PRÓLOGO

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Juntando as forças que ainda lhe restavam, o homem adentrou ainda mais na densa Floresta Silenciosa. Este nome não era meramente ilustrativo, era comum que os pecadores, guerreiros natos da Nação das Trevas, fossem ali para praticar suas técnicas das sombras. Os guerreiros buscavam deixar seus movimentos tão silenciosos quanto a floresta que os observava, situada nos arredores do território das Trevas, mais precisamente a leste da Cidade Capital de Midtreno. Contudo, o homem, claramente exausto, quebrava aquele silêncio sem pedir licença. Ele fugia incansavelmente, até que o fôlego lhe faltou e as pernas não lhe obedeceram. Colocou um dos joelhos no chão e se apoiou na primeira árvore frondosa que conseguiu alcançar.

"Tenho que chegar à Midtreno. Preciso repassar tudo que descobri para alguém de confiança. Mas quem? O Grande Sábio? Sim. Ele é o único de total confiança", pensava o guerreiro no seu breve momento de descanso. Preparou-se então para arrancar com velocidade total, porém um abrupto soco na garganta o levou ao chão. A dor lhe percorreu implacavelmente, a boca se encheu de sangue até que vomitou o líquido quente que lhe dava vida. Tentou erguer-se, mas não conseguiu, sua visão alcançava apenas os pés daquele de quem fugia. As botas negras, sujas de lama e terra, lhe chutaram a face e, então, o turbilhão de pensamentos que entupia a mente do homem perseguido cessou com a voz de seu algoz.

— Vladimir Voltur, um dos Quatro Grandes Mestres das Trevas, totalmente indefeso e sem perspectiva de reação. Eu daria qualquer coisa para estar em seus pensamentos agora, se é que ainda consegue fazer tal coisa.

A voz do algoz de Vladimir era distorcida e parecia estar em uníssono. Vladimir tentou balbuciar algo, mas tudo que conseguiu foi cuspir mais sangue em meio a grunhidos oriundos de sua garganta quase totalmente esmagada.

— Confesso que não tinha a intenção de agir neste momento, mas você tinha que ir mais a fundo, não é? Pensando bem, você era o único capaz de ligar todas as pontas soltas. Você estava no lugar certo, na hora certa. Uma pena, realmente, em nenhum cenário que eu previ você morreria, pelo menos não tão cedo. Este realmente é o seu destino.

"Preciso me levantar", pensou o guerreiro caído. Porém seu corpo não lhe obedecia mais. O Fôlego Espiritual, sua energia vital, fonte de todo o seu poder, estava esvaindo-se rapidamente, resultado da peleja que precedera aquela cena. O assassino implacável pisou em suas costas com uma força descomunal, afundando o corpo de Vladimir no chão. A voz ecoou mais uma vez.

— Confesso que estou decepcionado, você foi a minha vítima mais fraca. Os outros escolhidos mostraram um pouco mais de... Como é que vocês chamam mesmo? Determinação!

Vladimir, que era um Mago excepcional, possuidor de um dos títulos militares mais importantes, sentiu a manifestação do Fôlego Espiritual de seu inimigo. Aquele era o sinal, o fim estava próximo. O seu próprio Fôlego Espiritual já havia se esvaído por completo e não mais lhe protegeria dos ataques de seu inimigo. Então, sentiu um calafrio ao escutar a voz do inimigo sussurrando-lhe.

— Não se preocupe, indefeso Mestre. Em breve, seus amigos e companheiros o visitarão no outro plano. Antes de ceifar sua essência vital, lhe darei um presente em nome do tempo que partilhamos, mostrarei a minha face. A face que você e todos os outros não quiseram ver.

Vladimir teve o corpo virado com um chute e finalmente fitou o seu assassino. Pensou estar enlouquecendo naqueles momentos finais. A visão talvez já não estivesse perfeita. Por fim, aceitou a sua visão e chegou a conclusão que, por mais que manipulasse a magia, jamais a conheceria por completo. Seu algoz estava envolto em vestimentas completamente negras, em seu torso havia correntes que o circundavam e pareciam estender-se pelo resto de seu corpo. Era por demais alto e esguio, possuía quatro braços longos e finos e suas unhas se assemelhavam a garras afiadas. Em seu rosto estavam estampados quatro olhos, brilhando num branco que se destacava perante toda aquela escuridão. Todo o seu Fôlego Espiritual era visível em uma cor violeta, a verdadeira manifestação da Arte das Trevas. Finalmente, Vladimir observou as armas que lhe ceifariam a vida. As quatro adagas longas e curvas, materializadas perante a vontade de seu manipulador, emanavam uma energia imensa.

"Um monstro realmente... Um monstro imparável", foi o seu último pensamento. A seguir, sua vida se esvaiu perante a voracidade das perfurações do assassino das trevas. O monstro continuou seu ataque mesmo depois que sua vítima jazia inerte, tamanha era sua sede de sangue, apenas com a Floresta Silenciosa de testemunha.

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