VERDADE

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A ventania lhe atingiu com força e a pele do corpo ameaçou rasgar-se a medida em que pairava sob os ares. Sentiu então uma forte dor na altura da nuca enquanto a escuridão lhe acometia ferozmente. Abriu os olhos com dificuldade ao ouvir os gritos de desespero daqueles que amava, ao mesmo tempo em que uma voz ecoava em sua mente, dizendo sempre as mesmas malditas palavras, "Você sempre estará sozinho." Voltou a si somente quando sentiu a lâmina mágica perpassar-lhe o peito em busca de seu órgão vital.

Vergil despertou abruptamente. "Um pesadelo", constatou o jovem após limpar o suor da testa. Sentou-se na cama e organizou os pensamentos, colocou em ordem tudo que havia acontecido. Após o ataque, ele foi tratado no Hospital Geral e, quando obteve alta, foi realocado para um novo quarto pela diretora Martha em uma ala especial no orfanato. Era procedimento padrão permanecer alguns dias em um quarto único após uma enfermidade ou ferimento de batalha, a fim de descansar um pouco mais, contudo não queria descansar. Lavou o rosto rapidamente e vestiu suas roupas casuais, um calção na altura dos joelhos acompanhado de uma camiseta preta, por cima colocou uma blusa xadrez de mangas compridas e, por último, calçou os tênis pretos com detalhes brancos. Dirigiu-se até a porta e notou um envelope no chão marcado com o selo da Diretora. "Boletim Bimestral e Certificado da Primeira Provação já disponíveis, por favor compareça a diretoria."

Ao sair, pensou em procurar por Cassyeg e Roy, mas não podia encontrá-los ainda. Quando acordou no Hospital Geral foi atualizado de tudo que havia acontecido nos mínimos detalhes, a identidade do seu agressor, o estado de seus amigos, a sua salvadora e uma infinidade de outras coisas. Vergil não estava em paz com a situação. Não se sentia à vontade para encarar seus amigos, estava envergonhado devido a sua derrota rápida no campo de batalha. Era o mais experiente dos três e, mesmo assim, foi inútil perante a investida surpresa. "Você sempre estará sozinho." Aquelas palavras o atormentavam constantemente.

Vergil saiu do prédio, atravessou o jardim e se dirigiu ao bloco das salas de aula. Passou pelos corredores das aulas teóricas, que logicamente estavam vazios naquele horário da manhã, pois as aulas estavam em andamento, cruzou com o zelador, que esfregava veementemente o chão para deixá-lo brilhando, e então galgou alguns lances de escadas, chegando finalmente a área dos professores, um hall que continha as salas que os magistrados usavam para corrigir as provas e onde passavam a parte do dia em que não estavam ministrando as disciplinas.

Caminhou até que ficou em frente a uma porta de marfim, onde uma placa dourada mostrava o nome de Martha Rosworth. Olhou para o lado e cogitou sentar-se em um banco acolchoado com lugar para duas pessoas, mas resolveu acabar logo com aquilo. Ergueu o braço e cerrou o punho para bater na porta e anunciar a sua entrada, mas foi surpreendido. A porta foi aberta e por esta passou Cassyeg, acompanhada por um homem de cabelos já grisalhos.

— Cassyeg... — balbuciou enquanto sorria timidamente.

— Pense bem, senhorita Cassyeg, é uma decisão muito importante. Sua resposta é crucial para seu futuro como Guerreira Elemental, principalmente se desejar seguir carreira militar — interrompeu o homem com tom sério.

— Tudo bem. Decidirei o mais rápido possível e comunicarei a resposta a Diretora Martha. Tenha um bom dia, Ancião Dulaham.

Cassyeg abraçou Vergil ternamente, numa atitude inesperada para o garoto.

— Que bom que você está bem. Tenho que resolver alguns assuntos agora, mas nos encontramos mais tarde, tudo bem? Já encontrei com Roy e combinei tudo. Não se atrase, nos vemos no jantar.

Vergil assentiu com um balançar de cabeça e fez menção de continuar a pequena conversa, mas foi em vão, Dulaham interveio uma vez mais.

— Vamos, Vergil, não tenho o dia todo. Tenho outros alunos para atender.

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