Capítulo 7

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Anoiteceu e ainda chovia. O Dani e eu havíamos escolhido um filme para ver no quarto e ele adormeceu, mesmo o filme sendo de ação e bastante barulhento. Quando o filme acabou, eu me levantei da cama onde o Dani ainda estava dormindo e desci até a cozinha em busca de um copo da água. E então levei um baita susto.

– Você! – acusei – O que você está fazendo aqui?! – perguntei para a criatura que estava em pé, apoiado na porta da geladeira branca.

Ele todo de preto fazendo contraste com o eletrodoméstico. Algo bem difícil de não ver. Não que discrição combinasse com aquele ser irritante. Aliás, acho que ele desconhecia a existência dessa palavra.

Era muita petulância dele ousar invadir a casa do Daniel também. Mas pelo menos ele não estava só de toalha, mas sim de calça jeans escura e blusa preta, completamente secos apesar da chuva. E eu não vi nenhum guarda-chuva por perto. Claro, porque o ser mais irritante do mundo era capaz de sair naquela baita chuva e não se molhar, ao contrário de mim.

– Se você tivesse trazido o teu celular, eu não precisava ter vindo. – ele retrucou, e um sorriso debochado e arrogante apareceu em seus lábios.

– Eu não gosto de celular.

– Percebi. – ele disse e o seu sorriso aumentou. Cara mala! – Mas se você tivesse trazido o teu celular ou pelo menos telefonado para os teus pais, eu não precisava ter vindo. Eles estavam preocupados. Disseram que não era do teu feitio sumir.

– Ah, sim. – eu ironizei. Cruzando os braços sobre o peito numa atitude defensiva. E eu ainda usava as roupas que peguei emprestadas ao chegar – E você se ofereceu para me encontrar de bom grado.

– Sim. – ele sorriu, ignorando meu sarcasmo de forma deliberada – Acho que já provei que sou bom em te encontrar.

Eu fiz uma careta, não deu para evitar. E eu nem tentei evitar. Ele não merecia.

– Como você faz isso? Você me fareja ou algo assim? Porque alguém me seguindo pelo cheiro é nojento!

– Algo assim. – ele disse, ainda encostado à geladeira. E então ficou sério ao acrescentar – Aliás, bonitos trajes. Isso é uma cueca?

– É. Porque ao contrário de você, eu me molhei toda para chegar aqui.

Ele riu. E os dentes deles eram bonitos. Ai, que raiva! Não queria achar nada dele bonito!

– Isso é porque você ainda tem muito para aprender, Marília.

– Certo. – revirei meus olhos. Como sempre, ele me irritava. – Falando assim, você parece um velho decrépito. Quantos anos você tem? 100?

– Não. Eu tenho 22. Por que quer saber? Está interessada em mim? – ele debochou.

– Lógico que não! O meu único interesse em você é te ver o mais longe possível de mim. Aliás, agora que já me viu, pode voltar e dizer para todos que eu estou bem.

Agora foi ele quem revirou os olhos, e logo aquela sua expressão de deboche apareceu de novo quando falou:

– Você tem muito que aprender, Marília.

– Cala a boca! – eu disse me virando de costas e então pegando um copo de vidro no armário. – Agora dá licença? – pedi, quase rosnando ao pronunciar as palavras.

Eu precisava desesperadamente de um copo de água bem gelado. Minha sede ao vê-lo só tinha aumentado.

Ele se moveu sem reclamar e até segurou a porta da geladeira para mim enquanto eu me servia da jarra. Quanta gentileza! Só que não.

Super Lila - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora