Capítulo 7

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Era mesmo um sonho bonito, não podia negar. Desorientada, sem controle sobre meu destino — a sensação que eu mais odiava no mundo —, havia-me agarrado à sugestão do obstetra como a uma tábua da salvação, desconsiderando qualquer outra possibilidade. A única coisa que eu queria era um norte, um caminho a seguir. Ele me apontara esse caminho, e segui-o sem questionar nem olhar para trás, sedenta de previsibilidade, planejamento, controle. Desde a última consulta, eu não cogitara mais a possibilidade daquele nascimento. Ouvi-lo narrado pela voz emocionada do meu marido me balançou — mais que isso, me tentou, e muito! Não voltamos a tocar no assunto, mas a cena descrita por ele não mais abandonou meus pensamentos. Passei a arder-me em desejos: conhecer nossa filha, trocar olhares com ela, vê-la segurando nosso dedo polegar, senti-la mamar em meu peito pelo menos uma vez. Saber que meu corpo a supria de tudo enquanto ela estivesse ali fazia-me sentir mais forte e menos vulnerável que o próprio controle proporcionado pelo procedimento com dia e hora certos.

Por isso, quando, na véspera da data agendada, meu marido comentou que deveríamos nos deitar cedo, pois teríamos um longo dia pela frente, eu disse, com voz firme e sem hesitação — não por impulso, mas como resultado de um fogo que se alastrara de inofensiva chama bruxuleante de uma vela às labaredas famintas de um incêndio incontrolável a me consumir:

"Não vou!"

"Eu sei que você está com medo..." meu marido começou a falar, enquanto se aproximava para um abraço encorajador, "mas estaremos juntos, e, amanhã, a esta hora, tudo já terá acabado."

Seu tom condescendente me irritou um pouco. Ele não percebia que meu veredito não era uma tentativa de fuga; era, antes, enfrentamento. Não era medo, era coragem.

"Querido, eu também quero conhecer nossa menina!"

Após alguns segundos de silêncio, ele por fim perguntou:

"Você tem certeza?" Uma expressão de surpresa distorcia seu sorriso largo.

"Sim, eu tenho certeza!"

Estava feito. A decisão fora tomada.

"Acho que merecemos um pequeno descanso de tanta angústia," ele prosseguiu. "Vamos jantar fora?"

Meu sim foi o sinal verde para uma pequena esbórnia. Refestelamo-nos com nossos pratos favoritos e permiti-me até duas taças de vinho, proibido às gestantes. Mas eu não era uma gestante qualquer. A bebida não me deixou alegre, mas me fez relaxar e aproveitar a noite e a companhia de meu marido. Enfim, desde o fatídico ultrassom, nos concedemos maravilharmo-nos com a descoberta de que seria uma menina, conjecturarmos sobre com quem se pareceria, aventar nomes. A tristeza e a tragédia nos rondavam, mas por ora estavam ofuscadas pela empolgação da gravidez que iria prosseguir, do bebê que, por pouco tempo que fosse, iríamos receber, e que precisaria de um nome, de algumas roupinhas, da continuidade do pré-natal. Essas demandas práticas agora ocupariam ao menos parte de meus pensamentos, antes dedicados por completo à aflição e ao desamparo.


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