Último

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Algumas gotículas tocavam meu casaco, demostrando a curta chuva que caia ali. O tempo estava escuro, típico de final de outono. As árvores estavam secas e sem vida, pareciam mortas como todos ali em volta.

Procurei pelo nome de Frank, mas nada encontrei, não lembrava de seu nome completo e sua face ainda continuava meio embaçada em minhas lembranças, havia passado tanto tempo.

Eu estava realmente ficando louco, ou o frio já tomava conta de minha cabeça e nem sabia o que estava acontecendo mais ao meu redor. Parecia que havia uma pessoa ali, um pouco distante de mim, mas seu semblante lembrava Frank e aquilo me assustava por completo.

Um arrepio tomou minha espinha e as chaves do carro junto ao meu celular foram diretamente no chão, mal tive tempo de segurá-las com mais firmeza para evitar a queda. O barulho chamou a atenção da única pessoa logo a minha frente e ela passou a olhar diretamente a mim, o que me incomodou por demais, eu parecia conhecer aquela pessoa, mas não poderia ser quem eu pensava.

Meu corpo estava estranho, amolecido e minha pressão certamente havia abaixado, eu lutava para me manter em pé e ter um troço logo agora, justamente em um cemitério.

As gotinhas que escorriam pelas folhas das arvores e paravam em minha face, tentavam me manter acordado, seu frio estalava em minha pele quente demais. Tinha alguma coisa errada comigo naquele momento e percebia que certamente iria acabar no chão.

- O senhor está bem? – Ouvi enquanto minhas pernas pareciam gelatinas e brincavam comigo. – Lousie, me ajude aqui – Agora soou mais alto.

Naquele momento só conseguia ouvir as pessoas falando e falando, enquanto minhas pálpebras grudavam e não conseguia abrir os olhos, muito menos mandar em meu próprio corpo.

Abri os olhos e me vi fitando um teto esbranquiçado, sabia realmente onde estava e não gostava nenhum pouco dali. Olhei para o lado e vi alguém encolhido no sofá próximo a cama, não conseguia identificar quem era, mas se estava ali, seria algum conhecido.

Estava um pouco irritado, já que odiava hospitais, e não aceitaria tão fácil ficar ali. Levantei num supetão, puxando alguns fios comigo e quase indo de encontro ao chão por causa da maldita tontura que me tomou naquele segundo.

O estrondo que causei acordou o garoto ali imediatamente, ele parecia mais assustado do que eu e veio em minha direção rapidamente, segurando-me pelos braços para evitar uma queda.

- Senhor, você tem que ficar deitado, descansar – Com aquela primeira palavra dita já sabia de quem se tratava ali, era o mesmo garoto que tinha visto no cemitério e pelo o que parecia, ele não era nenhum fantasma.

- Do jeito que me chama, parece que eu tenho sessenta anos. – Resmunguei, sempre do meu jeito bem-humorado.

- Desculpe, senh... – Riu. Aquela coisinha a minha frente começou a gargalhar na minha cara, mas incrível que pareça, eu não quis correr dali ou xingá-lo.

Foi estranho, meu coração começou a pulsar mais forte e meus olhos não conseguiam parar de fitar aquela cena, minhas mãos tremiam levemente e estavam úmidas. Porra, o que estava acontecendo comigo?

- Desculpa a pergunta, mas quem é você? – Perguntei com a maior vergonha do mundo, aquele cara poderia ser algum amigo e eu mal conseguia lembrar seu nome.

- Frank. – Quase engasguei com meu próprio ar naquele segundo, minha mente insistia em dizer que eu o conhecia e seu nome era exatamente igual do antigo amigo que tinha, mas não, não poderia ser, ele estava morto. – Ér... É que você passou mal no cemitério hoje cedo e eu te trouxe para cá, como eu não consegui encontrar nenhum de seus familiares, me passei como seu irmão, desculpe, eu sei que sou um completo estranho para você... – Ele passa uma das mãos pelo cabelo liso e escuro, falava calmamente e seus olhos vagavam todos os cantos, menos os meus. Eu não conseguia prestar mais a atenção em nenhuma palavra que ele dizia. Merda, Gerard, merda.

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