Capítulo 24

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Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac 

O tempo passava tão devagar naquela época. Talvez essa seja a razão de eu lembrar de tantas coisas como se tivessem acontecido há pouco.

A maioria de nós consegue lembrar do primeiro beijo, da primeira vez com alguém na cama, do primeiro amor. Minha vida teve alguns momentos que foram verdadeiros divisores de água. A primeira balada GLS, o primeiro beijo em um cueca, o desejo pelo corpo de alguém, o jogo da conquista, de alguém que te cativa pouco a pouco são coisas inesquecíveis.

Eu conseguia ouvir o tic tac do relógio da minha vida me cobrando uma decisão da pendência que estava em aberto.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac

O tempo se torna inimigo quando queremos resolver alguma coisa rapidamente. Segui o caminho que eu sabia que daria na boate que a Dani me disse que comemoraria o aniversário dela. Talvez nem o Paulo, nem o Daniel estivessem lá, mas eu precisava fazer aquilo. Não por eles, por mim. Depois que eu falasse o que eu queria, eu podia ir embora, podia voltar para a minha vida hétero novamente. Se é que conseguiria. Eu não queria largar a Tábata. Mas não sei como minha situação ficaria se eu deixasse ela na mão no dia do nosso aniversário de namoro. Parei no farol. Se eu virasse para a direita eu iria na direção da casa dela. Se eu virasse para a esquerda, iria para o aniversário da Dani. Naquele momento me bateu uma dúvida. Será que eu estava tomando a decisão certa?

"Anda logo moleque, vire a direita e vá para a casa da tua mina. Ela está arrumada lá, porra! Vai deixar a mina na mão pra ir numa balada onde você nem sabe se os cuecas estão lá mesmo? E se a pessoa que você quer ver não estiver lá? Como vai ser? Além de ter deixado a tua mina na mão, vai gastar gasosa e dinheiro da entrada a toa? Além do mais, você não tem mais 15 aninhos né, Fabião! Acorda, caralho! Se é vontade de sentar em algo duro, senta ae no câmbio, Mané! Vai ver sua mina, cara! Ela está te esperando, seria muita filha da putice da sua parte deixar ela na mão! Mas que porra, caralho! Porque você não põe a mão aqui na sua consciência, seu merda! Pra que ce tem consciência? Isso aqui deveria se chamar fossa! Tu só pensa merda, meu! Pronto, o farol ficou verde e aí? O que ce vai fazer, seu puto?"

Respirei fundo. Olhei para a direita e vi o caminho que eu tinha que fazer pra ir pra casa da Tábata. Mas eu meti a mão na seta e acelerei. Segui para a esquerda. Foda-se a minha consciência.

Eu tinha que ir naquele aniversário. Acelerei e fui. Segui meus instintos porque onde a balada ficava eu não sabia. Decidi ligar pra Dani. Liguei três vezes e três vezes só chamou. O celular devia estar na bolsa e por conta do som alto não estava ouvindo. Caralho! Eu sabia que a merda da casa ficava em Pinheiros, mas em que lugar? Fui até a Av. Cardeal Arcoverde e comecei a parar e perguntar nas bancas de jornais e para os pedestres. Alguns me explicavam mais ou menos, mas nenhum me passava confiança. Quando eu parei no farol. Um carro cheio de viados parou do lado. Fechei os vidros. Fiquei escondidinho. Eu tinha que ser um espião. Se a balada fosse por ali, provavelmente aquele bando de viados estavam indo para lá. O farol abriu e eu deixei eles irem na frente. Dei seta, e entrei na faixa atrás deles. 007 na veia, mano! Segui os caras. Eles viraram na Simão Alves e logo lá embaixo viraram na rua dos Pinheiros. Comecei a achar que estava fazendo papel de idiota. Talvez aqueles caras nem estivessem indo para a balada. Desisti de seguir os caras. Dei seta e ultrapassei. Do lado esquerdo eu vi uma casa, na fachada estava escrito: BUBU LOUNGE.

Freei na hora e fiquei parado por alguns instantes no meio da via. Meu coração disparou. Buzinas soaram e comecei a procurar um lugar para estacionar. Perdi um tempão procurando uma vaga. Meu celular estava tocando. No visor eu lia: TÁBATA CHAMANDO. Derrubei a ligação. Já tinham três ligações dela. Talvez com uma desculpa esfarrapada eu conseguiria o perdão dela. Respirei fundo e realmente achei que o melhor que eu deveria fazer era voltar, me encontrar com a Tábata e parar com aquela loucura que eu estava fazendo. Era a coisa mais sensata a fazer. Pois bem, se essa era a coisa mais sensata, óbvio que eu não fiz. Desliguei o celular e o coloquei no bolso. Fui para a fila na frente da casa. Eu ia entrar de qualquer jeito.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora