que ainda era um amontoado de escombros e cinzas, mas havia pequenas casas além da Vila dos Vitoriosos e tratores e caminhões retirando os entulhos para iniciar a reconstrução do distrito. A cerca que eu costumava atravessar não mais existia e tinha a impressão de que jamais existiria, afinal, conhecia Paylor o suficiente para saber que ela não governaria com base na opressão.

Senti-me em casa no momento em que pisei na floresta: os únicos sons audíveis eram o canto dos pássaros e meus passos silenciosos. Eu quase sorri quando uma brisa gélida tocou meu rosto, dando-me as boas vindas. A floresta não estava nem de longe tão vívida quanto da última vez em que estive aqui, mas eu ainda podia sentir a sensação de familiaridade que ela me proporcionava, a qual fora meu objetivo desde o momento em que abri meus olhos pela manhã.

Aqui eu podia fingir que todos os fatos traumáticos que me ocorreram não passaram de meros pesadelos; que eu ainda tinha uma família me esperando em casa, que os jogos não eram uma lembrança constante em meus pensamentos, que Gale a qualquer momento apareceria para que caçássemos juntos e que Peeta jamais fora prejudicado por meus atos impulsivos.

Afastei esses pensamentos. Queria manter-me sã o máximo possível; ao menos durante o tempo em que estava sozinha aqui, cercada pela floresta invernal.

A paisagem melancólica de inverno não era de todo desagradável, era bela a seu modo – nada extravagante e brilhante como as cores da primavera, mas ainda assim, bonita. Uma beleza sutil, porém inegável: o solo nu sob meus pés – a terra marrom exposta, as árvores despidas dando um ar místico à paisagem, com os galhos secos estendidos em direção ao céu cinzento.

Eu caminhava com cautela em meio as árvores secas, tentando manter-me silenciosa. Não era meu intuito caçar, mas estaria prevenida caso algum animal desavisado decidisse dar as caras; Peeta adoraria cozinhar um esquilo fresco, ou mesmo um peru selvagem. Contudo nenhum animal apareceu pelo caminho e após uns bons metros de caminhada, resolvi sentar-me sob uma árvore e descansar por uns breves minutos. Pousei o arco no chão gélido e recostei-me no tronco frio, fechando os olhos por alguns segundos...

"Abri os olhos para um cenário completamente diferente. Sentia a claustrofobia por conta das paredes brancas – não haviam portas ou janelas no cômodo, apenas uma tela grande em uma das quatro paredes, a qual estava ligada, exibindo Ceasar – com seus cabelos e roupas azuis, e os mesmos modos entusiasmados de sempre. Pelo jeito que agia, deduzi que ele estava entrevistando alguém. Logo esta suposição foi confirmada, quando a câmera desviou do apresentador extravagante e focou na pessoa entrevistada. Era Peeta. Ele parecia cansado, com imensas olheiras escuras sob os olhos e estava mais magro, as maças do rosto acentuadas. Meu coração acelerou ao vê-lo – de ansiedade? De medo? Eu não sabia. – e imediatamente identifiquei o cômodo onde me encontrava, como sendo parte do Distrito 13.

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