Epílogo

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Bati a quina esquerda do meu carro em um corsinha preto que estava vindo de frente. Tinha que ser um Corsa! Furei o farol vermelho e tomei no cu. Graças a Deus não aconteceu nada comigo e nem com o cara que estava no outro carro. Mas a gente teve que descer, tive que aturar a cara de cu do cara, liguei pro meu pai super nervoso, não sabia nem o que falar. Meu pai teve que pegar uma carona com o vizinho e foi me encontrar. Minha mãe veio junto com a roupa que estava. Ligamos pro seguro e foi aquele bla bla bla. Só sei que fui chegar em casa eram 4 horas da manhã sendo xingado por meu pai de irresponsável e ouvindo promessas de que eu nunca mais pegaria no carro. Sorte que eu não tinha bebido uma gota de álcool. Mas foi a primeira e única vez que bati um carro na minha vida. Ficou caro pra porra o conserto dos carros. Sorte que tínhamos seguro. Aquela noite eu não dormi. Além de pensar no que eu tinha visto na balada, a cena da batida se repetia inúmeras vezes na minha mente. Horrível. Não desejo que ninguém passe por isso.

No domingo tive que conversar com a Tábata, expliquei sobre a batida, óbvio que eu não disse que tinha ido no aniversário da Dani. Ela ficou sentida e pediu pro pai dela levá-la em casa. Ficamos juntos, meu pai contou pra ela como tinha acontecido e ao invés de ficar com raiva, ficou compadecida ao me ver naquele estado emocional. Eu estava muito mal. No final da noite de domingo começou a me dar febre e dor de cabeça. Tive que tomar remédio, mas eu sabia que o cunho era emocional. Mas não tinha o que ser feito, eu teria que esperar aquele sapo descer pela garganta e levar minha vida normalmente, como deveria ter feito desde sempre.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac

Na segunda eu não fui trabalhar e acabei ficando de cama. Tábata me ligava de uma em uma hora. Estava me irritando esse cuidado todo que ela estava tendo comigo. Mas eu tinha pisado tão grande na bola com ela que não era justo deixá-la de escanteio naquele momento. O que eu mais queria era desaparecer da face da Terra.

Na terça-feira tive que ir trabalhar e o meu dia foi péssimo. Cobrei errado o preço de uma calça, tive problemas com uma cliente (discutimos sobre o valor das peças) e ainda por cima eu estava com uma expressão de doente que Deus me livre.

Eu não tinha vontade de comer, de tomar banho, de nada. Fazia as coisas automaticamente, porque tinha que fazer. Dentro de mim aquele relógio maldito continuava no seu tic-tac interminável. Realmente os momentos ruins demoravam muito a passar...

Quando estava saindo da loja depois do meu pior dia de serviço da minha vida, eis que me aparece a pessoa mais indesejada no momento.

— E ae Paulo. — Eu disse.

— Tudo bem, Cabeção? — Ele perguntou trocando cumprimentos.

Já não bastasse aquela cena terrível pela qual me fez passar na balada, agora ele estava ali, fazendo o que?

— Tudo. — Respondi, bem seco.

— Eu precisava te ver, cara. Eu achei melhor deixar o tempo passar, você estava mó nervosão no sábado. — Ele se justificou.

— Fala o que que ce qué. — Eu respondi.

— Quero saber como você está, Cabeção!

— Como você acha? — Eu disse olhando pra ele com a pior cara dos últimos tempos.

— Cara, entre eu e o Daniel foi um lance...

— Lance, lance, lance... — Eu cortei ele, irritado — Tudo pra você se resume a lance, Paulo! Cacete, meu!

— Nossa véi, o que foi que te deu? — A gente parou de andar e eu encostei numa das pilastras espalhadas pelos corredores do shopping.

— Nada, véi. — Eu respondi respirando fundo. A vontade que eu estava tendo era de mandar ele pro inferno.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora