— Nashira? A mamãe está nos chamando para o almoço! — a voz de Mérope ecoou por todo o reino de Starshine, ou melhor dizendo: talvez até pelas galáxias.
Semicerrei os olhos e olhei para o topo do pequeno morro coberto por uma relva verde com flores amarelas devido a primavera, ali também tinha grandes árvores que mais pareciam arranha-céus naturais, podia ver nitidamente minha irmã mais velha com as mãos no quadril, os pés batucando no chão e um sorriso triunfante por finalmente ter me encontrado.
— Estou quase pegando um peixe! — gritei de volta, logo em seguida sentindo a vara artesanal de bambu balançar um pouco, me fazendo ficar em alerta. Não demorou muito para um peixe ser fisgado pela isca e meu sorriso de vitória crescer no rosto ao coloca-lo dentro do balde, onde havia mais outros cinco da mesma espécie.
Joguei a vara sobre o ombro e segurei o balde com os peixes observando com tédio o morro. Soprei a mexa que teimava roçar em meus cílios, começando, assim, minha caminhada até em casa.
— Sabe, você devia parar de sumir tanto — Mérope disse após passar os braços pelos meus ombros e cheirar de leve meus cabelos. — Por acaso tomou banho no rio? — olhei para ela e não contive o riso ao ver seu nariz se contorcer.
— Por que vir ao rio se não posso aproveitar nem para um banho? — ela revirou os olhos caramelados, se afastando de mim e amarrando as madeixas negras e cacheadas em um coque.
— Temos um banheiro com chuveiro em casa — ela disse, como se aquilo não fosse óbvio.
— Não é a mesma coisa, sabe disso e ah... — exclamei animada ao lembrar que tinha algo para lhe entregar, procurei nos bolsos da calça a pedra negra que havia pego no leito do rio e guardado com a intenção de lhe entregar quando voltasse para casa pela tarde. — Encontrei outra pedra daquelas negras que você gosta. — lhe mostrei a pequena pedra lisa que mais parecia ter sido polida, ela sorriu soltando um grunhido de felicidade no fundo da garganta.
— Ah, irmãzinha! — ela me deu um rápido abraço e se afastou com a mão no nariz. — Ai, Nashira, você precisa de um banho! Está fedendo a peixe e a lama — a garota empurrou meu ombro um pouco forte.
— De nada, Mérope, de nada — resmunguei revirando os olhos, mas não conseguindo manter a pose de chateada porque isso era missão impossível, pois não dava para não sorrir ao vê-la agir de forma tão enjoada. Ela nunca reclamava do meu cheiro de peixe com lama, nem mesmo mamãe.
O caminho até em casa não era longo, morávamos no campo, longe de mais da metade da população de Starshine, mas perto o bastante do castelo de Garnen Star. A imensa construção de pedras erguida no século quinze é uma vista colossal, por mais que a veja todos os dias pela janela de meu quarto. Em todas as noites quando a insônia me ataca, sento na janela até perder o fôlego com a vista do castelo iluminado em meio a um enorme manto negro, parecendo uma estrela guia, não conseguia simplesmente ficar entediada com a paisagem rotineira. Não são todas as pessoas no mundo prestigiadas com a vista de um castelo no seu "jardim".
O castelo foi construído no cume da maior montanha da região sul de Starshine, durante a Idade Média, quando a Europa se fragmentou, fazendo a economia se organizar em unidades pequenas e independentes, conhecidas como feudos. De princípio, não foi erguido com finalidade de ser uma residência luxuosa para imperadores, reis, rainhas, mas como forma de defesa. Nunca fui à aluna número um nas aulas de história, na realidade, o máximo de história que consigo alcançar é sobre as duas grandes guerras mundiais que aconteceram. Nunca entendi muito sobre o que era o feudo, nem Idade Média ou Império Romano. Sempre fui à aluna número dois em biologia, já que Mérope é a número um.
Tudo que sei sobre o reino foi história contada pela minha mãe, que aprendeu com minha vó, que soube da mãe dela, que escutou do seu pai e assim segue em uma cronologia interminável de antepassados que, no máximo, só recordo o nome de seis. São histórias e mais histórias que depois de passar por tantas bocas sempre haverá um pouco de mentira, mas há aquele um por cento que conseguimos digerir até acreditar.
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Kingdom Of Starshine - A Princesa Perdida
General FictionEra uma vez, em um reino um pouco distante... Um príncipe que não aceita seu destino. Uma princesa certinha... até demais. Uma plebéia que gosta de peixes. Uma plebéia que sonha em ser livre. E uma princesa perdida. Vivendo em um reino...