Enquanto Você Respirar (DEGUSTAÇÃO - Completo na Amazon)

Capítulo 10 - Cindy

- Mesa doze! – Pablo grita da cozinha e corro para pegar o pedido. São dois hambúrgueres e batatas fritas. Ajeito a bandeja com cuidado no braço enquanto caminho entre as mesas até chegar ao outro lado da lanchonete. Sirvo aos dois rapazes que fizeram o pedido e tento ignorar o olhar que eles estão me lançando. Coloco seus pedidos em frente a cada um deles e já vou dando meia volta quando um dos dois fala:

- Se você não tiver nada para mais tarde, posso te entreter, bebê. Tenho certeza que você vai adorar o que eu tenho guardado aqui para você. – o outro ri e completa:

- Será que ela gostaria de uma surpresa em dose dupla? – e então eles gargalham enquanto eu bufo e caminho de volta para trás do balcão. Eu odeio esse emprego. Odeio com todas as minhas forças, mas foi a única coisa de meio período que eu consegui. Eu até tentei o emprego de babá, mas não durou dois dias. A garota pintou meu cabelo com tinta guache enquanto eu lia o seu dever para casa e o garoto parecia um furacão desgovernado e quebrou metade da casa em apenas doze horas em que estive com eles. A lanchonete foi um dos únicos lugares que estavam compatíveis com o que eu preciso. Aliás, mais ou menos.

Antes de entrar para o balcão, meus olhos são atraídos para o jukebox e então vejo a capa do CD dos Hanson lá. Meu coração acelera e por alguns segundos fico perdida no meio dos meus pensamentos. Já faz duas semanas desde aquele dia e eu ainda posso ouvir claramente a voz de Leandro cantarolando Save Me.

Ele mudou completamente comigo desde aquele dia. E eu, sinceramente, não sei se posso julgá-lo, já que, quem saiu correndo naquela manhã fui eu. Eu não teria coragem de encarar Leandro quando ele acordasse, simplesmente não conseguiria. Mas, bom, aquela música foi pra mim, certo? A verdade é que eu nunca vou saber, porque eu acordei naquela manhã e simplesmente fugi, deixando um recado agradecendo pela pizza, o refrigerante e o show de violão e mais que depressa corri para o meu quarto. E aí ele simplesmente brinca comigo, faz as piadinhas de sempre, mas a proximidade? É palpável o quanto ela não existe mais. Tanto que eu sinto um vazio enorme toda vez que a gente está perto um do outro, o que não tem acontecido muito, já que eu arrumei esse belíssimo emprego.

O dinheiro é considerável e o que mais me chamou atenção foi o horário, mas, para ser sincera, não estou conseguindo conciliar muito bem os estudos com ele. Meus minutos de intervalo são mínimos e mal dá tempo de ler uma ou duas páginas de algum artigo ou de um livro para os trabalhos e as provas. Chego no campus exausta e quando tento estudar, acabo dormindo em cima do meu material. Todos os dias que venho para cá, penso que só estou aqui porque realmente preciso muito desse dinheiro, muito mesmo!

Sou chamada para mais uma rodada de entregas e pego a comida voltando para o lado de fora do balcão. Meu chefe é um velho que é barraqueiro, nem um pouco higiênico e que adora gritar com as pessoas. Fico morrendo de dó dos garotos da cozinha quando eles fazem alguma coisa errada. É um inferno a gritaria.

Enquanto entrego alguns dos pratos, vejo os meninos do time de futebol entrando pela porta do meio da lanchonete. Eles são uns oito no total e falam alto, brincando entre si. Fred está entre eles, vejo assim que ele vira o boné para trás, fazendo com que meu coração acelere devida sua semelhança espantosa com o irmão mais novo. Aproveito que estou livre após os últimos pedidos e vou até eles.

- Boa tarde, meninos. O que vocês vão querer pra hoje? – pego meu bloquinho para anotar.

- E aí, Cindy? Me manda aquele X-burguer maneiro com uma coca, por favor. – Marcão me fala.

- Eu não sabia que você estava trabalhando aqui agora. – Fred me olha e fala. – Tá tudo bem com você?

- Oi, Fred. – sorrio para ele e aceno rapidamente enquanto anoto o pedido de Marcão. – Tem só duas semanas, é recente. E sim, estou bem, obrigada! O que posso pedir para você?