Capítulo 07

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Romeu
Se eu estava puto? Isso já não era novidade. Alice dissera que em certos momentos eu demonstrava ter bipolaridade, e querendo ou não, ela estava certa, eu não tinha uma dupla, mas várias personalidades da forma que me convinha, vivia uma atuação, e se me perguntassem quem eu era, além de saber meu nome eu não poderia responder. Mas com ela eu sentia que não precisava me esforçar, mesmo que fizesse muito isso para ser um escroto, mas mesmo querendo a atingir como era minha intenção ao ir atrás dela após meu beijo com aquela completa desconhecida, no fim seus olhos me pegaram me fazendo perder o foco e apenas agindo com a alma, será que ela via isso? Via que na verdade essa bipolaridade era o meu eu de verdade surgindo até para mim mesmo que me assustava? Eu esperava que não, afinal eu não podia querer isso, querer tanto ela. Eu tinha uma meta a seguir e mesmo me permitindo agora ficar ao seu lado por um tempo, não seria algo permanente, na minha vida nada era.
Assim que cheguei em casa, cedo, sóbrio e sozinho como todas noites meu pai estava sentado à frente do seu tabuleiro de xadrez olhando as peças como se elas fossem se mover com apenas um olhar. Com cautela me aproximei e sentei-me na cadeira a sua frente e fiz um movimento com um dos peões e aquele seu raro sorriso se estendeu nos lábios quando sua mão enfim foi a uma das peças.
− Como foi a festa? 
− Legal. - Arqueando uma sobrancelha ele me estudou e eu sorrir. − Sério pai, eu me diverti.
− Não é o que parece filho.
Ele era um bom observador e isso as vezes irritava. Suspirando permaneci em silêncio até mover mais uma peça e então voltei a fita-lo que agora tinha novamente a atenção voltada ao tabuleiro.
− Tem uma garota, eu não faço bem a ela, mas não consigo me afastar e nem fazê-la se afastar. – confessei sem motivo algo e sem nem ao menos saber o por quê.
− Hum... - Foi tudo que ele disse antes de se levantar e encher dois copos com um liquido amarelado com o cheiro tão forte que de onde estava chegou em meu nariz. − Toma. - Entregando-me um dos copos ele virou o seu voltando a seu lugar e já fazendo sua próxima jogada.
− O que é isso, senhor?
− O melhor uísque da minha coleção. Beba garoto. Enfim você está se tornando um homem. - Confuso tomei um longo gole e aquilo era exatamente o que eu precisava.
− Obrigado, mas confesso que não entendo.
− Não importa. Você irá entender. Apenas seja você mesmo. - Rindo sem humor assenti. É, essa era coisa mais difícil que ele já havia me pedido para fazer.
Após o fim do nosso jogo, no qual sem surpresa alguma ele venceu, me retirei para meu quarto e depois de um rápido banho me deixei cair sobre a cama. Cada palavra daquela noite, tanto dita por Alice quanto por meu pai ainda pairava em minha cabeça, mas a frase que mais me deixava confuso era sobre eu estar me tornando homem. Eu já me achava homem o bastante a muito tempo, muito antes dos 20 anos que agora tinha, mas sempre soube que meu pai não pensava isso, ainda mais depois da minha escolha em relação a atuar. Era para eu seguir seus passos, ir para o exército, porém ele respeitou minha decisão de não ir, a primeira vez que neguei fazer algo que ele queria, mas só agora por algum motivo que aparentemente só ele conheça eu estava me tornando homem ao ponto dele me reconhecer como um igual. E mesmo que isso ainda fosse confuso, era foda. Eu sempre esperava o orgulhar, agora bastava descobrir o que havia feito certo para não tropeçar no caminho.
Eu não percebi quando cai no sono, apenas apaguei e como se o tempo não houvesse passado acordei com o som do meu alarme. Em dias comuns essa seria a hora em que me permitia praticar boxe para agradar o meu pai de alguma forma por negar ir ao acampamento militar depois que me formei, mas desde ontem eu tinha outros planos, e não devia estar tão animado como estava por mais uma aula com ela.
Sempre fui egoísta, ao menos mostrava isso. Eu era o melhor, todos sabiam e não ajudava a alguém a ficar ao meu nível. Mas como ia descobrindo que o corriam em quase todas as ocasiões, com ela era diferente, eu a queria ao meu lado e que essa peça que faríamos juntos fosse um sucesso. Ela merecia isso, e porra eu apenas a queria ver sorrindo para mim. É, provavelmente eu era uma mulherzinha. Como uma garota era capaz de mexer tanto comigo sem nem ao menos tentar?
Ao chegar ao teatro do campus, com meus privilégios abri a porta com a chave que ganhara logo no início do ano e ali enquanto tomava um copo fumegante de café a esperei, me concentrando para mais uma vez não perder a incorporação do personagem que eu vivia.
Não sei quanto tempo se passou enquanto ficava lá perdido em pensamentos, só que como sempre foi a voz dela que me tirou desses devaneios.
− Olá, professor. –Falou ela com um sorriso calmo e então olhou para seu relógio de pulso. − Dez minutos adiantada. Estou progredindo. - Engolindo em seco assim que a ouvi, ergui meus olhos para ela e tive que respirar fundo antes de falar.
− Bom dia. Café? -Ofereci meu copo de forma educada e então me ergui. − Por onde deseja começar? Acho que assim ficaria mais à vontade, fazer uma cena que queira. - Alice negou com a cabeça dispensando meu café e colocou sua bolsa em uma das cadeiras do teatro antes de se dirigir até mim.
− Eu... gostaria de treinar a cena do baile. Sabe, quando eles se conhecem. Acho que é o momento em que todos precisam ver nas nossas expressões o amor à primeira vista de Romeu e Julieta. - Balancei a cabeça apenas uma vez em afirmação.
− Ótimo. Fique mais naquele lado a esquerda do palco que irei me aproximar. 
Passando a mão em meus cabelos senti que incorporava o personagem, e essa sensação era a coisa que mais gostava em atuar, mas assim que senti seu perfume ao passar ao seu lado algo se quebrou dentro de mim, como um vaso ao cair no chão e se parti em pedaços, e algo escapou sem que eu pudesse me segurar.
− Sorte sua que eu dance muito bem. -Sussurre quando meu corpo se aproximou mais ao dela para sentir mais de sua fragrância e antes que meu rosto se grudasse de uma vez por toda em seu pescoço continuei o meu caminho até o lado oposto do palco e quando me virei acompanhei o movimento de seu corpo que se mexia meio tenso agora olhando para o nada, mas com um sorriso de apreciação, afinal estávamos em um “baile”.
Eu quis sorrir ao vê-la quase que se mover roboticamente. Mas eu faria ela relaxar. Respirando fundo pensei no personagem e no que ele via na Julieta para ter se apaixonado de forma tão inesperada e do nada. E para minha surpresa foi fácil sorrir calmamente enquanto me aproximava lentamente tocando em minha imaginaria máscara. 
− Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.Minha voz era carregada pelas emoções do Romeu da história, mas havia mais, e quando minha mão involuntariamente, mesmo que seguindo a ordem da peça toco-lhe a mão toda a eletricidade foi até o centro do meu peito.
− Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.Sorrindo me aproximei mais dela, e como se nos afastássemos do real salão de baile a guiei até estar encostada a parede ao fundo.
− Os santos e os devotos não têm boca? -Perguntei em voz alta para que a imaginaria plateia ouvisse, mas em tom íntimo.
− Sim, peregrino, só para orações. - Eu não devia, mas minha mão tocou sua franja em vez de acariciar seu rosto e acabei sorrindo encarando seus olhos azuis acinzentados.
− Deixai, então, ó santa! Que esta boca mostre o caminho certo aos corações. -Disse enfim ainda preso no feitiço dos seus olhos. Tendo consciência que todo meu corpo se esquentava a cada momento eu me afastei antes de puxá-la mais uma vez fortemente contra meu corpo e lhe tomar os lábios. − Certo, acho que foi bem legal. Talvez devemos tentar algo mais difícil, antes que me dê outro tapa caso continuemos a cena. -Sorri para aliviar minhas palavras mas surtiu o efeito contrário e acabou ficando vermelha e com um ar bem mais sério. Éramos Romeu e Alice novamente.
− Eu não vou me desculpar pelo tapa. Você bem que mereceu mas se isso fizer você se sentir melhor eu confesso que fiquei triste depois, achando que tinha arruinado nossas aulas. -Confessou retorcendo as mãos de forma nervosa.Rindo pelo nariz, balancei a cabeça, negando.
− E eu fiquei puto comigo mesmo porque achei que havia te magoado. Eu não devia ter beijando você como em um filme pornô quando o Ling pediu, mas eu precisava saber se podia te beijar na frente de todos. - Suspirando e afastei-me dela. −A primeira vez foi como devia, puro e real como eles se sentiam, mas eu não sinto Alice, não sou esse Romeu, e precisava provar isso para mim mesmo que você... 
Parando a olhei e meus olhos se arregalaram ao me dar conta que falava sem parar.
− Certo, eu só quero me desculpar. Você não é a Briana ou qualquer outra, e mesmo que você beije seu namorado, ou seja lá quem ele for, na frente dos outros sem problema, isso não a faz como as outras garotas. Realmente há um quê de Julieta em você, talvez sejam seus olhos, mas você parece pura demais para eu me aproximar e fazer o que fiz. Prometo que quando tiver que te beijar será profissional, sem pegada ou língua.
Rindo passei minhas mãos nos cabelos nervoso enquanto a observava morder o lábio com força.
− Tudo bem, já não me importo mais com isso. E eu não sei de onde você tirou isso, mas não tenho namorado, só para deixar claro. -Falou e então respirou fundo indo até a frente do palco onde sentou como no dia anterior. − Eu sei que não sou a Briana e que nem como amiga você me considera, mas nós somos uma dupla agora, então se você quiser me dizer algo que está sentindo ou não sentindo me diga, eu não vou te morder ou coisa parecida, só espero que enquanto eu for Alice, esteja conversando com o Romeu, o Romeu de verdade.
Deixando meus pés me levarem até ela, sentei-me ao seu lado, mas não tão próximo como desejava.
− Realmente eu não sou capaz de vê-la como amiga, Alice. Mas o grande problema é que quando devia ver a Julieta, e vejo você. -Eu sabia que estava sendo sincero demais, devia a afastar, mas meu corpo só se aproximava mais e mais dela.− E eu não posso lhe contar tudo que penso, pois mesmo que o certo seja eu a afastar, não dá mais. Não depois que seus olhos me prenderam. -Levando minha mão em seu rosto o acariciei e eu não era mais capaz de parar. − Eu queria odiá-la, pois não consigo atuar ao seu lado.
Vi quando sua respiração se acelerou me encarando profundamente, mas logo sua expressão se suavizou junto a um sorriso.
− Então está tudo certo, porque eu consigo atuar e quero atuar ao seu lado. Me deixa te ajudar a ficar à vontade comigo, o que você quiser dizer, desde que seja você mesmo já é suficiente. Eu quero continuar te prendendo com meu olhar. - Dei uma risada forçada.
− Eu não sei como fazer isso, olhos azuis. Nunca foi preciso, nunca ninguém esperou ver além do que mostro. 
Eu estava frustrado, e cansado de lutar para me manter longe dela. Sei que posso estar errado, mas seus olhos me diziam que ela queria tanto isso quanto eu.
− Deixe-me terminar a cena, deixe-me provar seus doces lábios, só assim poderei me sentir melhor ao seu lado sem enlouquecer.
Ela engoliu em seco e assentiu apenas uma vez.
− Sem se mexer, exalça o voto. –Sua voz era puro deleite para mim e a já tão conhecida eletricidade corria pelo meu corpo, completamente enlouquecida.
− Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. - Minha voz sussurrada foi sumindo enquanto aproximava nossos rostos cada vez mais, só alguns centímetros e poderíamos assim finalmente...
− Estou magoado, Lice. Achei que tinha ouvido você me convidar para ver seu ensaio e que eu ia te pegar em casa.
Uma voz pouco conhecida por mim, mas que já me irritava ao extremo preencheu o ambiente calmo e logo Alice se afastou de mim, com o rosto vermelho. Olhei para seu amigo que se aproximava a passos lentos e com um semblante parecendo triste, mas que eu sabia ser apenas para provocar.
− A aula ainda não começou, Jules. –Ouvi Alice dizer atrás de mim.
Como se um monstro dentro de mim despertasse, ao ver aquele mesmo rapaz da noite passada eu quis segura-la e levá-la para longe para que seus lábios não tocassem mais uma vez nos dele, mas ela não era minha e eu não tinha direito nenhum sobre ela, dessa forma apenas me coloquei de pé deixando que o muro voltasse a se erguer a minha volta.
− A gente se vê depois Alice, vou deixá-los a sós.
Comecei a me afastar fervilhando de raiva, porém o tal Julian interrompeu meus pensamentos homicidas.
− Oh não, não se importe comigo. Não é minha intenção atrapalhar é só que não resisti em chegar mais cedo. Gosto de admirar a Lice, ela é muito boa em tudo o que faz. -Falou ele sorrindo para ela que ruborizou. Que merda é essa?
− Não exagera, Jules.
− É só a verdade, linda.
Alice se voltou para mim.
− A aula logo vai começar. Fica aqui. -Pediu sorrindo daquele jeito que fazia minha cabeça ficar tonta e então se levantou. − Estou com sede, vou pegar uma água. Vocês querem algo?
−Eu vou com você. – Me ouvi falando em um tom ríspido com meus olhos presos no tal Jules que me olhava sorrindo como se zombasse. Confesso que já não era seu fã por vê-lo beijar a Olhos azuis, mas agora enquanto andava até ela sentia que o odiava. Tocando a base da sua coluna a guiei pelo caminho longe dele, mas como sempre ela decidiu complicar minha vida e foi até ele, parando ao seu lado.
