Primeiro

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Estava ansioso para voltar para escola depois das férias, ainda mais após meus pais terem me dito que agora teria um novo coleguinha na minha turma, mas de algum modo eles tentaram me explicar que ele era diferente. Uns dias antes das aulas começarem novamente, meus pais foram até meu quarto, tirando a atenção que eu dava aos meus desenhos por um tempo, afirmando que seria uma conversa séria e como eu já estava bem grandinho, eu iria entender.

Até porque eu me sentia o mais estranho da turma, mesmo com nove anos eu me sentia sem vontade de ficar correndo todos os intervalos e brincando por aí, ou conversando com os outros garotos, mas também, ninguém nunca fora de querer ser muito meu amigo, eu era mesmo o estranho dali, mas eu também não me importava com aquele detalhe, meu irmão mais velho sempre dizia que escola era algo passageiro, não duraria para sempre.

Mesmo não entendendo as rápidas palavras de meu pai, tentei captar o que ele dizia, era algo como o garotinho novo na escola não teria cabelos, mas, era só isso que o fazia diferente? Um detalhe tão simples, que até meu avô possui, e isso não o deixa menos legal comigo e com as outras pessoas.

Mas, porque o cabelo de uma criança de nove anos não crescera ainda? Nossa, com certeza era algo genético e demoraria um pouco mais para o menininho ter seus primeiros cabelos na cabeça, o que me fez lembrar como minha mãe dizia sobre falar ou trocar os dentes, cada um tem seu tempo. Deve ser isso mesmo, mas ainda ao menos o conhecendo, ele parecia ser um garoto legal.

Mal consegui dormir ansioso para o tal do "primeiro dia de aula". Era finalmente meu último ano naquela escola e ano que vem iria para uma escola nova! E ainda mais, muito maior do que a outra.

Enquanto arrumava meu material e ajeitava minha mochila, ouvia meu irmão deitado na cama ao lado, preguiçosamente, falando no telefone sobre coisas que eu ainda não entendia o que era. Ele estava cada vez maior! Tinha até vergonha, às vezes, de pedir alguma coisa para ele pegar no alto para mim, e ele sempre alegre e engraçado, zombava um pouco do meu tamanho e apalpava minha cabeça, rindo.

Minha mãe começou nos chamar para o café da manhã, eu obedeci, mesmo não estando com fome ainda, já meu irmão... Continuou na mesma posição e falando, como se não tivesse escutado minha mãe falando.

Depois de me alimentar e receber um beijo na testa de minha mãe, fui levado para a escola e deixado ali, sim, deixado! Me deixaram sozinho! Com a famosa frase "Você já está grandinho." Mas isso não me impede te ter meus pais ali no primeiro dia de aula, falando com os professores por mim e vendo os pais dos alunos. Era só o que me faltava mesmo em...

Procurei por meu nome na listinha que tinha ao lado da porta, encontrando-o em uma sala que ainda não conhecia direito, mas mesmo assim, entrei. E vocês devem estar se perguntando quando o garotinho "diferente" que esbarrou em mim segundos atrás chega? Não é mesmo? É, foi mais fácil de reconhecer do que eu pensava.

Um tanto distraído entrando na sala de aula e pensando no lugar que escolheria para sentar, acabei por dificultar a passagem de um garotinho, bem menor do que eu, mas seus olhos eram tão belos, incrivelmente pigmentados com uma cor que eu jamais vira antes! Era uma mescla perfeita de verde com um tom avelã.

Sem querer, o meu leve empurrão contra o corpinho magro do garoto, derrubou o seu boné e aí que a conversa anterior se explica. Acabei descobrindo o garoto diferente que meus pais haviam dito para não o incomodar.

Por incrível que pareça sua cabeça era completamente sem vida, sem nenhum fio de cabelo cobrindo toda aquela pele pálida a mostra. O que fez o menino quase perder o chão, olhando para baixo imediatamente e tentando pegar o boné o mais rápido possível, para que ninguém pudesse ver aquilo, como se fosse um enorme problema para ele.

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