Peste e Fome

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A pouca comida que chegava, acabava em instantes. Alguns companheiros não comiam há dias, e devido ao calor extremo e a baixa imunidade, contraíram doenças como a desnutrição e anemia.

ví muitos amigos morrerem simplesmente por insolação, quando a temperatura corporal excedia e literalmente eles cozinhavam de dentro para fora. a agua que enchíamos nosso cantil vinha das vilas que entravamos, ou raramente das poças e pequenos lagos limpos que víamos a frente.

Era impossível encontrar um trecho de lagoa ou rio em pudéssemos nos lavar, sem dividir espaço com os pássaros e corpos que boiavam nele. o retrato era do gânjis indiano, se não fosse pelo sangue que se misturava ao lodo e a agua. haviam inimigos, aliados, civis. gaivotas e urubus disputavam por aquele banquete de carcaças, que mesmo farto, parecia não satisfazer suas fomes, e gralhavam continuamente querendo mais... mais...

Havia também o perigo de contaminação com a agua. por vezes não entrava na agua, devido as botas que ficavam encharcadas e acabavam desencadeando micoses agudas, e até gangrena nos pés. O simples risco de tira-las já era o bastante para pegar qualquer doença, seja na agua ou no solo. A amputação era o único meio viável nessa situação, e faze-la aqui era mais normal do que parecia.

A natureza também era cobrada de certa forma. Florestas queimavam como um pinheiro cheio de pisca-piscas numa noite de natal. Junto com elas, pessoas eram reduzidas a pó fazendo jus aquele dito bíblico que não me recordo agora. Lança chamas cuspiam bolas de fogo, que pareciam baforadas do mais terrível dos dragões, passando por uma cidade num rasante víl e destruidor.

Transformados em labaredas humanas, corriam em pânico como se pedissem para o vento apagar sua agonia. Alguns vinham para o meu lado gritando aquele idioma indecifrável enquanto pedaços de suas peles caiam no chão. o cheiro insuportável de carne queimada não sairá tao fácil dos meus pesadelos mais perturbadores.

serei assombrando para sempre por aqueles gritos, que embora soassem como um pedido de misericórdia, para mim eram traduzidos por uma única palavra: MORTE.

O Pesadelo Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora