5. Cidade Pequena - parte 2

781 84 9
                                    

Capítulo Cinco :

De forma descarada e totalmente relaxada Tony se encosta na lateral da porta do carro com a mão esquerda no bolso e a outra no retrovisor da caminhonete. O folgado me examina com seu penetrante olhar de tigre predador.

- Como sabe meu nome, se eu não te dei essa informação? Estás me perseguindo é ? É espião ou algo do tipo.

- Não, sou agente do governo, imposto de renda mais precisamente...

- Está bem, então está no país errado. Essa nomenclatura não existe aqui. - Sorrimos juntos. Agente.

- Cidade pequena... tem lá suas vantagens... Ainda nos encontraremos muito, pode apostar. - Ele pisca o olho esquerdo repuxando o canto da boca em um pequeno sorriso. Nós ficamos em um instante no silêncio, até que ele inicia um diálogo novamente.

- Arminda, alguém já te disse o quão exótico es teu nome, é pouco comum, mas soa bonito, assim como a dona. Mas se preferir que eu a chame por outro. É só me dizer.

- Você quis dizer exótico de estranho certo. Não precisa me bajular...

- Não, digo exótico no sentido de ser diferente mesmo. Mas bonito. - Falo sério, acredite gata.

- Hmm... sei. - Meu nome não é bonito coisa alguma, mas eu gosto, não só o que é belo tem valor e outra é o mesmo do meu pai e significa mulher forte. Então. .. dou de ombros. É o que importa. E mais uma coisa, não me chame de gata novamente, detesto apelidos é brega e retrô. - Fiz cara de nojo para ele.

- Ok. Profundo em...  uii. Mas ... Ouvi dizer por ai que "brega é o coração que nunca amou"... então...

- É brega sim. Gata. Qual é? E essa tua frase ai, não passa de filosofia de mesa de botequim, não tem nada a haver.

- Talvez não. Mas é bem interessante. O que me diz dela ?

- Como dizia Sócrates - "Só sei que nada sei." Mas ... Perceba meu ponto. Agente costuma chamar de brega a tudo que é forçado, exagerado e kitsch como por exemplo a banalização de sentimentos, a demonstração elevada destes,
além de expressões como gata, gatinha, bebe, mômô por ai vai, para mim é uma pior que o outra.

- Interessante tua tese. Então és anti- romântismo ?

- Eu não disse isso. Só não gosto de nada em excesso pode se dizer... Bom a conversa está muito filosófica, até eloquente, mas agora eu preciso ir.

- Porque a presa ? É um namorado, admirador que a espera?

- Não tenho namorado e você é muito indiscreto sabia? Eu poderia dizer que não é da sua conta mais...

- Eu não sou indiscreto, só gosto de satisfazer minha curiosidade, não tenho medo de pegar na cara. Na verdade... Eu..

- Ei "dotor" Hélio "Junio" faz favor aqui quero falar com o senhor rapidinho. Fomos interrompidos com o chamado do rapaz que vive bêbado perambulando pela ruas e possui um apelido bem peculiar "Apagão", devido ele ser negro.

- Pois não, pode fala dai mesmo caboco. Eu estou escutando daqui.

- O senhor não tá me "conheceno" não "dotor"?

- Estou sim. É o famoso "Apagão" certo? É só qhe estou ocupado aqui. Mas pode falar, estou te ouvindo.

- Atá ... Desculpe incomodar é que ... sabe. O senhor não teria uma moeda ai, pra eu "tumar" uma cachaçinha ali. - Fala coçando a cabeça, fazendo uma expressão de coitado que meu Deus, sinceramente tenho pena, o vício, o álcool é triste o efeito exterminador que ele causa nas pessoas.

FACHADAOnde histórias criam vida. Descubra agora