Aquele Amor.

Capítulo 6 - Parte 1.

Luísa:

Um mês todo fugindo de Otávio, tirando nos ensaios, eu não conseguia estar perto dele...simplesmente não dava! Só que hoje não tem jeito, a Festa. Hoje precisamos pagar de netos maravilhosos e primos "melhores amigos", a primeira parte é fácil quem não ama seus avós?!

A mulherada toda fechou um salão e estamos todas lindas com bobs nos cabelos, unhas sendo feitas e escolhas para maquiagem. Mamãe e tia Liv estão que não se aguentam, tia Lia fica atrás de Mia para não esquecer de comer nas horas certas por causa do bebê. O restante das minhas primas estão confabulando entre si e eu me sentindo alheia a tudo isso.

- Lú?

- Oi Mad..- dou um sorriso fraco para minha cunhada que se senta ao meu lado.

- Justo hoje deixou a máscara de moça controlada cair amiga?

Respiro fundo e tento me concentrar em outra coisa. Mad me conhece, nesse momento não sei se é bom ou ruim, só que ela fica a todo momento me dando um sorriso fraterno ou me fazendo rir.

Tomamos champanhe, relembramos a infância e demos muita risada. Viu? foi fácil tirar Tavinho da cabeça. -Droga! Eu tava quase! - praguejo mentalmente focando na conversa animada das minhas primas.

- Cara, aquele dia na casa do lago foi tenso! Matt e Tavinho nos assustaram de acordo. - Lara gargalha virando sua taça.

Larinha estava se referindo ao dia que os mais atentados e mais velho dos meninos, resolveram contar histórias de terror e claro que nós todas, muito medrosas, quase infartamos quando eles se vestiram de palhaços e saíram do meio da mata.

*****

Me olho no espelho e nem parece que estou indo para a festa de bodas de diamantes dos meus avós e sim para um velório. Encaro mais uma vez o anel que James me deu e novamente dou um suspiro pesado.

Talvez voltar não tenha sido uma ideia tão boa assim, achei que tinha enterrado Otávio e tudo que vinha com ele. Mas bastou ver aquele bastardo sorrindo e aquilo que quis tanto esconder voltou com força.

Torno a encarar meu reflexo e não gosto do que vejo. Espero que a maquiagem e cabelos perfeitos consigam esconder tudo o que meu coração quer deixar escapar pela boca.

Pego minha bolsa e desço para a sala de encontro a minha família, sorrio, mas Matteo me conhece como ninguém, dá um aceno discreto de cabeça como quem diz "vai dar tudo certo" e pega minha mão.

Mamãe e papai seguem com Isadora no carro deles enquanto nós dois vamos pegar Mad.

- Lú?

- Oi Matt - olho a paisagem com medo de encarar meu irmão.

- Por que você não assume?

- Assumir o que?

-Luísa, quer enganar a mim? Justo a mim? Aquele que dividiu o útero contigo? - estaciona o carro na porta do prédio de sua noiva.

- Eu realmente não sei o que assumir Matteo. - olho para ele buscando uma resposta.

Ele entende que não há muito o que discutir, liga para Mad e logo estamos os três seguindo para a festa.

*****

- Mas você está ainda mais linda Luísa! Como cresceu! Reconheceu meu vestido? É um dos seus!! - uma das amigas de minha mãe diz toda empolgada exibindo um dos meus modelitos da última coleção. 

-Ah sim! Esse corte caiu muito bem na senhora. -tento parecer o mais sincera possível, pelo sorrio de hiena que  mulher deu, acho que acabei conseguindo.

Fugi de Otávio como diabo corre da cruz. Estava indo muito bem até que a fotografa pede para juntar todos para a foto de família.

- Oi florzinha..- sussurra em meu ouvido se postando do meu lado com a mão na minha cintura.

-Otávio..-dou um sorriso forçado e tiro sua mão que me abraça. 

- Cadê o tapete persa? 

- Não é da sua conta..-conversamos rindo e fazendo poses como se fossemos os melhores amigos do mundo.

- Meu..eu não ia deixar minha noiva gostosa numa festa dessa sozinha 

- Ainda bem que ele não é você . - dessa vez não consegui segurar minha cara de ódio. 

Posamos todos juntos, depois cada filho com sua respectiva família, todos nós da última geração e quando estou quase me livrando o safado me segura pelo braço: - Agora eu e você Luluzinha..- agravando minha situação, vovó praticamente me implora pelo olhar e todos concordam com a cabeça.  

Qual é a do complô? - penso olhando em volta mais uma vez. Sem escapatória, respiro fundo e me posto na maior elegância que posso sorrindo como se fosse o momento mais feliz do mundo.

Assim que o fotógrafo captura o momento me afasto de Otávio.

- Conseguiu o que queria, me deixe em paz. - limpo a bochecha que ele beijou e saio pisando duro.

Consegui realmente me distrair durante a festa.

O champanhe ajudou é claro...

Minha mente viaja entre passado e presente...

Sempre será especial para mim..- a frase preferida dele invade meus pensamentos, custava tanto assumir que me amava?

Por Deus!!

O que fiz de tão mal para merecer tal castigo de ainda pensar em Otávio.

E para aumentar ainda mais meu desespero...a mestre se cerimônia chama a família para a pista de dança.

Chegou a hora...

De imediato os olhos de Tavinho encontram os meus, ali encontro um misto de emoções, vejo receio e desejo quente..puro e simples.

Por um momento o mundo parece parar de girar e tudo passa a ser em câmera lenta.

E como ensaiado, Meus avós vão para o centro da pista enquanto suas gerações formam um grande círculo em volta.

Spanish Guitar - Toni Braxton começa gelando minha espinha, sem desviar o olhar encaro Otávio na mesma intensidade, nossas mãos se encontram enquanto uma dele vai para minha cintura e a minha mão livre vai para seu ombro.

Não resisto e acario o lugar.

"...Eu queria estar nos seus braços
Como aquele violão espanhol
E você me tocaria a noite toda
Até o amanhecer
Eu queria que você me tivesse em seus braços
Como aquele violão espanhol
Toda a noite, toda a noite
Eu seria sua música, eu seria sua música.." - sem me dar conta estou sussurrando a letra, sem errar nenhum passo, rodamos pelo salão e nesse momento não existe nada ao redor.

Otávio me gira, beija minha mão e me puxa de volta. Continuamos nossa dança única, mesmo sendo copiados por todos na pista.

"..Rouba meu coração com cada nota que você toca
Eu rezo pra você me notar
E me ter no seu coração algum dia
Eu queria ser a pessoa que você acaricia com suavidade
Mas você não sabe
Você nem sabe que eu existo..."- engulo a saliva com dificuldade, de repente ficou difícil respirar. Ele sorri como se eu fosse a jóia mais rara do mundo.

A música acaba, aplausos ecoam pelo salão.

Otávio ameaça abrir a boca, mas não deixo, coloco o indicador. Olho fundo em seus olhos...

- Casa da Piscina em uma hora. - digo o vendo suspirar. Concorda com um aceno então me afasto.

Será nosso ponto final.

Ou minha total perdição..