Capítulo 8

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Alguns vultos cercaram a minha cabeça, alguns flashes de imagens aleatórias, e eu ficava cada vez mais confusa. Lucas parecia tomar vida em minha frente, carregando no colo uma garota igual a mim, ele entrava na casa, e o que pude perceber foi o jeito que a garota dormia, de uma forma silenciosa, e com uma expressão que passava segurança e proteção. Com certeza aquela não era eu... Ou era?

-O que foi? - Tomás perguntou de forma aleatória.

-O que? - De forma rude respondi com uma outra pergunta - Eu estou tonta, parece que vi coisas, a minha cabeça dói e gira, eu não sei.

-Venha, entre. Tem uma cama ali dentro, você pode deitar lá até o teu mal-estar passar. - Ele falou de forma protetora.

Eu admito que fiquei curiosa, mas meu coração acelerava de uma forma bem ruim a cada passo que eu dava em direção a casa. Minha cabeça dizia "Não entre ai, ele pode ser um psicopata", e outra voz, que sinceramente de onde veio - não sei - , dizia "Confia nele, ele nunca pisou na bola contigo".

Quanto mais eu andava, mais confusa eu ficava. Entrar ou não entrar?

Xinguei minha própria mente, decidia a enfrentar as consequências por entrar numa casa abandonada no meio de uma floresta com um garoto que eu conhecia a menos de cinco dias. Irresponsável? Talvez. Então Tomás abriu a porta e entrando devagar, tocava a parde. Pra quê? Não sei. Então uma luz iluminou o interior do casebre. Tive a certeza de que aquilo que vi não eram apenas vultos.

- O que aconteceu aqui? - Tomás falou com rancor e tristeza.

Tinha uma cama pequena, e o colchão por cima dela, parecia marcado. Alguém estivera ali a pouco tempo, e eu tenho medo de saber quem foi. Olhei para Tomás, e ele tampou o nariz com as pontas dos dedos, e eu não estava sentindo nada, mas depois que vi um preservativo no chão, eu também tapei o nariz. Ele arqueou as sobrancelhas, como se dissesse "Caramba! Agora faz todo sentido!" . 

-Parece que alguém já descobriu esse lugar, e trouxe a namorada pra cá - Seu tom era de extremo nojo e discordância.

Eu comecei a ficar sem saber o que falar... E se ele me perguntasse se eu tinha dúvida sobre alguém? E se ele me perguntasse o que fiz a tarde? O que eu diria? Meu cabelo grudava no meu pescoço, o dia estava nublado mas eu sentia um ar quente emanando de mim mesma. Então prendi o cabelo no alto da cabeça.

- Calor, não é? - Falei pra ele que me encarava.

-Ana, você está bem? - O menino perguntou inocente. E eu sabia responder essa pergunta? Eu estava bem?

Pensei e disse:

-Claro, por que não estaria? - Sim, fui grossa. Resolvi mudar de assunto antes que ele insistisse.

-Bem, é lindo aqui,  não é? óbvio que algumas coisas não - Olhei para a camisinha usada - , Mas... Você vinha pra cá?  - Foi estranho, deu a impressão de que eu perguntei se ele já trouxe alguma menina pra cá, então reformulei a pergunta - Você, quando era criança sabe? Vinha pra cá? Como descobriu o lugar?

-Ah sim... - Catou uma vareta de madeira no chão provavelmente, proveniente de uma árvore e andou em direção ao pequeno lixo no chão. - Eu vinha aqui para ler, desenhar, e pensar um pouco. Agora descobri que outros também vem pensar na vida, e em como fazer outras vidas. 

Tomás arremessou o graveto com o preservativo na ponta pela porta, num arco grande. atirou feito uma lança. Dentre as copas das árvores, eu não enxerguei mais. 

 -Cê vai me dizer que "nunca" trouxe uma namoradinha pra cá? Pra dar aqueles pegas? - Sentei numa mesa de canto que tinha na parede oposta a da cama.

Tomás refletiu, olhando para fora da pequena janela que ficava no meio da parede da cabeceira da cama. Ele de repente olhou para o chão, bateu com a ponta do seu pé esquerdo no chão, começou a corar. 

