The Spider

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Já tinham se passado alguns minutos desde que Lauren estava parada observando Camila, que se encontrava a apenas alguns metros de distância, olhando atenta para uma das aranhas que lhe chamou a atenção. Uma perfeita stalker é como ela estava se sentindo. Ela tentava encontrar coragem para dar alguns passos e falar com a latina, sem ser interrompida por um ataque de timidez repentino que lhe travava a língua sempre.

Pouquíssimas vezes as duas se falaram ao longo do ensino médio. Lauren sempre foi muito reservada e tímida, e a outra achava que de alguma forma incomodava a maior quando estava por perto. Lauren sempre ficava vermelha e falava pouco quando a latina tentava algumas vezes tirar algumas dúvidas em algumas matérias que tinha dificuldade, ou quando ela se preocupava perguntando sua situação depois de um eventual banho de raspadinha perto de seu armário.

Lauren sabia que a atitude conta muito na hora de tentar impressionar alguém, as pessoas perdem oportunidades por medo de se declarar ou até mesmo mostrar um leve interesse. A preocupação em atitudes como reações e pensamentos das outras pessoas não era a preocupação de Lauren. O Que sempre a afligia era a própria Camila. Ela simplesmente ficava sem o controle de seus sentidos, ficava sem palavras diante de tanta perfeição que a latina exalava. Aos olhos dela, a latina era perfeita até no que poderia ser considerado como defeito.

E ainda tinha Austin, que por mais que tenha sido uma pessoa completamente falsa, ela ainda se importava em não machucá-lo. Nem ela entendia o porquê. O "amigo" a abandonou e depois estraçalhou seu coração ao ficar com Camila. Mas ela era diferente, e por mais que sofra com a situação, sempre pensa no melhor para o rapaz. Ela não conseguia ser diferente disso.

Mas dessa vez Lauren não iria pensar em nada e nem em ninguém que não mereça, ou se deixar levar por qualquer tipo de nervosismo. Com uma decisão tomada, caminhou a passos lentos até a garota distraída, e engolindo em seco estendeu as mãos, que estava tremendo vergonhosamente, até tocar no ombro da latina, chamando sua atenção.

- O...oi – Gaguejou baixo. Viu ela se virar rapidamente, fazendo com que os cabelos criassem um movimento para o lado, deixando um cheiro de morango com baunilha no ar, cheiro que chegou rápido até ao nariz de Lauren, que quase desmaiou com a sensação vertiginosa que lhe atacou. Era como cheirar o céu, por mais que não fizesse sentido algum naquele momento, ou presenciar uma propaganda de shampoo.

- Hey – Sorriu de forma incerta logo que a reconheceu.

- En... Então... Queria saber se posso tirar algumas fotos suas com essas aranhas logo aí atrás. É para o jornal da escola e eu preciso da foto com uma aluna, e vejo que você provavelmente esteja disponível. – Quase se engasgou com o próprio nervosismo, mas conseguiu coerência no final da fala.

- Claro que você pode. – Abriu ainda mais o sorriso ao perceber a garota mais alta se atrapalhando com a câmera e dando alguns passos para trás, assim conseguindo um melhor ângulo para as fotos. – Aonde você quer que eu fique? – Disse se posicionando perto das cápsulas com divisórias para as aranhas.

- Aí está ótimo para... – Cortou a frase no meio e gargalhou da pose que a latina já estava fazendo. E por Deus, aquele foi o som mais lindo que já passou pelos tímpanos de Camila, superando até mesmo seu Ed Sheeran.

- Porque está rindo? Não quero sair feia no jornal. – Falou sorrindo e fazendo mais poses estranhas para conseguir ouvir aquela gargalhada perfeita por mais tempo.

- Temos que ser sinceras aqui. Você ficar feia, em qualquer situação, seria completamente impossível. – O comentário surpreendeu à pequena, mas resolveu apenas aproveitar aquele momento único, sem qualquer tipo de questionários.

Lauren posicionou a câmera, dando início a sessão de fotos preenchida de gargalhadas e elogios velados para a beleza da latina. Era inevitável, ela estava ainda mais apaixonada a cada foto que tirava, como se ainda fosse possível. Até que Ally e uma Normani com o cabelo comicamente bagunçado pós-foda, chamassem a atenção da latina para que se juntassem a elas. Camila direcionou um "Até breve, amei a sessão" para a morena, que sorriu boba observando o andar apressado da outra até as amigas.

Apenas um pequeno detalhe passou despercebido nesse curto período de tempo. Descia por um fio de teia, uma pequena aranha que tinha de alguma forma conseguido fugir de uma das quinze divisórias anteriormente observada pela turma, com aranhas geneticamente modificadas, a qual Camila alertou ter apenas quatorze delas presentes.

Assim que a latina saiu do campo de visão de Lauren, a pequena aranha se apoiou na parte superior da mão da morena desatenta, que ainda segurava a câmera perto do rosto. Mas ao dar um leve movimento com a mão, o artrópode se sentiu ameaçado e picou em uma das veias de sua mão direita como forma de defesa, fazendo ela quase gritar de dor e movimentar o braço para baixo por puro reflexo, consequentemente jogando a aranha no chão. Agachou-se e observou a aranha andar rapidamente para debaixo de uma das mesas do local. 

- Porque tá agachada aí, existem banheiros sabia? Você pode fazer esse tipo de necessidade neles. – Dinah lhe surpreendeu pela segunda vez no dia, mas por algum motivo ela não conseguiu reagir. Estava começando a ficar tonta e só pirou quando tentou levantar, teve que ter a ajuda da mais alta que serviu de apoio. – Ei Jauregui, vai com calma, o que houve? – Disse em tom de preocupação.

- Não sei, Dinah. Você pode avisar ao Adam que eu tive que ir pra casa? Não me sinto bem...

- Tudo bem, vou levar você em casa depois de avisá-lo. – Ainda estava aflita com a situação da amiga.

- Não precisa, você sabe que é aqui perto. E já estou indo. Não se preocupe, deve ser só a minha pressão. Sério, fique aqui, você já tem muitas faltas e vai reprovar se tiver mais uma. – Começou a suar frio e tremer um pouco com a tontura.

- Tudo bem. – Concordou a contra gosto, pois sabia que era impossível tentar convencer a amiga de alguma coisa contra a vontade dela - Dê um jeito de me avisar quando chegar, ok?

- Ok. – Disse já guardando a máquina para ir embora.

...

Lauren abriu a porta de casa com certa dificuldade, tropeçando logo em seguida. Quando levantou percebeu os tios sentados na sala a olhando com certo espanto.

- Ah, oi... oi... hmmm oi. - Disse completamente arrastado e estava pingando de suor.

Ben e May se entreolharam, achando o comportamento da sobrinha totalmente fora dos padrões do normal.

- O que houve? Porque saiu mais cedo da escola? – Disse a mais velha levantando-se e indo de encontro à sobrinha.

- Nós estávamos em um passeio em Columbia e me senti indisposta. Desculpe, sei que sou uma irresponsável. – Disse dando um pequeno beijo na bochecha tia e seguiu cambaleando para cozinha – Nossa, que fome!

O casal apenas seguiu a mais nova e ficaram observando do batente da porta a ela devorar algumas das comidas congeladas que May guardava.

- Ela bebeu?

- Acho que não. Está parecendo mais com algum narcótico.

- Esse bolo de carne... – Apoiou-se na porta da geladeira – Melhor bolo de carne DO MUNDO.

- Realmente, acabei de acreditar que ela está mesmo com alguma droga bem pesada circulando pelo sangue. Até gostou do seu bolo de carne. – Falou Ben, recebendo um tapa no braço dado pela esposa.

Enquanto isso Lauren empilhava nos braços vários tipos de vasilhas com congelados e caminhava quase caindo rumo à escada que dava acesso ao seu quarto.

- Meu Deus, ela pegou o macarrão com queijo congelado.

- Notei. – Olhavam embasbacados a sobrinha tentando subir as escadas e falhando em alguns degraus.

- Por qual motivo não me disse antes que não gostava do meu bolo de carne? Podia ter me falado isso há 39 anos. Quantos bolos de carne eu fiz para você até hoje... – Dizia May voltando para a sala e fazendo Ben respirar fundo para a garfe que cometeu.

...

Lauren comeu quase todo alimento que levou para dentro do quarto, e agora estava retirando a roupa com a mesma dificuldade que teve para subir as escadas. Quando estava apenas de sutiã e uma calcinha boxer, tentou sentar na cama, falhando miseravelmente e caindo no chão.

Sentia que estava tudo girando, não conseguia controlar os flashes de luz bombardeando seus olhos e os músculos que contraiam sem sua permissão, fazendo com que ela tremesse muito, assemelhando-se a uma convulsão.

Até que tudo ficou escuro.

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