Este Sou Eu, Esta é Você

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Allister estava sentado na proa do navio, sozinho. Era assim que passava a maior parte de seus dias desde que Leonor caíra num torpor profundo: se arrastando pelo Argonauta durante o dia, bebendo desenfreadamente até desmaiar ou velando o sono da amada durante a noite, rezando sem parar. Os homens sentiam pena da condição atual do outrora tão imponente capitão, mas nada ousavam falar temendo provocar-lhe um acesso de fúria. Jason até tentara encorajar o jovem amigo com palavras positivas, mas só obtia monossílabos em resposta. Aquela noite as luzes de Porto Norma mal podiam ser vistas de muito longe através da neblina densa. O mar estava calmo, quase um espelho. Ele Levantou-se e atirou longe a garrafa vazia que segurava e cambaleou até sua cabine. Entrou tropeçando nos estilhaços de tudo o que já havia quebrado lá dentro e deitou-se do lado da alheia Leonor, acariciando seu rosto pacífico antes de cair em coma alcoólico mais uma vez.
Acordou com uma terrível dor de cabeça, o teto rodopiava como a roda de uma carroça desenfreada. Esfregou o rosto tentando fazer aquela sensação maldita parar e virou-se para Leonor. Os olhos dela estavam muito abertos, como era costume antes de seu desfalecimento.
-Leonor, meu anjo! Você acordou!!! - ele saltou da cama, excitado. - MEU DEUS! Você não sabe como nos preocupou. Como ME preocupou... - pousou um beijo na testa dela. - Eu pensei que fosse morrer sem você e... Leonor, tudo bem? - ela estava imóvel. O coração de Allister acelerou de preocupação. Teria a moça virado um vegetal?
-...sim, estou bem. - ela disse finalmente. - É que, seus olhos. São os mais lindos que já vi. Da cor do sol quando se põe...
Ele ficou paralisado.
- Você pode me ver?
- Claro como a luz do dia. E você é perfeito... - ela abriu um sorriso, expondo os dentes pequenos e alinhados.
Ele a abraçou com ternura.
- Você pode ver, meu amor! Pode ver... - ele acariciou o rosto dela. - Mas... Como? Quando?
Ela sentou-se.
Eu não sei explicar. Senti um incômodo nas vistas e abri os olhos. Era a claridade da luz da manhã batendo em minhas pálpebras. Eu achei incrível! Queria gritar para todos ouvirem "eu posso enxergar"! Mas aí... aí eu vi algo que tomou toda minha atenção. - ela beijou o rosto de Allister. Um anjo dormindo tranquilamente a meu lado, os cabelos tão loiros espalhados pelo travesseiro...me distraí!
Allister corou.
Leonor provocava nele reações que julgava ser incapaz de sentir.
Segurou a nuca dela e a beijou com volúpia. Sua princesa agora poderia absorver seu amor com todos os sentidos.
Desceu seus lábios pelo pescoço e ombros delicados enquanto traçava com o polegar a boca pequena e bem feita. Soltou um gemido gutural ao sentir que Leonor lhe sugava o dedo, estimulando-o. Ela o encarava com fogo no olhar, incitando Allister a continuar.
Ela deitou novamente na cama e esticou a perna, levando o pé até a parte mais sensível do corpo dele, acariciando mostrando que o queria.
- Allister...eu te quero, com força...
Ele soltou um barulho indefinido, quase como um animal e rasgou o tecido da camisa de dormir, expondo o corpo alvo dela.
Numa questão de segundos os dois eram um emaranhado de mãos, lábios e línguas. Explorando-se mutuamente, excitando um ao outro, sem nenhum pudor. Ele a possuiu na cama, sobre a mesa, apoiada na parede, no chão...cada centímetro do quarto era deles para compartilharem seu prazer selvagem.

Somente no início da tarde os dois saíram para o convés. Todos ficaram surpresos e muito felizes em perceber que Leonor estava bem e voltara a enxergar. Ela desculpou-se dizendo que precisava ir a terra, dar uma olhada pelas ruas afim de tentar descobrir algo sobre sua origem, mas prometeu que logo estaria de volta para dar atenção a todos.

Allister a acompanhou, silencioso. Deixava transparecer sem vergonha que a situação o entristecia muito. Eles passaram por todo comércio com prédios de dois andares em estilo colonial, perguntaram pelas feiras e até a alguns criados, mas ninguém fazia ideia de quem ela era. Já estavam exaustos quando decidiram sentar num banco de uma pequena pracinha. O vento estava fresco e o lugar fervilhava no final da tarde, com pessoas carregando suas compras pra cima e para baixo. No centro da área uma pequena fonte de mármore deixava escorrer fios de água, produzindo um som relaxante. Allister percebeu que Leonor observava fixamente a peça de decoração enquanto segurava firme o medalhão que trazia no pescoço.
- É bonita, não é mesmo? - ele passou o braço em volta dos ombros dela.
- Eu...eu nunca estive aqui Allister... - ela sussurrou, roboticamente.
- Lembrou-se de algo? Como assim? O medalhão, o retrato...?! - ele forçou para que Leonor virasse de frente para ele.
- Meu pai...este é meu pai, Allister! Evan Grey! - baixou o olhar para a jóia - Ele enviou isso de presente para minha mãe assim que eu nasci. Ele foi...Ele foi obrigado a separar-se dela, deixá-la em casa no estágio final da gravidez, veio a Porto Norma ajudar a suprimir uma rebelião e...enviou junto um desenho desta praça... - seus olhos se encheram de lágrimas. - Ele morreu pouco tempo depois, assassinado durante a rebelião. Não tive chance de conhecê-lo...
- Vamos meu amor, você consegue! Lembra-se de algo mais? - Ele tomou-se o rosto entre as mãos, secando suas lágrimas com os polegares.
- Minhã mãe, Helena, sucumbiu ao tifo alguns anos mais tarde...morávamos na casa de minha tia Mary, cedida por meu pai...Minha tia também a seguiu logo depois...Foi horrível! Muitas pessoas da ilha ficaram doentes...eu e também meu primo...- Ela apertou os olhos, forçando a memória ao máximo. - Conseguimos nos salvar...
- E que ilha era essa, consegue lembrar?
Ela massageou as têmporas, concentrando-se.
- Não. Não consigo... só sei que muitos morreram...
Allister Levantou-se em um pulo, assustando-a.
- Jason...Ele com certeza saberá alguma coisa. Já navegou muito por estes mares, certamente saberá dizer que ilha é essa que teve um surto de tifo a alguns anos atrás! - Ele a puxou pela mão. - Vamos voltar para a nau, imediatamente!

Do Mar(FINALIZADO - Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora