Capítulo 01

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Romeu

Romeu e Julieta, jamais conheci uma história tão ridícula quanto essa, eu não consigo entender como esse drama exagerado pode ser considerado como a história de amor mais bela de todos os tempos. Porra, quanta conversa fiada. Para mim o Romeu foi o maior dos covardes por não ter simplesmente ido contra toda sua família pela mulher que amava, afinal eu faria isso. Não que já tenha me apaixonado antes, mas se um dia acontecer e todo o mundo for contra, foda-se, eles que vão à merda, pois ela será minha.

Mas por que estou pensando nisso agora? Ah, sim, porque logo em minha primeira peça no meu curso de arte cênicas teremos que interpretar essa enfadonha história, e bem, essa não é nem a pior parte porque para minha total alegria minha mãe sempre fora apaixonada por Shakespeare, e eu que fui escolhido para ser o Romeu, o que por um lado é ótimo para a carreira que sonho em ter, mas também há a infeliz coincidência do meu próprio nome de batismo ser esse. Sim meus caros, eu me chamo Romeu, não com tanto orgulho assim, mas não tive escolhas afinal.

Com todo o peso do meu nome muitas mulheres acreditam que sou aquele príncipe covarde, mas como disse, ainda não me apaixonei, então por que seria um príncipe para aquela que não escolhi? E ainda há essa garota. Inferno, ela me irrita como o diabo, e não, isso também não é mais um clichê de amor e ódio, porra, eu não sou assim tão patético, mas aqueles olhos junto com aquele sorriso... Deus, eu não consigo pensar quando ela está me olhando, e acabo errando todas as falas que sabia que estavam decoradas com perfeição, e é por isso, por ela ser essa maldita distração que a odeio. Ridículo? Foda-se, eu não me importo com o que pensão de mim, afinal sou apenas um personagem em minha própria história e aqui no palco eu me transformo e é isso que eles devem enxergar. Posso ser quem eu quiser, com sorriso, nomes e personalidades diferentes para entreter meu público, mas quando se tratar de mim, o real Romeu Sandes, queridos entrem na fila porque para esse espetáculo há apenas uma cadeira reservada.

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O professor Ling estava designando o papeis dos alunos, afinal, parecia que cada um se encaixava perfeitamente com algum personagem da peça, bem, exceto uma e eu sabia disso pela forma como o magrelo e tarado do meu professor olhou para ela depois que os nomes de meus colegas foram chamados.

−Alice, querida, eu sinto muito, mas terá de ficar de fora dessa vez.

Disse ele e então lhe ofereceu um sorriso gentil que me fez revirar os olhos enquanto ela apenas devolvia um sorriso tímido de volta antes de se encolher em sua cadeira.

Alice Strong era a piada da turma, não atuava bem nem o mais simples dos papeis e sempre parecia forçada em cada fala que saía da sua boca. Sinceramente eu já havia desistido de imaginar o motivo dela continuar naquele curso, tentando algo que nunca poderia ser.

Assim que a aula se deu por encerrada eu logo estava sendo cercado por meus colegas e antes que pudesse me conter eu estava olhando na direção de Alice, apenas de relance sem quem ninguém notasse e como sempre, lá estava ela me encarando com aqueles grandes olhos azuis, que brilhavam mais do que o sol quando atingia o mais límpido mar no final do dia. Inferno, por que ela tinha que ficar com aqueles enormes olhos fixos em mim como se eu fosse a porra de um deus?

Mantendo meu falso sorriso cumprimentei cada um que veio me parabenizar pelo dito grande feito para um novato. Eu sabia que era bom, e muito melhor que todos aqui, mas aguentar toda essa falsidade me cansava.

Quando enfim me vi sozinho em um canto do teatro me permiti olhá-la novamente. Era incrível como uma mulher tão linda podia ser tão inútil. Ela era horrível, não conseguia atuar nada direito sem demonstrar seus próprios sentimento, e isso era irritante, eu desejava poder gritar com ela e dizer para ser fria e viver o maldito personagem, e por quê? Eu apenas queria ouvi-la sentir a magia, vê-la se perder como eu me perdia, era tão fácil para mim, como respirar, era isso, atuar era meu ar, e ela era os malditos gazes tóxicos, pronto para me fazer engasgar.

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