Eu sempre me perguntei como seria escrever sobre aquele curto espaço de tempo entre janeiro e dezembro de 2011. O ano em que tudo aconteceu. Quando algo é extremamente importante para a gente, simplesmente não sabemos contar. Não sabemos falar sobre porque qualquer descrição parece pacata demais, neutra demais. Como colocar todos aqueles sentimentos no papel? Como transmitir o doce daquela alegria e transportar o salgado das lágrimas? O que vocês verão nas páginas a seguir, senhoras e senhores, é uma tentativa, talvez frustrada (provavelmente frustrada) de relatar e perpetuar a parte mais importante da minha curta vida.
A primeira informação que vocês devem ter em mente é que sou gay. Se tem alguma objeção a este fato, por favor, largue estas páginas agora mesmo ou feche esse ebook, porque certamente irei te incomodar. Eu nunca dei muita importância pra isso. Sexualidade nunca me foi um tabu e eu realmente achava que gostava de garotas até 03 de janeiro de 2011. Mas chegaremos lá. Vamos do início.
Meu nome é Renato e não tem absolutamente nada de interessante a se saber ao meu respeito. Moro com meus pais e sou filho único, o que naturalmente me renderia muita atenção se meus pais não fossem hippies extraídos de filmes da década de 60, do tipo que acredita que tudo é válido desde que se tenha amor e que drogas é sinônimo de paz. Devido a liberdade que isso me deu, nunca reclamei.
Meu pai é um hippie consciente do mundo capitalista em que vive, por isso trai (com certo pesar, admito) seus ideais e se rende ao mundo corporativo todos os dias, de 6:30 às 20:00, onde é um bem-sucedido gerente do maior super mercado da cidade. Esse emprego, que ele ostenta como troféu a cerca de uns 20 anos nos garante um padrão de vida completamente aceitável.
Quando chegamos em 2011 (onde, espero que se lembrem, nossa história começa) eu tenho a linda idade de 15 anos: Aquela idade em que acreditamos poder tudo mas por alguma razão encontramos dificuldade de nos mover do lugar, em que os hormônios estão em fúria e os sentimentos também. Essa idade também coincide com a entrada para o ensino médio (a menos que você seja um prodígio e, nesse caso, por Deus, largue isso e vá ler algo com mais conteúdo) e na minha cidade, especialmente pequena, o ensino médio coincide com uma escola nova (já que, devido ao baixo número de alunos, existem escolas separadas para o colegial e para o ensino médio) então geralmente são vários adolescentes muitas vezes desconhecidos e com hormônios em combustão convivendo por cinco horas diárias. Um mar de sentimentos, em que qualquer pedrinha causa uma verdadeira tsunami. E quando passei por um réveillon especialmente chato, eu sabia que seria nesse mar que embarcaria no início de fevereiro, e já estava apavorado com a ideia.
Quando se trata de um mar de sentimentos, eu não sei nadar.
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O Garoto da Livraria
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