ESTRATÉGIA

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Roy acordou mais cedo do que costumava, os acontecimentos dos últimos dias ainda lhe perturbavam o juízo; a curiosidade era a pior parte. Desejava saber o quê, afinal, Lizzie tinha em mente para transformar um mero aprendiz de Auror em alguém realmente forte. Rolou de um lado para outro da cama, mas não encontrou o precioso sono e ali permaneceu até o raiar do dia.

As refeições matinais começavam a serem servidas às sete da manhã e a primeira aula de muitos tinha início às sete e meia, com exceção de disciplinas como Resistência Física/Mental e Planejamento Avançado. Logo após seu banho, vestiu roupas leves: uma camiseta branca de mangas curtas e uma calça marrom fina, ideal para treinamentos físicos moderados. Desceu as escadas com um pique que há muito tempo não sentia, cruzou com alunos e professores, que já começavam a dar as caras para um novo dia de aulas, e então se dirigiu ao refeitório.

Sentou-se à mesa com vários colegas de sala, mas não falou com nenhum. Roy era um jovem introvertido. Apesar do jeito bobalhão, falava somente o indispensável e só era verborrágico em situações inoportunas ou com Cassyeg e Vergil, seus colegas de quarto desde que foi acolhido pelo Orfanato Dulaham. Ficou conhecido por características nenhum pouco atrativas: tirava péssimas notas em quase todas as disciplinas e tinha um talento nato para atrasar-se nem que fosse para o mais simples dos compromissos. Engoliu o café da manhã como se fosse o último e partiu para seu encontro com Lizzie.

Era mais um dia ensolarado no território da Luz. O extremo leste do Grande Continente de Gaia era abençoado quase o ano inteiro pela luz do sol, seu clima era substancialmente úmido graças às proximidades com o Oceano de Leviathos, motivo de felicidade para os habitantes daquelas terras. Roy atravessou o portão principal do orfanato e foi em direção ao extremo norte da cidade. Era uma caminhada longa, então, com inusitada velocidade de pensamento, decidiu que pegar uma carruagem seria sua melhor alternativa. O Sistema de Transporte Intracomunitário funcionava de maneira simples e eficaz: existiam ruas específicas onde as carruagens não poderiam executar travessia, dando preferência total aos pedestres, facilitando e dando opções para o fluxo de pessoas. O S.T.I. tinha paradas obrigatórias nas proximidades de vários pontos estratégicos, como hospitais, arenas de batalha, bares famosos e o próprio Castelo Real.

As carruagens eram levadas por um condutor e um homem que ficava encarregado de receber o dinheiro dos passageiros e anunciar as próximas paradas. Eram veículos demasiadamente rápidos quando necessário, graças as bestas mágicas que geralmente os guiavam. Os Corcéis Acinzentados, por exemplo, eram apanhados nas planícies próximas a Cidade Capital do Redemoinho, território da Nação dos Ventos, com a qual a Nação da Luz fazia fronteira e era aliada. Estes corcéis eram conhecidos por cavalgar grandes distâncias à procura de água e alimento, além de serem extremamente velozes. Roy se sentou ao lado de um homem de aparência madura, talvez na casa dos quarenta anos, e percebeu em seu relógio solar de pulso que ainda não passava das nove da manhã. Um milagre, afinal, talvez não se atrasasse para o encontro com Lizzie. Planejou chegar antes das dez e o percurso seria completado antes disso, com toda a certeza.

— Parada da Filial Expresso Giorgini! Se você deseja negociar algum tipo de montaria, esse é o seu lugar! — gritou o homem de cima da carruagem. Alguns poucos desceram e o jovem Auror apenas observou. E assim foi nas paradas seguintes, passou pelo Centro Comercial das Pedras Preciosas, pela Casa da Moeda de Ouro e pelo Coliseu dos Grandiosos até finalmente chegar ao lado do Castelo Real, morada da Guarda Real e da Grande Sábia da Luz.

O Castelo era gigantesco, podia ser avistado por quase toda a extensão da cidade. Possuía duas torres centrais e quatro torres laterais, cercadas por um grande lago artificial dentro de gigantescas paredes. As torres formavam o retângulo que delimitava o Salão Real, local onde a Sábia passava maior parte do tempo. Durante uma excursão do Orfanato, Roy havia visitado o palácio, porém tinha visto muito pouco. Naquele momento percebeu o quão pífio era o seu conhecimento sobre a própria cidade onde morava e lamentou.

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