− Você vai ficar bem sozinho por alguns minutos? -Perguntou preocupada e ele sorriu lhe dando um beijo estalado na bochecha.
− Vou sim, Lice. Só não demora muito, ainda não matei minha saudade.
Trincando os dentes a levei para o corredor das maquinas de uma vez vendo de relance Julian se sentar de forma relaxada em uma das cadeiras do teatro e mesmo que antes me esforçara para ser delicado, agora com aquele outro homem a sua espera eu não poderia mais ter paciência ou esperar sua aprovação, apenas a empurrei contra o meio de duas das maquinas nos mantendo escondidos e deixei meus lábios caírem sobre o seu pescoço me perdendo em seu cheiro.
− Essa parece a real cena, fugindo de um baile e dos olhos atentos, entrego meus pecados a você e lamento dizer que dessa vez não irei voltar a me desculpar. Apenas lhe dou a chance de me afastar, caso não queira que continue e ponha um fim em nossa cena de paixão e perdição.
Senti meus cabelos se mexendo levemente com o hálito de Alice, ouvi sua respiração entrecortada aumentar ainda mais enquanto meus lábios deslizavam por sua pele quente e tão macia.
−Quero todos os seus pecados, Romeu. – Ela murmurou, e meu cérebro parou de funcionar.
− Deus Alice, eu não serei gentil. -Sussurrei antes que minha boca se chocasse contra a sua. Seu sabor era doce, como a porra de um sorvete de morango e eu amava aquele sabor, queria simplesmente devorá-la ali mesmo e caso seu amigo nos visse eu não me importava. 
Com uma mão lhe apertei a cintura, me deleitando com os sons da movimentação dos nossos lábios, e com minha outra segurava-lhe os cabelos mantendo sua cabeça junto a minha, sua boca logo se abriu para receber o toque de minha língua já segurando minha nuca e me puxando para mais perto colando cada parte do meu corpo ao seu, me deixei levar naquela sensação de embriaguez que a sua boca me proporcionava, uma sensação incrível que fazia meu mudo girar
Ambos precisávamos de ar, mas eu não podia parar agora que a tinha a minha mercê, assim deslizando meus lábios por sua pele, saboreei o sabor do seu pescoço, e me permitindo descobrir mais dela, abaixando com a boca a alça de sua camiseta mordiscando sua pele.
− Você tem olhos de anjo, mas seu corpo implora por pecado. Me faça parar, olhos azuis, pois já não sei se sou capaz disso.
Assim que disse essas últimas palavras eu as quis puxar de volta, já me repreendendo por ser tão burro a ponto de dar chance dela me afastar, porém quando suas mãos se enrolaram em meus cabelos com força eu soube que separar nossos corpos era a última coisa que ela queria.
− Romeu... –Ela gemeu baixo me apertando contra seu corpo.
− Porra... -Grunhi ao ouvi-la dizer meu nome, toda minha excitação já estava ao máximo, e eu precisava aliviá-la de alguma forma, assim segurando-lhe as pernas a ergui e a fiz trançá-las em minha cintura me dando exatamente o contato que eu precisava.
− Olhe para mim, quero seus malditos olhos perfeitos em mim. -Pedi a olhando diretamente, enquanto mesmo sobre as roupas me movia contra seu corpo.
− Ah meu Deus! – Arfando, Alice pressionou seus pés contra meu traseiro me puxando para mais perto. − Por favor...
Eu sabia o que ela queria, e era o mesmo que eu, assim inclinei-me para beijar seus lábios, continuando com o atrito entre nossos corpos, porém o som de passos no corredor interrompeu o silêncio, nos fazendo travar no lugar, os olhos de Alice se arregalando cada vez mais.
Preocupado com os passos que ficavam cada vez mais próximos, a abaixei e tratei de passar as mãos em seus cabelos rebeldes enquanto um sorriso idiota se estendia mais e mais em meus lábios.
− Eu te deixei uma bagunça, e porra não estou arrependido como devia. Pegue sua água, tenho que ir ao banheiro, já que certas coisas não dão para esconder. -Com um leve descer de olhos vi a maior ereção que já tive em minha vida, e caso não tivéssemos sido interrompidos teria simplesmente me aliviado em minhas calças.
Mas antes de me afastar toquei sua testa com a minha sentindo sua respiração quente contra meu rosto e assim me deixei sussurrar a maior verdade que já saiu dos meus lábios em toda minha vida.
− Isso foi real, Alice.

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