Capítulo 1 - Leandro

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Isso é muito mais que a realização de um sonho. Entrar pelo portão da frente da Universidade de São Miguel como um aluno é algo que para mim ainda é difícil de explicar. Contei cada segundo até que esse dia chegasse.

Cumprimento os caras que já me conhecem por ser o irmão caçula do capitão do time de futebol. Quer saber? Eu adoro esse título. Eu nunca quis ser nada além do que o irmão do melhor jogador que essa universidade um dia vai conhecer. Eles me param de metro em metro para me dar boas vindas ou perguntarem se eu quero ir em alguma festa nessa semana em comemoração ao começo do semestre. As famosas resenhas universitárias. Aquelas que eu pretendo frequentar sem deixar uma sequer para trás.

Vejo Fred com alguns amigos rindo em um círculo e ele logo me vê. Sai do meio dos amigos e vem para perto de mim.

- E aí, cara. Tá preparado? Eu ia passar no alojamento para te trazer, mas o Tuca disse que viria com você, cadê ele? – meu irmão pergunta olhando para os lados, a procura do nosso melhor amigo.

- Eu não preciso de uma babá para me vigiar, nem me trazer para a aula, Frederico. – ele detesta quando eu o chamo pelo nome inteiro. – Sei andar sozinho, se é que você não sabe disso.

Meu irmão bufa e revira os olhos.

- Não se trata disso, é só que... – ele pausa e olha para mim. – É seu primeiro dia aqui. Por mais que você tenha conhecido todos os caminhos nos últimos dias, não quero que você corra o risco de se perder por aí.

- Caralho, Fred. Eu tenho 20 anos, sabia disso? E se eu ficar perdido nesse lugar, o máximo que vai acontecer é eu pegar a porra do telefone e te ligar pra saber onde eu estou. Se eu soubesse que ia sair de casa pra sair de baixo da barra da saia da mamãe e entrar de baixo da sua, eu teria ficado por lá mesmo. Sei me virar sozinho.

- Eu sei que você sabe. – meu irmão retorce os lábios numa careta e bagunça meus cabelos. – É só preocupação de irmão mais velho. Foi mal. Quer que eu vá contigo até a porta da sala?

- Não, obrigado. Vá pra sua aula e me deixe em paz no meu primeiro dia. Prometo que estarei vivo até o meio-dia.

Fred dá uma risada.

- Assim eu espero. Te vejo mais tarde. Se cuida.

- Você também.

Dou meia volta com a minha cadeira e sigo pelo corredor norte da universidade que me levará para o prédio de Direito. Eu sei que pra muita gente é estranho ver um cadeirante frequentando uma universidade. As vezes as pessoas esquecem que nós somos pessoas como quaisquer outras e acabam fazendo cara de "pobrezinho, ele anda nessa coisa?" para mim e para outros portadores de necessidades especiais, mas há muito tempo eu já deixei de me importar com isso. Eu não tenho que provar pra eles e nem para ninguém que sou capaz de nada. As pessoas com as quais eu me importo sempre souberam de todos os meus sonhos e o quão teimoso eu sou para correr atrás de todos eles.

Assim que chego à porta do prédio, uma rampa adaptada já me aguarda. A universidade de São Miguel passou por reformas recentes e vários prédios receberam adaptações para cadeirantes, como as rampas e as barras nos banheiro, além de espaços maiores nas salas, destinados as cadeiras.

Subo a rampa devagar até chegar no outro nível, indo direto para a sala 11. Enquanto faço a cadeira andar, algumas meninas me veem e começam a rir, cochichando alguma coisa. Uma delas sai do grupo e vem ao meu encontro.

- Ei!

- Oi. E aí? – pergunto para a morena que está vestida em um jeans apertado e uma camiseta rosa que deixa bastante para a imaginação.

Enquanto Você Respirar (DEGUSTAÇÃO - Completo na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora