Capítulo 7

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Os dois dias seguintes eram só alegria, fui trabalhar sorrindo, levava bronca da gerente da loja sorrindo, ouvia as babozeiras dos professores da facul sorrindo e ainda tinha sorrisos para dar e vender para o time dos mijões lá de casa. Acho que nem quando eu dei meu primeiro beijo na Carolina Rodrigues na sétima série foi tão bom, tão intenso quanto aquele que dei em Paulo. O pior era a vontade incontrolavel de vê-lo novamente. Teve um dia que eu vi uns adesivos e fiquei pensando se o Paulo ia ou não gostar de grudar no carro dele. Na loja quando chegava roupa nova pensava em separar umas peças para dar pro Paulo, no shopping quando estava almoçando vivia na expectativa de vê-lo chegando e sentando na minha frente com aquele olhar e aquele sorrisinho de lado que ficou marcado em minha memória. Toda vez que o telefone tocava, achava que era ele, quando recebia um torpedo então nem se fale, até correspondência que chegava em casa eu queria pegar primeiro pra não dar brecha de de repente alguém pegar uma carta do Paulo endereçada a mim. Os dias foram se passando e a ausência de torpedos, cartas, ligações, torpedos foram aos poucos fazendo com que a chama da paixão que incendiava meu coração e bombeava fogo pelas minhas veias fossem se extinguindo. Comecei a pensar que ele deveria estar mais feliz ao lado da namorada, fodendo ela em todas as posições que ele sabia, levando ELA para passear, levando ELA para o motel, levando ELA para a casa de praia no final de semana. Me senti traído. Me senti traído sim e foda-se que não havia "nada" entre a gente. E não era pra menos, éramos dois héteros. Tínhamos nossas vidas, ele a namorada dele, e em breve eu teria a minha. Não tinha como haver cobranças.

Mas meu Deus que beijo foi aquele então? Por que ele fez isso comigo? Ele queria me enlouquecer? Ele queria me fazer de palhaço? Pra que deixar alguém com sede se a água que ele tem é para dar de beber a outra pessoa que não eu? Oh céus! Oh que drama...EU ERA UM TROUXA. Deveria ir atrás dele e dar um murro bem no meio do nariz dele, isso sim, era isso que eu deveria fazer pra ele largar mão de fazer os outros de trouxa. Estava querendo me testar pra ver se eu resistia ao beijo dele. E eu falhei. Agora ele devia estar dando risada dizendo "peguei mais um trouxa" ou então concluindo "o Fabio é viadão". Mas e ele? Se eu fosse ele estámbém era. Afinal de contas quem investiu foi ele e não eu. ELE era um viado e não eu. ELE era uma bichinha enrustida e não eu. Idiota, cretino, filho de uma rampeira desgraçada, cadê você? Eu me perguntava. Fiquei com tanto ódio que fiz o que eu achei a coisa mais certa que eu poderia fazer naquele momento: quebrei meu CD do The Cure.

Em casa não havia computador, exceto o lap top do Japa que ele não emprestava para ninguém. Comecei a juntar grana para comprar o meu. Eu tinha um PC na casa dos meus pais, mas eu só utilizava as vezes que eu ia visita-los. Entrava na net só na facul ou quando me dava na loca de ir em uma lan house. Fiz um Orkut, um MSN fake, comecei a entrar em Chats da UOL. Me fazia bem ouvir elogios das pessoas mesmo que fosse no mundo virtual. Sim, porque no mundo real eu tinha um papel a desempenhar. Eu tinha que honrar o que havia entre as minhas pernas, como um dia eu ouvi alguém dizer para mim. Eu tinha que afastar completamente a possibilidade de alguém sequer desconfiar que algum dia eu estive com os meus lábios na boca de outro cara, com uma rola então...nem sob tortura. A pior coisa que fiz em toda a minha vida foi ter aberto o jogo para o Daniel. Ele não sabia de detalhes, mas sabia que houve um affair entre eu e Paulo. Se não fosse por isso creio que ele não teria se sentido tão íntimo quanto ele achava que era. Não demonstraria tanto ciúmes como demonstrava de vez em quando, mesmo sem querer. Mas ele era um cara super gente fina. Se ele tivesse chegado antes do Paulo...até poderia dar certo, quem sabe? Acho que eu já estava pensando merda demais. Se pensar em Paulo já doía e feria o lado másculo de minha personalidade, imaginar um envolvimento com dois homens diferentes afe maria...mas havia um envolvimento e aquilo não podia ser mudado. Eu tinha dado a minha rola para o Daniel chupar. Eu tinha alimentado uma falsa esperança dentro dele.

Chegou sexta-feira, e eu não estava in love. Era o dia que precedia o churrasco na chácara em Rio Grande da Serra. Eu não queria e nem ia ficar na fossa com uma puta oportunidade como aquela para eu sair e espairecer um pouco a cabeça. O que rolou entre eu e o Paulo há quase uma semana atrás era passado. Foi um segundo deslize, pronto. Na próxima vez que pintasse a oportunidade mandaria ele tomar no cu e sairia ileso dessa porra de história.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora