Terceiro

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Depois do dia torturante naquela escola, finalmente já estava em casa, mexendo em meu material de desenho para começar um novo trabalho, por incrível que pareça, eu estava inspirado para fazer alguns rabiscos.

E após longos minutos, fui perceber que todos os desenhos que fazia desde a volta da escola se resumiam em uma única pessoa.

Frank.

Não entendi porque estava agindo daquela maneira, sempre adorei desenhar diversas coisas, a maioria das vezes seres que nem existiam. Então, por que eu estava só desenhando aquele garotinho?

Não queria conversar com meus pais e muito menos com meu irmão sobre o que se passava dentro de mim, preferia continuar com aquele turbilhão de ideias confusas do que ouvir meus familiares dizerem coisas que ainda não conseguia entender direito.

Fui para cama mais cedo do que queria, talvez pensando assim poderia enganar o tempo e fazer o dia seguinte chegar mais cedo. E em vez de dormir, apenas fiquei observando o teto, virando de um lado para o outro na cama, impaciente já, sem conseguir desativar os pensamentos naquele momento.

Fechava os olhos e a única coisa que conseguia ver era as lembranças do último dia que vi Frank, na escola, naquele maldito banheiro, o observando desabar em sangue. Tive medo de perdê-lo, confesso. Tive medo. Muito.

O que me despertou de todo aquele transe que estava preso minutos depois, foi as mãos de minha mãe contra meu corpo, e pude ouvir sua voz me chamando. Era hora de ir para escola. Finalmente.

Me arrumei rapidamente e mal consegui tomar café da manhã, correndo para a escola tão animado que meu irmão até estranhou, fazendo piadinhas comigo durante o caminho, era o dia dele me levar até o colégio.

- É sério aquela história de você bater nos garotos para defender um garotinho doente? Mamãe me contou uns dias atrás, toda orgulhosa de você... – Durante a curta caminhada até local de destino, meu irmão não resistiu em quebrar o silêncio.

- Uhum... – Disse baixinho, assentindo com a cabeça e continuando a andar olhando para frente.

- O garotinho é doente... Hm... O que ele tem?... Hm... É algum problema mental? – Perguntou a mim, com um sorriso estranho na face e me coloquei a pensar se aquela pergunta era um tanto indiscreta e ousada da sua parte.

- Não! – Rapidamente respondi aumentando a voz, quase gritando para toda a rua ouvir – Ele tem leucemia, acho que esse é o nome da coisinha que vive dentro dele, deixando-o doente... Mas isso não quer dizer que ele não é normal... Na verdade, ele é um garoto muito especial – Acabei deixando um de meus pensamentos falarem mais alto e despejei-o justamente em meu irmão, que adorava fazer piadinhas quando falava alguma coisa que ele poderia usar contra mim.

- Especial? – Por incrível que pareça, ele me olhou, parou de andar e soltou minha mão por um momento, coloco-as em meus ombros e passou a fixar seu olhar contra minha face novamente. Mas, seu olhar estava diferente, sua expressão facial era doce e calma, meu irmão estava estranho.

Assenti com a cabeça para o que digamos que fora uma pergunta de sua parte, e foi aí que ficou ainda mais estranho, ele se atreveu a me abraçar e dizer algumas frases abafadas em meus ouvidos.

Fazia anos que toda aquela proximidade entre ele e eu existia, nem lembrara da última vez que ele tinha feito aquilo. Depois que meu irmão ficou maior de idade, muita coisa mudou, sempre pensei que ele me via como uma criancinha que o irrita a todo momento, enquanto eu o via como um grande exemplo.

- Vamos, agora eu que estou muito orgulhoso de você, baixinho – Disse me soltando e voltando a caminhar normalmente. – Eles crescem tão rápido.

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