A luz já penetrou a íris do meu olho, no segundo em que eu o abri. Respirei fundo e olhei pro meu lado.
O edredom roxo de bolinhas brancas estava embolado, e como eu estava meio zonza imaginei o formato de uma abelha. Ri da situação fechando os olhos. Quando olhei pro despertador pela segunda vez, eu havia acordado exatamente dois minutos depois da hora de despertar... Eu nem tinha ouvido. Será que havia mesmo despertado?
Dane-se isso é irrelevante. Disse a mim mesma.
Levanto, e ando até meu espelho.
Já estava de castigo na hora do intervalo, e isso me possibilitaria ficar fora das aulas do Professor entediante de história.
Mas credo, aquela escola não pode fazer nada, que é suspensão, detenção, ou castigo. Eu só decorei os dias que tem aulas dele, pra poder arrumar um motivo que me impedisse de participar... Não importa o quanto eu saiba, ou o quanto eu não saiba. Eu sempre passo de ano e série. E eu arrumei um belo de um castigo de segunda a sexta. Tomei na sexta, quando deixei o lanche todo jogado na frente da coordenadora em cima da mesa sendo que, é proibido deixar lixo nas mesas, ainda mais na frente das gordas...
O castigo era ajudar as serventes a recolherem as bandejas nas mesas deixadas pelos alunos, de segunda a sexta da semana em curso nas horas dos intervalos.
Suspirei, achei que isso seria mais interessante do que as aulas do Marcel, mas pensando melhor, as duas alternativas são uma porcaria. Reviro os olhos, levantando-me coloquei uma blusa preta da banda The Killers, uma calça jeans claro rasgada, e um tênis azul Royal.
Penteio o cabelo loiro e azul para trás, e faço um coque despenteado para cima. Graças a mamãe e papai, e a nossa senhorinha da boa genética, puxei o cabelo liso de Jonathan e o loiro claro de Juliet.
Pego o cardigã cor de vinho, e a mochila preta de couro.Fui andando toda marrenta pra cozinha. Sou assim mesma, cheia de marra, e é totalmente proposital. Sei lá, é legal impor respeito a base do medo. A empregada estava pondo o café na mesa, pego um copo de plástico daqueles com canudos. Despejo leite achocolatado dentro botando a tampa quando já havia acabado de enchê-lo, e abro a porta da entrada para esperar o Luke e o Jonas virem me buscar no jardim. Engraçado que eu sou toda marrenta, e bebo leitinho com chocolate no café da manhã. Só falta o copo ser da Barbie... Sim, sei que isso é um paradoxo.
E não, por incrível que pareça eu não tenho motorista particular. Meu pai acha isso uma baboseira, e diz que se eu for andando para a escola vou parecer mais com uma garota normal -como se eu quisesse ser "normal", como se algum dia eu fosse ter uma vida normal, e agir como uma garota normal...
Pego o celular do bolso, e fico jogando zombie tsunami até que perco no jogo e tampo o celular ao chão. Ele caiu nas pedrinhas que formavam o caminho da porta de entrada. Cruzei os braços, e fiquei batendo o calcanhar esquerdo no chão, em sinal de impaciência até o Luke e o Jonas virarem a esquina. Eu virei a cara, e esperei eles se aproximarem do portão descruzando os braços.
-Porque essa cara dude? - Luke perguntou, e apoiou os cotovelos na grade do portão branco.
-Nasci com ela, não posso fazer nada a respeito, luke lucky. - Trocadilho com nossos nomes, e palavras em inglês.
-O QUE SEU CELULAR MEGA CARO ESTÁ FAZENDO NO CHÃO, SENHORA ANA EDUARDA BRUCKOLSKI?! - Jonas deu o ar da graça e já apareceu gritando.
-Cala a boca Jonas! Que porcaria! Está de manhã, e você tá gritando agora! Eu perdi a bagaça do Zombie Tsunami!
Jonas revirou os olhos, e disse:
-Bixa ingrata... Tem um dos melhores celulares que existe atualmente e joga ele no chão, como se fosse um brinquedo de plástico. Affe... Dá pra mim se está com raiva, só não joga ele no chão!
-Pega pra você. Eu não ligo. - Respondi, abrindo o portão, o que fez Jonas sair correndo, em busca do aparelho móvel recém ganho.
Depois de virar a esquina da minha rua Jonas começou a fuçar no celular desesperadamente, porque o dele não tinha comparação ao meu ex-celular. Ele estava fascinado com o designer do sistema, o modelo e o desenvolvedor.
-Parece que ele vai infartar, olha Duda. - Me cutucou o Luke, e eu fiz com que nem tinha percebido.
-Você sabe que eu posso ter o celular que eu quiser dos meus pais, não é? Eu não estou nem aí, odeio esse celular de merda.
Luke continuou andando, e Jonas nem tinha ouvido o que eu dissera. Pra mim era só mais um, e para ele era o melhor celular que ele já tinha posto as mãos.
...
Quando chegamos na escola, Luke e Jonas foram para a sua sala e eu estava caminhando para a minha, quando vejo o nerd do Tom implorando para a Professora, provavelmente pedindo para entrar.-Com licença, eu posso entrar, professora? - Tom falou num tom baixo, e a professora imediatamente olhou para ele com os dois olhos grotescos e redondos azuis.
-Você sabe, ou já deveria saber, que não tolero atrasos. E isso vale para você também senhorita Bruckolski. - Disse meu sobrenome com um pouco de nojo.
Tom virou para trás e os olhos castanhos brilhosos olharam para mim, as bochechas coraram e ele logo voltou-se para a frente.
A professora abre a porta, e então logo procuro algum lugar vago. Havia uma cadeira paralela a mesa de Tom, exatamente ao lado de Tom.
Ri maleficamente por dentro. Lembrei que o teste de matemática era hoje. Sento e coloco a mochila no colo. Pego uma caneta, um lápis e uma borracha para fazer a prova. Meu estojo eu já tinha perdido faz tempo e eu nem sabia mais onde estava. Tudo ficava livre e solto na minha mochila de couro.
A Judy, que na verdade é Judith - a professora de matemática -, era uma baixinha, gordinha e muito brava. Ela entregou-me a prova, e em seguida para o Tom. Esperei ela se virar de costas e dar alguns passos, então me viro para ele, o nerd, e digo:
-Hey, Tomaz? - Ele olhou pra mim - Eu... - Passei o olho pela sala, e a Judy estava me encarando.
-Arrume outra maneira de colar essa pelo visto não dera certo, não é senhorita Bruckolski? - Olhei pra o lado direito, e dei de cara com a barriga redonda da Professora Judith. Do nada aquela mulher surgiu ali!
QUEM É VOCÊ?!
WTF?!
Aquela gorda de olho azul abaixou aquele óculos ferrado, e estava com o nariz achatado para baixo, o que dava a impressão de ter mais papada, ainda mais da visão que eu tinha a de baixo.
-Os dois! Para a diretoria agora! - Apontou a unha pontuda laranja para a porta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ao Mesmo Tempo - Ana Gabriela
RomanceDuda é obscura e vazia. Muitas pessoas acham que isso tudo é um personagem criado por ela, outras dizem que é um escudo para se auto-bloquear. Mas ela simplesmente é assim. Não faz o que faz por querer, ela só não sabe o certo nem o errado. Duda tem...