Capítulo III - Nashira

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— Nashira? A mamãe está nos chamando para o almoço! — a voz de Mérope ecoou por todo o reino de Starshine, ou melhor dizendo: talvez até pelas galáxias.

Semicerrei os olhos e olhei para o topo do pequeno morro coberto por uma relva verde com flores amarelas devido a primavera, ali também tinha grandes árvores que mais pareciam arranha-céus naturais, podia ver nitidamente minha irmã mais velha com as mãos no quadril, os pés batucando no chão e um sorriso triunfante por finalmente ter me encontrado.

— Estou quase pegando um peixe! — gritei de volta, logo em seguida sentindo a vara artesanal de bambu balançar um pouco, me fazendo ficar em alerta. Não demorou muito para um peixe ser fisgado pela isca e meu sorriso de vitória crescer no rosto ao coloca-lo dentro do balde, onde havia mais outros cinco da mesma espécie.

Joguei a vara sobre o ombro e segurei o balde com os peixes observando com tédio o morro. Soprei a mexa que teimava roçar em meus cílios, começando, assim, minha caminhada até em casa.

— Sabe, você devia parar de sumir tanto — Mérope disse após passar os braços pelos meus ombros e cheirar de leve meus cabelos. — Por acaso tomou banho no rio? — olhei para ela e não contive o riso ao ver seu nariz se contorcer.

— Por que vir ao rio se não posso aproveitar nem para um banho? — ela revirou os olhos caramelados, se afastando de mim e amarrando as madeixas negras e cacheadas em um coque.

— Temos um banheiro com chuveiro em casa — ela disse, como se aquilo não fosse óbvio.

— Não é a mesma coisa, sabe disso e ah... — exclamei animada ao lembrar que tinha algo para lhe entregar, procurei nos bolsos da calça a pedra negra que havia pego no leito do rio e guardado com a intenção de lhe entregar quando voltasse para casa pela tarde. — Encontrei outra pedra daquelas negras que você gosta. — lhe mostrei a pequena pedra lisa que mais parecia ter sido polida, ela sorriu soltando um grunhido de felicidade no fundo da garganta.

— Ah, irmãzinha! — ela me deu um rápido abraço e se afastou com a mão no nariz. — Ai, Nashira, você precisa de um banho! Está fedendo a peixe e a lama — a garota empurrou meu ombro um pouco forte.

— De nada, Mérope, de nada — resmunguei revirando os olhos, mas não conseguindo manter a pose de chateada porque isso era missão impossível, pois não dava para não sorrir ao vê-la agir de forma tão enjoada. Ela nunca reclamava do meu cheiro de peixe com lama, nem mesmo mamãe.

O caminho até em casa não era longo, morávamos no campo, longe de mais da metade da população de Starshine, mas perto o bastante do castelo de Garnen Star. A imensa construção de pedras erguida no século quinze é uma vista colossal, por mais que a veja todos os dias pela janela de meu quarto. Em todas as noites quando a insônia me ataca, sento na janela até perder o fôlego com a vista do castelo iluminado em meio a um enorme manto negro, parecendo uma estrela guia, não conseguia simplesmente ficar entediada com a paisagem rotineira. Não são todas as pessoas no mundo prestigiadas com a vista de um castelo no seu "jardim".

O castelo foi construído no cume da maior montanha da região sul de Starshine, durante a Idade Média, quando a Europa se fragmentou, fazendo a economia se organizar em unidades pequenas e independentes, conhecidas como feudos. De princípio, não foi erguido com finalidade de ser uma residência luxuosa para imperadores, reis, rainhas, mas como forma de defesa. Nunca fui à aluna número um nas aulas de história, na realidade, o máximo de história que consigo alcançar é sobre as duas grandes guerras mundiais que aconteceram. Nunca entendi muito sobre o que era o feudo, nem Idade Média ou Império Romano. Sempre fui à aluna número dois em biologia, já que Mérope é a número um.

Tudo que sei sobre o reino foi história contada pela minha mãe, que aprendeu com minha vó, que soube da mãe dela, que escutou do seu pai e assim segue em uma cronologia interminável de antepassados que, no máximo, só recordo o nome de seis. São histórias e mais histórias que depois de passar por tantas bocas sempre haverá um pouco de mentira, mas há aquele um por cento que conseguimos digerir até acreditar.

Kingdom Of Starshine - A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora