Como Eu Sou Com Você

Uma ou duas linhas

Sam

Acordo com vontade de provocar um pouco a ira do babaca do Will Traynor. Eu ainda tinha em meu celular uma foto da Lou, só de calcinha e sutiã, dormindo na minha cama. Tirei aquela foto no dia que ela foi para Nova York, queria registrar aquele momento porque eu ia ficar muito tempo longe dela. Eu estava pateticamente apaixonado.

Aquela foto seria uma pequena garantia de que os dois jamais voltariam. Se tudo der certo, ele vai odiá-la pra sempre. Envio para o Will, junto com uma mensagem de texto bastante provocativa.

"E aí, Will? Como é a sensação de saber que a mulher que você ama está comigo agora?"

Eu queria que ele sentisse exatamente o que eu senti quando a Lou me trocou por ele, queria que a felicidade que ele teve por ter encontrado a mulher perfeita acabasse, assim como a minha acabou. Imaginei Will bufando de raiva e atirando o celular no chão ao ler minha mensagem, sorrio com o pensamento.

A resposta dele chega poucos minutos depois. Três mensagens seguidas.

"Como é saber que você só está com ela porque EU permiti?"
"É muito errado usar mulheres como troféu, Sam, e é exatamente isso que  você está fazendo com a Louisa, tenha mais respeito por ela da próxima vez"
"A propósito, vai se foder"

Engulo em seco com a resposta, senti como se tivesse acabado de levar um soco. Mas eu não ia deixar aquele cara me abater.

"Pode ficar tranquilo, ele tá se sentindo bem respeitada aqui"

Quase bato palmas pra mim mesmo com a minha resposta, porém não me senti realmente feliz com aquilo. Não consegui parar de pensar no que Will dissera. Ele tinha razão, cada momento que eu passei com a Lou, foi porque ele permitiu. Se ele não tivesse decidido ir pra Dignitas se matar, eu jamais teria conhecido ela, ou se tivesse conhecido, ela nem olharia pra mim pois estaria focada nele. Sempre foi ele.

De repente, senti um ódio profundo de Will Traynor. Ele tirou dos meus braços a mulher que eu amo, a única por quem eu já me apaixonei. Eu não ia permitir que ele fosse feliz com ela, nunca. Era uma questão de honra.

                             

                                                          ***

Lou

Eu estava deitada na cama, sentindo pena de mim mesma, com enjôo e morrendo de dor de cabeça. Queria que Will estivesse ali comigo. Já fazia quase um mês que a gente não se falava e eu sentia muita falta dele. Não conversei com nenhum dos Traynors durante esse tempo, com exceção de Lily, ligamos uma para a outra quase todos os dias. Ela me contou as novidades sobre o seu pai, disse que ele havia arrumado um emprego numa multinacional de Londres, seu nome ainda era forte no mercado, então ele conseguiu rapidamente um cargo alto, mas não tão alto quanto o cobiçado cargo de CEO, que ele ocupava em sua antiga empresa antes de sofrer o acidente. Aquilo era bem típico de Will, conseguir sempre o que queria, eu estava certa de que não demoraria para ele passar por cima de todos ali e ocupar alguma posição ainda maior na empresa.

Fico encarando a TV que Treena instalou em meu quarto, mas não prestava atenção em nada do que se passava, fiquei perdida em meus pensamentos. Passei a morar com a minha irmã, que todos os dias me aconselhava a levantar a bunda da cadeira e arrumar um emprego, mas eu ainda não tinha presença de espírito pra isso. Sabia que estava sendo fraca, covarde e acomodada, e descobrir que Will arranjou um emprego e estava seguindo em frente sem mim fazia eu me sentir ainda mais inútil.

Ouço meu celular vibrar, o que me interrompe dos meus devaneios. Quase não consigo acreditar ao ver que era Will que havia acabado de me mandar uma mensagem.

"Não tenho nada a ver com a sua vida, mas acho que você deveria começar a namorar um homem decente, que não te use como um objeto."

Fico sem entender nada. O que foi que deu nele? Provavelmente Sam aprontou alguma.

"Não faço a mínima ideia do que você está falando, explique."

"Pergunte ao seu namorado" -Ele responde.

Penso em dizer a ele que eu não tinha namorado nenhum, mas estava farta de dar explicações a Will e não receber um voto de confiança sequer. Começo a me sentir meio tonta e desligo o celular bufando de raiva. No mesmo instante, Treena aparece na porta do quarto, como se estivesse se certificando de que eu estava viva. Ela tinha a habilidade de aparecer nas piores horas.

-Você ainda tá de frescura? Não vai levantar daí nunca mais? - Diz ela, com sua "delicadeza" de sempre, olhando para o balde com vômito que eu deixei ao lado da minha cama.

-Comi alguma coisa que tá acabando comigo Treen. -Respondi, com a voz fraca e sonolenta.

-Sei bem o que tá acabando contigo, e tem nome e sobrenome. Você ficou meio mal desde que vocês terminaram, e agora está somatizando.

-Eu não tô somatizando e não tô depressiva, tire isso da sua cabeça. -Eu digo, e pego o balde para vomitar novamente.

O rosto de Treena se iluminou, como se ela tivesse acabado de ter uma grande ideia.

-Meu Deus, como eu não pensei nisso antes?

-O que foi? -Perguntei a ela.

-Sua menstruação tá atrasada? -indagou, e eu entendi imediatamente o que estava se passando na cabeça dela.

-Não, não, não, não, não, não pode ser isso. -digo, tensa.

-Me responda, Lou, tá atrasada ou não? -Ela diz, olhando bem no fundo dos meus olhos.

-Uns cinco dias. -Respondo, e sinto minha voz murchar.

-Vocês usaram camisinha?

-Sim, esquece isso Treena. Você tá parecendo o tribunal da Santa Inquisição. -Respondo de imediato, e me lembro que usamos proteção quase todas as vezes, exceto a primeira. Congelo no mesmo instante. A melhor noite da minha vida agora estava me dando calafrios.

-Não minta pra mim, Lou.-Seu olhar era duro, e, ao mesmo tempo, passava confiança, ela segurou a minha mão. -Eu te conheço melhor do que ninguém, e dá pra ver pelos seus olhos o quanto você está apavorada.

-Nós transamos uma vez sem camisinha sim, mas foi só uma vez. -Respondo, e sinto duas lágrimas repousarem em meus olhos.

-Vou agora mesmo na farmácia comprar o teste. -Ela disse, por fim.

-Não tem necessidade disso...

-Tem sim, precisamos saber o  que está acontecendo com você. Depois que você fizer o teste, vamos no médico.

Não consegui discordar, se tivesse mesmo um bebê dentro de mim, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito além de simplesmente aceitar.

-Vai dar tudo certo. -Ela disse, me dando um beijo na bochecha. E saiu em disparada rumo à farmácia.

                                                         ***
 
Treena voltou cerca de dez minutos depois, mas pareceram uma eternidade para mim. Meu coração estava dando pulos de ansiedade quando ela entrou no quarto, me entregando o teste de gravidez e um copo descartavel, que eu peguei com as mãos tremendo. Ela me explicou tudo o que eu tinha que fazer e fui até o banheiro cambaleando. Uma linha preta, eu não estava grávida, duas linhas pretas, e minha vida mudaria pra sempre a partir daquele momento.

Me tranquei no banheiro e urinei no copo descartavel, retirei uma fita transparente que estava dentro da embalagem e mergulhei no copo. Sentei no chão do banheiro, tentando não pensar muito no futuro, e esperei durante os minutos mais longos e torturantes da minha vida, comecei a suar frio, eu me sentia mais exausta do que nunca. Quatro minutos depois, veio o resultado.

Duas linhas pretas.