O dia estava ensolarado na Cidade Capital do Alvorecer. Roy pulou da cama rapidamente ao acordar com os raios de sol fulminando-lhe a face. Percebeu, então, o óbvio. "Estou atrasado, eles já estão me esperando."
Após um momento de reflexão, verificou o quarto ao seu redor. As outras duas camas estavam bem arrumadas e não havia mais ninguém no recinto. Foi quando notou um pequeno pedaço de papel em cima de um dos lençóis bem dobrados.
"Estou esperando você no mesmo lugar de sempre." No fim do lembrete havia duas iniciais, C e V. Com igual velocidade, o jovem de cabelos dourados passou pela porta e desceu vários lances de escada, dando de cara com vários garotos e garotas que aparentavam ter a mesma faixa etária.
— Mais uma vez perdeu a hora.
Alguns poucos murmuravam, outros lhe davam bom dia e a maioria o ignorava, como se já fosse de praxe aquele ritual. Os cômodos da casa eram bem espaçosos, mas Roy se espremia por entre a quantidade de pessoas que estavam pelos corredores. Finalmente, uma voz firme vocifera.
— Roy Hector, onde o senhor pensa que vai?
"Não tenho tempo pra isso. Não agora." O garoto acelerou ainda mais o passo, tentando esquivar-se do embate, porém seus esforços foram em vão. Ao tentar mudar sua direção, deu de encontro com outra figura.
— Acredito que a Irmã Laldene lhe fez uma pergunta.
Já cabisbaixo, o garoto aceitou seu destino. Iria atrasar-se ainda mais.
— Bom dia, Freira Laldene. Bom dia, Diretora Martha.
Um sorriso sem graça escondeu a decepção por não ter conseguido evitar aquela situação.
— Você não respondeu a pergunta.
— Ah! A senhora estava falando comigo.
Tentou esquivar-se agora das palavras, fazendo-se de bobo.
— Existe mais alguém nesses corredores com o nome de Roy Hector? Aliás, existe mais alguém nesses corredores com exceção de nós três?
Roy se deu conta que os corredores já estavam completamente silenciosos, diferentemente de dois minutos atrás. Concluiu que era hora de mais uma das incontáveis aulas que tinha durante a semana. Por fim, respondeu a pergunta.
— Desculpe-me, Diretora Martha. É que eu estava...
— Se bem me lembro, agora é hora de sua aula sobre História das Grandes Nações, não é mesmo? — interrompe a diretora.
— Isso mesmo, Diretora Martha. Eu ia falar a mesma coisa — concorda a outra freira.
Sem saber mais o que fazer, o garoto admitiu a derrota. Jamais chegaria ao compromisso que havia marcado. A Diretora Martha continuou o discurso, pegando-lhe pelo braço e acompanhando-o por um vasto corredor.
— Veja bem, Roy. A Orfanato Dulaham é uma instituição diretamente subsidiada pela Grande Sábia da Luz, Lizzie Leamak, você tem noção do quanto ela gasta para manter esse lugar? Acha que são algumas poucas moedas de ouro? Você acha que nós não temos que dar um retorno? Gostaria de lembrar-lhe que dos mil jovens abrigados aqui, apenas 20% conseguiu manifestar o Fôlego Espiritual. É nossa obrigação oferecer a esta pequena parcela uma educação e treinamento adequados, para que venham a tornar-se Aurores. Por acaso preciso lembrar-lhe das suas notas pífias nos últimos exames?
O garoto ficou sem palavras. Tentava formular em sua mente apenas a desculpa que daria por ter faltado ao compromisso.
— Esses garotos de hoje em dia parecem não importar-se mais com o futuro da Nação — emendou a Freira Laldene, continuando o discurso da Diretora.

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Destined Souls
FantasyHá centenas de anos, antes da obliteração de quase toda a história conhecida, Odin e todos os Deuses caminhavam no plano dos homens sem precisar de um avatar, como nos dias de hoje. Conta-se que, naquela época, a longínqua Bifrost era acessada sem q...