-Nunca trouxe nenhuma namorada pra cá.

Pulei da mesa e disse:

-Assim como nunca trouxe - Comecei a andar de forma circular em torno dele - , nunca teve uma namorada também! E provavelmente você nunca transou...

-Não precisa ficar jogando isso na minha cara também - Me cortou por ali mesmo, e eu ri - O que foi? - então eu parei de andar e fiquei na frente dele. Tomás era uns quinze centímetros mais alto que eu. 

-Eu só estava jogando verde, okay? - Levantei as mãos de forma a recuar - Você quem confirmou.

Tomás nitidamente sentiu-se ofendido, e foi sentar-se na cama. Logo pensei em alguma coisa para me concertar.

-Mas... Eu não entendo. Você é bonitinho... Como nunca namorou? - Perguntei desconcertada.

-Eu sempre foquei meu tempo nos estudos. Eu já fiquei com algumas garotas, mas não quis nenhum compromisso.

-Isso é tão argh! - Coloquei dois dedos no fundo da garganta como se fosse forçar vômito. - Você se preocupar tanto com aquela porcaria de escola.

-Você diz isso, porque não é uma bolsista. E só pra te lembrar nem isso eu sou mais, por sua causa!

-Eu já disse que posso pedir meu pai pra pagar tua mensalidade.

-Eu já disse que não quero a ajuda do seu pai. - Rebateu remendando o começo da minha frase anterior.

-Ai fica difícil. Eu estou tentando te ajudar, mas você não colabora.

-Não vou aceitar ajuda de quem vai jogar isso na minha cara depois.

-Hey, estamos caminhando para uma discussão, e eu não tô afim de discutir com mais ninguém hoje! - Cruzei os braços numa posição defensiva - Já não basta aquela sua Tia Theresa.

Tomás sem motivo aparente começa a rir. Eu tentei imaginar o porquê. Sentei do lado dele na cama e pensei. Nada fazia sentido, mas a risada dele era tão engraçada, que eu ri também.

-Então, sua risada é da hora, mas... por que é que você tá rindo? - Limpei  uma lágrima do olho que ameaçava a cair.

-O que você fez com a Tia Theresa?

-Ah... - Lembrei da mulher estirada no chão. - Foi cruel da minha parte, mas ela bem que mereceu. Ai dela se esbarrar em mim de novo.

-Depois disso tudo, acredito que ela não vá nem olhar pra você mais.

Eu ri e ele começou a rir comigo. Quando eu fui parando de rir, os flashes começaram a aparecer. Então a mesa de centro na nossa frente, serviu de apoio para Lucas sentar, e a garota que era parecida comigo, apoiava-se nele. Eram vultos, só via o cabelo loiro, e os movimentos rápidos, e logo depois vi na janela, a garota estava já sem blusa, assim como o garoto... As pontas do cabelo loiro dela caiam sobre as costelas, assim como o meu... E eu fiquei pensando nisso.

-Está ficando tarde. - Tomás olhou para a janela e verificou que o sol estava começando a se por - Devemos voltar.

-Sim, devemos - Concordei, e o que eu mais queria era realmente sair dali o mais rápido possível.

Tomás se levantou e caminhou até a porta do casebre, segurando a maçaneta improvisada. 

-Vamos? - Ele sorriu, e percebi que ele tinha um belo sorriso.

-Claro - Sorri de volta.

Andamos por alguns minutos, quando chegamos em uma árvore especial. Ela era maior que todas as outras e tinha folhas mais verdes. Tomás colocou as mãos na cintura, e ficou analisando a grande árvore, e após alguns segundos, continuou o caminho de volta. Já estava quase escurecendo, quando pulamos a cerca do Pomar.

-Ana? - Tomás se virou e me encarou com um rosto preocupado.

- O que foi? - Era melhor haver silêncio, então perguntei de forma grosseira pra ver se ele desistia de fazer qualquer pergunta ou me dar qualquer aviso.

-Você e o Lucas... - Ele me encarou - Transaram na velha casa?


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⏰ Última atualização: Sep 10, 2016 ⏰

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Ao Mesmo Tempo - Ana GabrielaOnde histórias criam vida. Descubra agora