Capítulo 2

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Os empregados estavam correndo de um lado para o outro para deixar a mansão do jeito que Robbin ordenou. Tudo perfeitamente organizado. A sala que receberia os convidados estava bem ornamentada. Para o jantar foram contratados um renomado chef de cozinha e alguns garçons. Harry não se importava com nada disso, pra ele tanto  fazia se tivesse ou não festa, ele queria mesmo era sair um pouco dali, nem que fosse por uma noite.

Antes de subirem as escadas para os quartos os garotos ouviram a voz de Anne:
-Queridos, se arrumem para mais tarde, receberemos alguns colegas do pais de vocês. -A mulher estava ansiosa e Harry percebeu que alguma coisa havia mudado na mãe.
-Cadê o nosso pai, ele não deveria já estar aqui? E essa festa, é mesmo necessário que eu esteja presente? -Harry soou irônico, mas Anne não se abalou.
-Ele logo estará em casa, e sim, vocês precisam estar conosco, é um momento único para o nosso doutor! -Anne deu um risinho tentando animar os filhos, principalmente Harry.
-Tio Morgan virá mãe? Tenho saudades dele, ele me traz presentes, ao contrário do papai -Gemma mudou o sorriso estampado no rosto de pêssego que possuía, para uma tristeza comovente.
-Oh minha princesa, seu pai trabalha muito, tem tantas preocupações, ele se preocupa em trazer o melhor para nós todos, e há muitas pessoas que necessitam da ajuda dele -A esposa sempre buscava a paz naquela casa e faria o que preciso fosse para mudar a dureza do marido. -Agora subam rápido, assim como vocês vou me arrumar em instantes.
Os garotos foram para seus respectivos quartos, passando pelos corredores largos, longos e frios que Thobias e Gemma não se sentiam bem em cruzar sozinhos por ali, um com o outro sempre.
A noite só estava começando e Harry sabia que poderia escapar dos pais e evitar mais uma festa que ele considerava uma droga.
Entrar naquele quarto frio do garoto  era como entrar em uma geledaira, ele não gostava daquele lugar, havia tantos calçados, roupas, arromas de perfumes que se misturavam.
Harry decidiu tomar um banho e em seguida desceria para tentar convencer a mãe a deixá-lo sair. Queria mesmo era encontrar com os amigos e esquecer sua rotina costumeira.

Robbin havia acabado de adentrar a mansão e Anne começou a aplaudi-lo animada e não poderia perder a chance de sussurar em seu ouvido.
-Você é um grande homem e um marido maravolhoso. Sou sua fã.
O homem estava em êxtase, depositou a mala no sofá e acariciou o rosto da esposa.
-A partir de agora a nossa vida começará a mudar, tudo ficará bem -Aquelas palavras foram tão boas para ela.
-Eu preciso disso Robbin, não sei até quando vou suportar -De repente Anne gesticulou baixinho. -Te amo.
-Te amarei pra sempre Anne, não importa o que aconteça -O médico segurou as suas mãos, as beijou e agradeceu o amor da mulher por ele.
Nesse momento os irmãos mais novos e inseparáveis, Gemma e Thobias, desceram rapidamente as escadas e parraram em frente aos pais. Os dois mais pareciam bonecos enfeitados e pela primeira vez em anos Robbin olhara para os filhos com afeto. Talvez pela conversa acalorada com a esposa, aquilo teria tocado seu coração, ainda que por alguns instantes.
Antes de encarar os pais na sala de festas, Harry deu uma última olhada no espelho impecável em seu quarto. Analisou seu rosto jovial e a barba por fazer. Ao pensar em Anne, uma luz pareceu lhe acender na cabeça e lembrou do lugar onde ela trabalhara, um prédio de quinze andares no centro de Los Angeles. Era o emprego perfeito, desenhar joias não era pra qualquer um. Lembrou também do dia em que ela chegou em casa, ele ainda era pequeno e ela estava grávida de Thobias e falou que o chefe e os colegas eram os melhores e que não poderia ter encontrado emprego melhor. À época eles ainda moravam na periferia de Washington e Robbin tinha acabado de concluir os estudos na universidade. Harry sentia um profundo desânimo com as privações do pai, mas sempre ousava desobedecê-lo, e às vezes se culpava por não ter incentivado a mãe a continuar no emprego, quando ela ainda escutava seus conselhos. Ao certo nunca foi especificado o real motivo de sua reclusão naquela suntuosa mansão. Sem dúvida havia algo a mais a ser revelado e como todo adolescente curioso e insistente, ele iria atrás para desvendar qualquer segredo que houvesse no caminho. Escondeu uma mochila com roupas debaixo da cama e saiu do quarto bem vestido, ninguém poderia dizer que Harry é um tanto desorganizado. Ao topo da escada assistiu a mãe ajeitando os irmãos, se aproximou e começou a falar em um tom cordial.
-Como estou? -Virando-se para que eles vêssem.
-Lindo, maravilhoso, como sempre. -Anne era pura alegria.
-Todos nós somos -Gemma ficou com uma ponta de ciúmes da mãe e o irmão enquanto Thobias nem se importava, queria mesmo era brincar com alguém que pudesse vir naquela celebração. Já estava quase na hora. Harry acompanhava ansioso as horas no relógio, deduziu que a mãe e o pai não lhe dariam muita atenção.  Pensou então em ligar para Liam e contar o que pretendia fazer naquela noite. O garoto tinha um plano, e estava decidido, ninguém perceberia sua saída.

Anne e Robbin começavam a receber os primeiros convidados no salão localizado nos fundos da mansão e de lá não seria possível ver o portão, melhor assim pensou Harry. Todos estariam atentou ao pai dele que mostraria mais uma de suas descobertas na área médica. Naquele momento, passando um pouco das oito da noite, pegou o celular e buscou o contato do melhor amigo.
-Liam, é o seguinte, daqui a pouco estarei aí, meus pais não concordaram muito bem, mas vou igual -Harry sabia que Liam iria repreendê-lo pela desobediência, mas preferiu esclarecer tudo pessoalmente.
-Cara, não quero ficar de mal com seus pais, se você pisar na bola depois vai acabar sobrando pra mim -Liam foi categorico, com a voz firme e clara de sempre.
-Daqui quinze minutos chego aí -E desligou o celular. Era o único na sala de estar na casa e atravessou a mansão para falar com Anne.
Tio Morgan já havia chegado e apontando para o sobrinho com seu jeito descontraído, disse que queria conversar com ele mais tarde. Harry foi mais rápido e fingiu um mal estar para poder ficar no quarto sozinho. Seu tio não se importou e disse que seria rápido e o seguiu até o quarto.
Harry via no tio o que não conseguia encontrar no pai, um sujeito mais humano e parceiro dele e dos irmãos. Ouvir Morgan era um aprendizado a mais, aquele homem era especialista em remédios e chás. O segundo médico da família, em quem todos confiavam e adoravam.
-Ei rapaz, como andam as coisas por aqui? -Morgan realmente se preocupava com aquela família.
-Tudo do mesmo jeito, minha mãe sempre submissa ao meu pai. Ela não é mais a mesma tio, ele grita conosco, mas ela é a única pessoa que ele nunca diria nada, eu não entendo isso-Harry queria colocar todas as angústias para fora e aquele era um momento propício.
-Eu entendo você, perfeitamente. Robbin sempre foi assim, durão, fechado para quase todos -O farmacêutico tentava remediar a situação, mas sabia que o motivo pelo qual o irmão era tão solícito e amável com a esposa e um carrasco com o resto do mundo. Para Harry aquilo continuava sem uma explicação descente.

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