01. DREAM A LITTLE DREAM

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"Say nighty-night and kiss me, hold me tight and tell me you'll miss me. I'm alone, blue as can be, dream a little dream of me."

Dream a Little Dream - Eddie Vedder

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Eu sou sozinho, sonhe comigo.

Você venera seus monstros.

Você lhes dá nomes, você os ama.

Eu sou sozinho, sonhe comigo.

Benções vazias de reis sem capa.

Condecorações enferrujadas.

Sonhe comigo, Lauren.

Sonhe comigo nosso pequeno sonho.

O sangue escorre pelas bocas que te beijam.

Talvez seja tarde demais para promessas.

Se você sonhar, eu vou estar sempre aqui.

Eu sou sozinho, Lauren.

Sonhe esse sonho comigo.

O grito de Lauren ecoou pelo quarto. A garota levantou o corpo suado, descolando-o dos lençóis claros da cama. Seus olhos tentam assimilar que a voz, tão macia e conhecida, é parte de outro pesadelo. Um dos muitos que tinha desde pequena. Eles haviam piorado nos últimos anos e a ela não conseguia contar quantas vezes foi salva pelos pais diante dos próprios demônios que dançavam em suas pupilas dilatadas.

Era um sonho. Ela detestava sonhar.

Tateou pela cama, perdida, procurando o celular para ligar a lanterna e iluminar o quarto. Cinco e trinta e três. Ela só precisaria levantar dali a três horas. O pânico voltou a lhe atingir. Não queria ficar sozinha, não queria dormir. Lembrou-se, então, das pílulas. Ela se aborrecia com o pensamento de ser dependente de um indutor de sono como aquele, mas o remédio era forte e a impedia de pensar, pelo menos até acordar novamente. Ser vazia era mais fácil.

Por favor, me deixe. Eu não quero sonhar. Por favor, por favor, me deixe. Lauren voltou a repetir em sussurros assustados.

Suas mãos brancas apertaram o travesseiro com agonia, suando frio ao deixar pequenas marcas com a unha na palma da mão entre o tecido. Seu cabelo cobria o rosto, jogado pela cama em uma espécie de cortina segura. É fácil se sentir uma pessoa melhor quando o medo não está acelerando seu coração, fazendo a vertigem tão real quanto o vento de um penhasco. Ninguém é digno diante do caos. O terror nos tira o que temos de melhor.

Tira o que eu tenho de melhor. Você me tira. A voz de Lauren ecoou pelo quarto, e as vozes ainda estavam lá. Todo dia, o medo.

Ela pensou que havia se acostumado. Sua rotina era simples: morava com a irmã mais nova, acordava cedo para ajudar na administração básica do restaurante dos pais e, depois de almoçar com a mãe na cozinha do local, seguia para a livraria que havia aberto com o fundo de um processo por assédio sexual de seu primeiro emprego. Todo o dinheiro estava agora investido em livros e prateleiras de madeira envelhecida. O velho Burgs que deixou sua mão apertar os quadris da moça sem autorização agora era refletido em páginas de psicanálise educativa.

Lauren nunca foi uma pessoa positiva ou feliz. Ela vestia cores tão pálidas quanto sua pele e levava uma vida normal ao lado da família. Poucos amigos, nenhum relacionamento. A cidade era pequena e as flores nasciam e morriam com mais rapidez. Ela caminhava todos os dias pela mesma rua de calçamento preto e branco. Lajotas em formatos quadriculares que incentivavam crianças a pularem seus pés entre as cores, brincando entre os abismos de sua imaginação. Lauren se pegava colocando os pés nos espaços indicados, como se o universo pudesse exercer alguma força em suas escolhas.

madness [one-shots]Where stories live. Discover now