Agosto Mío

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Estar com Diógenes era fácil. Ele era carinhoso, engraçado e me dava segurança. Foi cômico quando o levei para conhecer meus pais e o apresentei como meu namorado. Foi a primeira vez que vi Dío realmente com vergonha.

Ele ia me visitar quase todos os dias no Cofecult e estávamos mais próximos ainda de Marcela. Ela era um tipo de "conselheira do casal". Com grande frequência eu ia para a casa de Dío após o expediente de trabalho, onde nos fechávamos no seu quarto e, entre beijos escassos e escapulidos, ele me ensinava a tocar violão - E quem diria, eu até levava jeito! Eu estava com o Dío quando ele contou para os pais que era gay e segurei sua mão quando disse-lhes que eu era seu namorado. Eu nunca pediria isso. Mas ele fez questão. Disse que me amava e que queria dividir isso com os próprios pais. Elas foram muito compreensivos e, depois de mais ou menos uma semana de vacância, eu pude voltar a frequentar sua casa sem problemas. No aniversário de casamento dos pais do Dío, uma pequena cerimônia onde somente foram convidados alguns parentes, depois de certa altura da festa o pai de Dío me abraçou e me disse: Se o meu filho tem que gostar de um garoto, estou feliz que seja de você.

Naquela noite eu percebi que Diógenes havia me apresentado secretamente a toda a família. Eles me cumprimentaram pelo nome e não olharam torto quando Dío e eu dançamos juntos.

Era bom ser aceito. Era como ganhar uma nova família.

- Vocês dois podiam parar de tanta boiolagem! - Disse Marcela, nos atirando uma almofada para separarmos nosso beijos.

Estávamos na casa de Dío e era um sábado a tarde. Marcela estava jogada na cama, enquanto eu estava sentado na poltrona, com o violão em mãos, e Diógenes estava sentado no chão, entre minhas pernas.

- Toca logo, Renato - Disse Dío e Marcela fez coro. Marcela nunca tinha me visto tocar. Deixei de acariciar os cabelos de Diógenes e peguei o violão, sem muita convicção.

Com voz hesitante, comecei a cantar Vinte e Nove, do Legião Urbana, mas a medida que Marcela e Diógenes começaram a cantar também, eu me entusiasmei.

Passamos por Legião Urbana e Kid Abelha. Engenheiros do Hawaii e Ira. Pitty e Elis Regina.

Depois, pedindo licença aos ouvintes, Diógenes pegou o violão e, com muito mais perícia do que eu, tocou The Best Thing About Me is You, o suficiente para me arrancar lágrimas silenciosas. Eu o beijei e Marcela disse que era bom estar conosco.

Eu tinha amigos e tinha um namorado. A vida era perfeita.

O Garoto da LivrariaOnde histórias criam vida. Descubra agora