04. I GET NERVOUS

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"In the same rich path, you and I align."

I Get Nervous – Lower Dens

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Havia dois casais na nossa frente. Um homem careca que agia como uma espécie de cerimonialista chamou o nome do primeiro casal e um rapaz magrelo e apavorado cruzou o saguão, encaminhando-se para a frente da juíza. Ao seu lado uma moça, não menos assustada, correu para tentar acompanhar seus passos. Ela não tinha um vestido branco e nem flores na mão, mas seu laço de pérolas lhe concedeu certo ar romântico. Acho que o garoto estava assustado demais para notar.

— Eu não acho que eles tenham 20 anos.

— Será? E pode se casar com menos que isso?

— Ué, eu acho que sim. Não é só ter 18?

— Não sei... O que a gente tava fazendo com 18 anos? — Perguntei e me virei para Camila, que sorriu acompanhando meu pensamento.

— Merda. A gente tava fazendo merda.

Nós duas gargalhamos alto demais para o lugar, o que foi quase como uma metáfora perfeita em referência à nossa juventude. Dois homens de ternos mal cortados olharam para trás com um olhar repreendedor. Camila encolheu os ombros como se quisesse pedir desculpas e se virou para mim com uma espécie de careta no rosto, apenas para em seguida colocar a língua entre os dentes e sorrir com seu sorriso de nariz franzido.

Eu a amei desde a primeira vez que a vi.

O que não significou nada na época, mas agora significa muito. Eu nunca admiti verbalmente para ela, mas fui uma completa estúpida quando estávamos na faculdade. Talvez eu admita um dia. Ela já deve saber, de qualquer maneira. Segurando minha mão ali, em meio àquele salão imponente, não há nada sobre mim que ela não saiba. E de repente me sinto muito feliz que ela continue com os dedos entrelaçados nos meus.

— Você lembra daquela festa que você ficou com a Mari? — Perguntei, ainda rindo um pouco.

— Eu achava que era apaixonada por ela. — Camila respondeu, com um ar nostálgico.

— Eu bem me lembro disso.

— A culpa também era sua que me ignorava.

— Eu tinha outros objetivos em mente.

— Sim, transar com todas as calouras que entravam na faculdade. — Apesar do óbvio tom de ciúme que eu reconheci em sua voz, ela parecia se divertir com a lembrança do nosso desencontro inicial. Suas mãos circularam minha cintura e me aconcheguei mais ao seu lado.

— Isso era tão mentira... Se eu fiquei com duas calouras foi muito. E definitivamente eu só dormir com uma. — Respondi, acariciado seus dedos que estavam com as unhas feitas recentemente, dando um ar delicado que muitas vezes eu mesma não associava à Camila — Que eu me lembre, pelo menos.

Camila me deu um beliscão leve no quadril, nos fazendo rir e novamente chamar a atenção dos homens de ternos mal cortados. O casal apavorado continuava parado no primeiro lugar da fila, agora um de frente para o outro. Eu estava realmente surpresa do garoto não ter colocado seu almoço em todo o pátio escovado daquele lugar. Ele parecia branco, quase verde, e sua testa refletia um suor frio que eu conseguia ver daqui.

— Você também está com tanto medo assim? — Camila sussurrou, parecendo observar o mesmo que eu.

— Não. Quer dizer, eu já estive com mais medo antes. Agora parece até fácil.

— Quando você teve mais medo? - Ela me olhou, curiosa.

— Quando eu fui atrás de você em Curitiba.

madness [one-shots]Where stories live. Discover now