02. DO I WANNA KNOW?

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"Have you no idea that you're in deep? I've dream about you nearly every night this week. How many secrets can you keep?"

Do I Wanna Know – Arctic Monkeys


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Se ela fechasse os olhos, ainda podia sentir o asfalto queimando sua pele.

A sensação das pequenas pedras de sujeira entrando pelas feridas em sua mão. A adrenalina suprimindo a dor. A voz que não saiu da sua garganta e o espanto de tocar o chão pela primeira vez enquanto a velocidade da moto diminuía com o impacto. Tudo aconteceu em menos de um segundo, mas ela se lembrava de cada detalhe. Da moto batendo na calçada, do seu pensamento infantil caindo do banco e da sensação de sentir o braço se arrastar pelo calor do chão de Miami.

O gosto de sangue na boca enquanto falava para as pessoas não se preocuparem, ela estava bem. Em dois segundos, estava de pé. Em um minuto, subia na moto quebrada e tentava a tirar dali. Não queria que a polícia chegasse perto, ainda não tinha carteira, seus pais iam a matar.

Camila ia a matar.

Esse foi seu pensamento quando viu que o chão era inevitável. Agora, já segura no banco de passageiro do carro do irmão mais velho, Lauren refletia o quanto era irônico pensar em Camila enquanto caia sem rumo. Comparou-se com grandes filmes e poesias de banheiro; todos gritando metáforas vermelhas sobre seu pequeno incidente. Mas ela não podia parar, não quando o vento trazia tanta liberdade enquanto ela acelerava para o impacto preciso. Um objeto imparável colidindo com algo inamovível.

Mas parou. E pensou em Camila.

Ela se sentia tão ridícula às vezes que ficava feliz em não saber expressar seus sentimentos. Imaginou essas pequenas dúvidas correndo por seus lábios e chegando nas mesas de bares que dividia com os amigos depois da faculdade. O quanto iriam rir dela e de sua pequena comparação romântica?

Por outro lado, sabia que Hugo a entenderia. Ele falava de estrelas e tinha um pequeno demônio tatuado no peito. Seus olhos azuis eram doces, cercados por furos e imperfeições marcadas por antigos piercings de uma fase rebelde. Hoje, depois de voltar a falar com o pai, Hugo era um garoto ponderado, amoroso e lógico. Bêbado, alucinado e de decisões estúpidas também. Ela tinha orgulho e inveja dele, ao mesmo tempo. E amor. Sempre amor.

Hugo diria que a vida é meio bosta mesmo, não tem o que fazer. Diria que as pessoas não são confiáveis, mas escutaria Lauren falar de sua amiga latina, entrecortando sua história com alguma de suas outras várias, o que era um hábito irritante, porém, aceitável. Pessoas normais são filhos da puta que, de alguma forma, encontram um jeito de continuar vivendo e fazendo-se ser amados, entre seus defeitos.

O pensamento lhe trouxe Camila outra vez.

Você às vezes fica se perguntando se é uma pessoa boa?

O que? - Chris responde, sem tirar os olhos da estrada, sua voz distante enquanto prestava atenção no tráfego.

Se é uma boa pessoa... Você se pergunta às vezes, se é? - Lauren questionou novamente, seus olhos ainda fixos na paisagem fora do carro.

Chris ponderou a pergunta, sem saber ao certo onde ela queria chegar. Olhou para a garota ao seu lado, preocupado com os novos arranhões que agora enfeitavam a parte direita do corpo magro e branco. Sua mão enfaixada, seu lábio vermelho e inchado.

Laur, você tá se sentindo tonta? Você bateu a cabeça?

Chris, é só uma pergunta...

madness [one-shots]Where stories live. Discover now