FACHADA

Prólogo

O Retorno :

Três anos antes...

Dezembro, 2013.

Meu coração batucava desenfreado a cada avanço dos quilômetros percorridos em meu itinerário de volta para casa, no rádio tocava Rolling In The Deep, ao qual eu ouvia e me martirizava com a invasão de lembranças indesejadas a cada estrofe entoada, por Adele.

The scars of your love, they leave me breathless

"As cicatrizes do seu amor me deixam sem fôlego"

I can't help feeling

"Não posso deixar de sentir"

We could've had it all

"Que poderíamos ter tido tudo"

You're gonna wish you never had met me

"Você vai desejar nunca ter me conhecido"

Eu já estava exausta, dirigia a mais de quatro horas, fiz apenas duas paradas, uma para o almoço e outra para tomar um café. Não sei porque, mas cafeína me acalma, ou acalmava, já que dessa vez não surtiu efeito algum.

Minha tensão só aumentava, uma vez que a distância da minha estimada Cidadezinha só diminuía. A famosa"Capital dos Cerrados, cidade do futuro", que poderia muito bem também ser intitulada de terra da maledicência, onde todos querem dar pitacos, falam e julgam a vida alheia. Chega até a ser engraçado, as vezes, poucas vezes na verdade. Pois ter sua privacidade invadida, debatida e compartilhada não é nada legal. É constrangedor, por vezes até humilhante. As pessoas não sabem o que causam nas outras, o quanto isso afeta e prejudica. Mexe com a mente, .

No entanto, é uma cidade que tem lá seus encantos, localizada no sudeste do Piauí, às margens do Rio Parnaíba, com cerca de pouco mais de vinte e dois mil habitantes, ou seja a cidade é minúscula, um ovo em comparação a nossa Capital Teresina. Muito pacata no que diz respeito a lazer, diversão e cultura. Porém é atrativa economicamente por conta da agricultura, um dos motivos pelo qual estou voltando...

Por um instante pensei em reduzir a velocidade com o intuito de postergar minha chegada, mas logo tirei da cabeça essa ideia tola, eu só me cansaria mais, e não adiantaria nada. Eu teria que voltar e enfrentar meus medos, minhas lembranças.

Apertando o acelerador com o pé direito, eu aumento consideravelmente a velocidade de 100km para 150 km por hora, enquanto com o pé esquerdo dou batidelas leves no carpete da minha nova caminhonete Mitsubishi L200 Triton automática, uma belezura, que ganhei de presente de formatura. - Um mimo do papai, foi o ele disse. Aceitei de bom grado, afinal ela me será muito útil tenho certeza que usarei bastante pelos campos.

Tão logo avistei o portal com o indicativo de chegada da cidade, senti um rebuliço estranho dentro de mim acompanhado de um punhado de sentimentos, lembranças que vieram junto com um frio na espinha, barriga, mãos suadas e uma certa angústia. - Aff. Odeio essa sensação, essa mescla louca, sei lá, meio que como um pressentimento ruim entende? É talvez não é nada...