Capítulo 10

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Passou um tempo. Semanas... o mês acabou e começou outro e tudo continuou na mesma. Paulo? Que Paulo? O cara sumiu. Nunca mais o vi on line, nunca mais recebi ligação, nem torpedo, nem carta, nem presente, nem pica nenhuma. Todo mundo de casa começou a se organizar as escondidas para a tal festa de despedida do Negão. Pelo visto o lance ia ser grande.

Pense, um monte de cueca morando junto em uma casa. A festa tinha que ser praticamente um Rock in Rio. A quantidade de cerveja que o Alemão estava pensando em comprar dava para encher uma piscina olímpica. E "muié"? Nossa, até as putas de Santo André acho que foram convidadas. Seria uma festa de arromba. Mas eu nem estava participando muito. O Japa e o Alemão estavam mais animados. O Daniel só dava atenção pra mina dele e eu - nó cego - continuava na merda. Até beijava mina em balada as vezes que eu saía, mas nada me agradava. Beijava por que as minas ficavam com aquele olhar de "mete a rola no meu cu porque minha buceta é virgem". Esse olhar pra ser mais específico é o olhar de vadia que todas as minas fazem quando estão afim de um cara que não está dando bola pra elas. No sábado a tarde levei uma mina que conheci no shopping pra casa e no rala e rola acabamos transando. Samanta era o nome dela. Moreninha, pá. Foi legal. Foi necessário. Se não fosse com a Samanta meteria a rola no rabo de um cachorro, de uma pomba, na parede até fazer um buraco, sei lá. Estava foda, caros leitores.

Quando finalmente chegou a penúltima semana de aula, meados de novembro, a coisa apertou pro meu lado. Uma mina da loja tinha sido mandada embora e eu fiquei com o cu na mão de ser despedido também. Comecei a chegar 10 minutinhos mais cedo. Fazia extra sem pedirem. Um funcionário exemplar. Enquanto na facul...humm...as coisas iam de mal a pior. Com a nota que tinha tirado na prova do Professor Marcelo com certeza estaria de DP e minha mãe mandaria me capar. Estava fodido. Tentei convencer o professor de me dar mais uma chance e ele se mantinha irredutível. Acho que ele gostava de ver os alunos suplicando por sua misericórdia. Eu fui lá pedir, não ia me rebaixar. Eu deveria ter estudado mais e tal, entendia isso....assim como ele iria entender que de um dia para o outro os carros dos professores apareciam todos riscados no estacionamento. Se ele nem quisesse me ouvir além de riscar eu levaria uma faca de casa e faria um estrago no pneu do filha da puta. Pensei um imonte de merda sabendo que eu não teria coragem de fazer porra nenhuma. Mas uma coisa eu não ia fazer, implorar.

— Fala, Fabio. De novo esse papo? — O professor perguntou quando eu o parei novamente em um dos corredores.

— Eu te imploro, Fessor! Dá mais uma chance pra mim. Não posso ficar de DP na sua matéria.

Ele sempre repetindo "não, não, não, não". Fui até o carro dele enchendo seu saco. Ganharia ele pelo cansaço. Foi quando ele disse:

— Fabio, eu tenho que entregar essas notas depois de amanhã. Nem tempo pra fazer uma nova prova pra você eu teria, meu caro. Sinto muito. Você teve a mesma oportunidade que todos da sua sala. Quantas vezes eu cheguei e o Sr. não estava lá? Quantas vezes você, a Roberta, o Luiz, o Amaral e o Bruno não mataram minha aula?

Fiquei puto.

— Minha mãe vai me matar. — Pensei alto.

— Parece um moleque de quinta série falando assim. — Ele disse abrindo a porta do carro e jogando no banco do passageiro uma maleta que carregava.

Continuei parado na frente do automóvel. Com minha cara de pidão. Por fim, perguntei:

— Não tem nada mesmo que eu possa fazer, Fessor?

Ele segurou o olhar em mim. Um pé dentro e o outro fora do carro, segurando a porta. Silêncio. Um olhando no olho do outro. Me mantive firme. Ele não agüentou. Arregou. Olhou para os lados e me disse:

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora