Capítulo VII - Nashira

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Definitivamente odiava vestido! Odiava ter que usá-los em momentos de confraternização... Qual o problema com as minhas calças e blusas de mangas longas? Elas me fazem sentir-se tão bem e confortável. É como estar nas nuvens se empantufando de algodão doce. E sobre aquele vento por baixo? Maldito de uma porcaria! Esse vento frio nas pernas é tão mais desconfortável quanto esses sapatos pretos e fechados que parecem querer engolir meus dedos. Por que as pessoas ainda não entenderam que nem todas as garotas usam sapatos com o tamanho menor que 37? Mas não podia reclamar, era melhor ter meus dedos amassados por um projeto de sapato de número 36, do que andar pelo castelo de Garnen Star usando saltos de quinze centímetros.

A vida no reino não é pra mim, definitivamente, não. Não e não! Nem um pouco! E é nesse momento, enquanto tento arrumar a manga de babados que pinicava no meu braço, com a ajuda de apenas uma mão – já que a outra segurava uma travessa cheia de doces, que se caso fossem visitar o chão, minha cabeça rolaria na montanha do castelo a baixo –, que meu respeito cresce ainda mais pelas mulheres da realeza. Sei que usar vestidos que são extremamente apertados na cintura e saltos muitas vezes desconfortáveis, pode ser fichinha comparado a tudo que precisa passar quando se tem o sangue azul. Mas pra mim, o simples ato de ficar reta e de nariz empinado enquanto ando com um salto de cinco
centímetros é uma luta e tanto. É como querer vencer a luta contra um leão. Ok, não é tão difícil assim, mas prefiro sapatos baixos à futuramente ter que lidar com um problema sério na coluna.

Pousei a travessa com os doces sobre a extensa mesa cheia das mais diversificadas guloseimas e voltei às pressas para a cozinha, tendo o minucioso cuidado de não pisar na barra do vestido preto e ir de encontro ao chão brilhoso do castelo.

- Meu Deus, onde você estava? Subindo a montanha correndo? – Mérope falou de olhos arregalados, segurando o vestido para não pisar na barra e vindo em minha direção.

- Demorei? – perguntei, franzindo o cenho.

- Não! – respondeu de imediato. – Seu cabelo esta idêntico a um ninho de pombo.

- Não seja exagerada. – pressionei os olhos soltando um leve murmúrio de desdém e peguei a travessa prata que mais se assemelhava a um espelho que estava sobre a mesa, junto a tantas outras travessas. – Droga! – pronunciei horrorizada, ao ver meu estado.

Mérope realmente não estava exagerando, meu cabelo estava idêntico a um ninho de pombo, por mais que não saiba como é um ninho de pombo, suponho que seja uma bagunça para ela ser capaz de fazer tal semelhança. Corri para frente de um dos armários, procurando uma forma de arrumar meus cabelos. Nunca fico bem de coque, nunca!

- Você não vai soltar esse cabelo agora, vai? – Mérope perguntou, se posicionando ao meu lado.

- Não posso aparecer assim para os convidados da princesa. – falei, já soltando a liga que segurava o coque e bagunçando os cabelos. – Que com certeza são pessoas muito importantes. – coloquei a tiara branca de bordado entre os dentes, mas Mérope ligeiramente a segurou, me olhando de uma forma que poderia até me assustar se não fosse meu desespero em arrumar o cabelo. – Obrigada.

- Verdade. Por hoje, você é apenas uma contratada para auxiliar nos afazeres da festa da princesa Adhara, e se quiser oficialmente um emprego aqui, terá que ter um visual, no mínimo, agradável. E de maneira alguma a rainha contrataria alguém com um ninho de pombo na cabeça. – ela sorriu, percebi que a garota estava mais calma, ela tinha razão com toda sua preocupação com meu visual, eu precisava desse emprego tanto quanto precisava arrumar logo esse cabelo.

Fiz apenas um rabo de cavalo não muito apertado, podendo deixar algumas mexas soltas e coloquei a tiara branca. Fiquei razoavelmente apresentável, poderia ganhar um emprego hoje, e, bom, todo esforço era válido, até usar salto de cinco centímetros. Olhei-me mais atenta no reflexo no vidro do armário, manuseando se não havia nada fora do lugar. A maquiagem leve que Mérope havia passado em meu rosto escondia cada imperfeição, menos a cicatriz média na bochecha esquerda que havia adquirido quando tentei passar por uma cerca e acabei caindo no arame farpado, mamãe disse que eu tive sorte de não ter furado o olho. Muita sorte, caso contrário estaria usando um tapa-olho.

Kingdom Of Starshine - A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora